Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Durante o Cenozóico, especificamente no período Terciário, após um ciclo erosivo de grande intensividade da formação precedente, houve a conformação da Formação Barreiras, justamente entre os períodos Mioceno e Plioceno. Esta formação é de fundamental importância para toda a compreensão analítica dos intervalos lito-estratigráficos a se configurarem a partir deste período de sedimentação, já que é responsável pela configuração geológico-geomorfológica que “forma falésias na costa e bancos nas margens dos rios costeiros” (PETRI; FÚLFARO,1983, p. 413). Constata-se, pois, que grande parte das áreas ocupadas, destinadas à habitação e a outros tipos de uso, da Ilha do Maranhão se assenta imediatamente sobre esta denominação geológica.
Ademais, “[...] os sedimentos Barreiras foram depositados em condições predominantemente fluviais (...), associados a planícies de inundação [...]” (PETRI; FÚLFARO, 1983, p. 441), mas que, segundo Costa et al. (1993 apud SUGUIO, 2001, p. 297-298), se configurou também a deposição de tais sedimentos em ambiente sub-litorâneo raso, ou seja, em ambientes de plataforma continental interna. É desse “pacote sedimentar” que se extraem argila e concreções ferruginosas para a construção civil; os principais pontos de extração estão situados nos povoados de Cajupe, Maracanã e Vila Maranhão (no município de São Luís) e Santana (São José de Ribamar).
Convém, ainda, mencionar que os sedimentos Barreiras são aqueles mais propensos aos diversos tipos de intemperismo e erosão em toda a Ilha, dadas suas características litológicas de rochas mal selecionadas e mal consolidadas, sendo factualmente perceptíveis pela presença das voçorocas existentes nos sopés das falésias do Farol de São Marcos, na praia do Araçagi, em Panaquatira (em processo de desenvolvimento), no Povoado de Santana e no Parque do Bacanga, apenas para serem citados alguns exemplos.
Para se falar em Quaternário, convém mencionar que se trata do segundo período geológico da Era Cenozóica, tendo início há mais ou menos 1,5 M.A. (Milhão – ou milhões – de Anos), conforme afirmam Dias (2004) e Dias e Ferreira (2004, p. 206). Tal fase histórico-geológica está subdivida em duas épocas: o Pleistoceno, que varia de mais ou menos 1,5 M.A. a algo em torno de 12.700 A.P (lê-se: doze mil e setecentos anos antes do presente), em se pontua o começo do Holoceno, que se desenvolve até os dias atuais.
As variações climáticas e morfológicas quaternárias têm origem, em especial, nos fenômenos glaciares globais ocorridos durante este “breve” tempo geológico. Em se tratando de aspectos morfológicos, o que Penteado (1983), Christofoletti (1980, p. 142-146) e Ab’Sáber (2003a, p. 45) afirmam é que ocorreram flutuações significativas do nível do mar, a partir do início do Pleistoceno Superior, caracterizando processos eustáticos ora transgressivos, ora regressivos, indicando diferenciações em dinâmicas de intemperismo, erosão e sedimentação (agradação ou retrogradação) da costa, do litoral (in stricto sensu) e mesmo da própria plataforma continental.
Foi justamente no último significativo episódio transgressivo, iniciado a partir de 12.700 A.P. (antes do presente), conforme ressalta Ab’Sáber (2003a, 2003b e 2004a), que as condições climáticas regionais passaram por grandes variações e as florestas perenifólias amazônicas passaram a se expandir, tomando o lugar dos enclaves de cerrados e caatingas expandidos entre 23.000 e 12.700 A.P., migrando, inclusive para a porção continental que seria futuramente insulada (no último máximo transgressivo, há 5.500 A.P.), formando a Ilha do Maranhão. Este fato é confirmado pela presença de testemunhos daquela formação florestal no Parque Estadual do Bacanga, na Avenida Jerônimo de Albuquerque (entre os conjuntos habitacionais Cohama e Vinhais, na reserva particular La Belle Parq) e na Área de Proteção Ambiental (APA) do Itapiracó, para serem citados alguns exemplos.
Ademais, há que se aportar, ainda, ao contexto de que todas as paisagens litorâneas e costeiras observadas na Ilha do Maranhão datam do Quaternário Superior (Formação Açuí), sendo de idade holocênica, na qual se processaram variações consideravelmente abruptas de configuração geomorfológica, já que o nível dos mares no último episódio transgressivo se eleva de –100 metros (com relação ao nível de base atual) a + 3,5 metros (isto entre 12.700 e 5.500 anos A.P.), fato este que (re) configura as unidades paisagísticas regionais e individualização do Golfão Maranhense, caracterizando-o como um vasto e complexo sistema ambiental estuarino de notável hidrodinâmica regional, com amplitudes chegando a alcançar, em média, 6,0 metros (podendo, episodicamente, atingir os 7,2 metros).
Ademais, há o surgimento de faixas de restingas e campos de dunas (AB’SÁBER, 2004, p. 98), denotando em processos de agradação da linha de costa pelo acúmulo sedimentar, fato responsável, por exemplo, pela morfogênese da Ilha de Curupu, situada no município de Raposa (ao Norte da Ilha do Maranhão), além do surgimento da faixa de praias e de zonas de domínios de mangues (planícies litorâneas).
Ocorreu, ainda, o afogamento de vales dos cursos inferiores de rios nas proximidades de seus estuários e configuração da faixa litorânea da Ilha do Maranhão e do Golfão Maranhense (entre 5.500 anos e 2.500 anos A.P.), com suas principais feições morfológicas: igarapés; estuários; pontais rochosos; depósitos de tálus; acúmulo de rochas em declives abruptos e rochosos; falésias (pontos de grande altitude, em se tratando das médias do Golfão); planícies de marés lamosa e arenosa; praias; dunas; ambientes dominados por mangues, marismas e vegetação de restinga (em paleodunas); bancos e cordões arenosos; restingas; enseadas; baías; tabuleiros sedimentares e colinas dissecadas. Ante o exposto, pode-se verificar que houve uma alteração generalizada dos caracteres paisagísticos no decorrer do Holoceno, evidenciados no lócus pesquisado.
Concluindo, houve configurações heterogêneas de paisagens sobre o mesmo ambiente, uma vez que as variações de agentes morfoesculturantes no contexto, principalmente no que tange às escalas climáticas regionais e mesmo macrorregionais, em que se sobrepunham, durante o Quaternário Superior, climas ora semi-áridos (entre 23.000 e 12.700 A.P., inferindo-se a partir de dados conceituais presentes em AB’SÁBER, 1971 e 2003b), ora sub-úmidos (12.700 A.P. e 9.000 A.P.), ora úmidos (9.000 A.P. até os presentes dias), responsáveis por formações fitogeográficas de caatinga, cerrados e de ambientes florestais e palustres (ou pantanoso), respectivamente.
Foi durante o primeiro evento climático, o de domínio semi-árido, que se processou um intenso período de pedimentação1 (AB’SÁBER, 1971, 2003b), em especial da faixa costeira brasileira. Tal processo derivou superfícies colinosas tabulares, levemente onduladas, caracterizando os Terraços de Tabuleiros Centrais com Colinas Dissecadas (DIAS, 2004, p. 82; DIAS; FERREIRA, 2004, p. 198), o entalhamento de drenagens da rede hidrográfica da Ilha do Maranhão (outrora estendida pela atual plataforma continental, em período eustático regressivo), a configuração das encostas fluviais e dos terraços inferiores (correspondentes às planícies de inundação dos rios), bem como de superfícies de descontinuidades planialtimétrica, que culminam nos pontos mais altos das falésias, que futuramente serviriam de substrato litológico e estrutural para o assentamento das superfícies de acumulação marinha holocênicas, caracterizadas pelas planícies de maré ou, biologicamente, as zonas intertidais (praias e vasas de manguezais ou pântanos salinos).
REFERÊNCIAS
______. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159 p.
______. Campos de dunas brasileiros. Scientific American, Ano 02, Nº. 22. São Paulo: Duetto Editora, mar. 2004. p. 98.