sábado, 26 de dezembro de 2009

SÍNTESE DA EVOLUÇÃO GEOAMBIENTAL DA ILHA DO MARANHÃO

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
A Ilha do Maranhão se localiza numa feição geológico-geomorfológica denominada de Golfão Maranhense, sendo esta uma articulação regional da costa brasileira caracterizada por ser um grande e complexo sistema estuarino, destacando-se as baías de São Marcos e São José (a Oeste e Leste da Ilha, respectivamente). Assenta-se a Ilha e toda esta feição citada sobre a Bacia Costeira de São Luís, tendo como principais unidades estratigráficas as Formações Itapecuru (de idade Cretácea), Barreiras (datada do Terciário) e Açuí (configurando terrenos recentes).
A Geologia e a Geomorfologia da Ilha têm seu início com a configuração da faixa (ou zona) costeira brasileira, dados os esforços tectônicos na então Gondwana, que a fragmentaram em diversas porções continentais, dentre as quais a América do Sul e a África. Este evento data de aproximadamente 140 M.A. (milhões de anos), ou seja, no período Cretáceo Inferior. A Bacia Costeira de São Luís se individualiza da Bacia do Parnaíba ou Maranhão e da Bacia Costeira de Barreirinhas por altos estruturais, sendo eles o Arco Férrer-Urbano Santos e o Horst de Rosário.
Desse período, apresenta-se como paleoambiente de configuração a Formação Itapecuru, possuindo características de mares rasos (ou mesmo pela presença de sedimentos costeiros não-marinhos) e de ambientes estuarinos (PETRI; FÚLFARO, 1983, p. 286), haja vista a grande concentração de sedimentos finos a muito finos, em justaposição aos sedimentos mais grosseiros (como areias que culminaram na origem dos arenitos desta feição estratigráfica); esta unidade é bastante espessa, sendo nitidamente visíveis em sopés das falésias do litoral da Ilha do Maranhão, como naquelas presentes nas praias da Guia, São Marcos, Olho d’Água, Meio e Araçagi (na Baía de São Marcos); e Panaquatira, Ponta Vermelha, Caúra e Juçatuba (na Baía de São José), conforme identificações feitas durante expedições de campo.

Durante o Cenozóico, especificamente no período Terciário, após um ciclo erosivo de grande intensividade da formação precedente, houve a conformação da Formação Barreiras, justamente entre os períodos Mioceno e Plioceno. Esta formação é de fundamental importância para toda a compreensão analítica dos intervalos lito-estratigráficos a se configurarem a partir deste período de sedimentação, já que é responsável pela configuração geológico-geomorfológica que “forma falésias na costa e bancos nas margens dos rios costeiros” (PETRI; FÚLFARO,1983, p. 413). Constata-se, pois, que grande parte das áreas ocupadas, destinadas à habitação e a outros tipos de uso, da Ilha do Maranhão se assenta imediatamente sobre esta denominação geológica.
Ademais, “[...] os sedimentos Barreiras foram depositados em condições predominantemente fluviais (...), associados a planícies de inundação [...]” (PETRI; FÚLFARO, 1983, p. 441), mas que, segundo Costa et al. (1993 apud SUGUIO, 2001, p. 297-298), se configurou também a deposição de tais sedimentos em ambiente sub-litorâneo raso, ou seja, em ambientes de plataforma continental interna. É desse “pacote sedimentar” que se extraem argila e concreções ferruginosas para a construção civil; os principais pontos de extração estão situados nos povoados de Cajupe, Maracanã e Vila Maranhão (no município de São Luís) e Santana (São José de Ribamar).

Convém, ainda, mencionar que os sedimentos Barreiras são aqueles mais propensos aos diversos tipos de intemperismo e erosão em toda a Ilha, dadas suas características litológicas de rochas mal selecionadas e mal consolidadas, sendo factualmente perceptíveis pela presença das voçorocas existentes nos sopés das falésias do Farol de São Marcos, na praia do Araçagi, em Panaquatira (em processo de desenvolvimento), no Povoado de Santana e no Parque do Bacanga, apenas para serem citados alguns exemplos.

Para se falar em Quaternário, convém mencionar que se trata do segundo período geológico da Era Cenozóica, tendo início há mais ou menos 1,5 M.A. (Milhão – ou milhões – de Anos), conforme afirmam Dias (2004) e Dias e Ferreira (2004, p. 206). Tal fase histórico-geológica está subdivida em duas épocas: o Pleistoceno, que varia de mais ou menos 1,5 M.A. a algo em torno de 12.700 A.P (lê-se: doze mil e setecentos anos antes do presente), em se pontua o começo do Holoceno, que se desenvolve até os dias atuais.

As variações climáticas e morfológicas quaternárias têm origem, em especial, nos fenômenos glaciares globais ocorridos durante este “breve” tempo geológico. Em se tratando de aspectos morfológicos, o que Penteado (1983), Christofoletti (1980, p. 142-146) e Ab’Sáber (2003a, p. 45) afirmam é que ocorreram flutuações significativas do nível do mar, a partir do início do Pleistoceno Superior, caracterizando processos eustáticos ora transgressivos, ora regressivos, indicando diferenciações em dinâmicas de intemperismo, erosão e sedimentação (agradação ou retrogradação) da costa, do litoral (in stricto sensu) e mesmo da própria plataforma continental.

Foi justamente no último significativo episódio transgressivo, iniciado a partir de 12.700 A.P. (antes do presente), conforme ressalta Ab’Sáber (2003a, 2003b e 2004a), que as condições climáticas regionais passaram por grandes variações e as florestas perenifólias amazônicas passaram a se expandir, tomando o lugar dos enclaves de cerrados e caatingas expandidos entre 23.000 e 12.700 A.P., migrando, inclusive para a porção continental que seria futuramente insulada (no último máximo transgressivo, há 5.500 A.P.), formando a Ilha do Maranhão. Este fato é confirmado pela presença de testemunhos daquela formação florestal no Parque Estadual do Bacanga, na Avenida Jerônimo de Albuquerque (entre os conjuntos habitacionais Cohama e Vinhais, na reserva particular La Belle Parq) e na Área de Proteção Ambiental (APA) do Itapiracó, para serem citados alguns exemplos.

Ademais, há que se aportar, ainda, ao contexto de que todas as paisagens litorâneas e costeiras observadas na Ilha do Maranhão datam do Quaternário Superior (Formação Açuí), sendo de idade holocênica, na qual se processaram variações consideravelmente abruptas de configuração geomorfológica, já que o nível dos mares no último episódio transgressivo se eleva de –100 metros (com relação ao nível de base atual) a + 3,5 metros (isto entre 12.700 e 5.500 anos A.P.), fato este que (re) configura as unidades paisagísticas regionais e individualização do Golfão Maranhense, caracterizando-o como um vasto e complexo sistema ambiental estuarino de notável hidrodinâmica regional, com amplitudes chegando a alcançar, em média, 6,0 metros (podendo, episodicamente, atingir os 7,2 metros).

Ademais, há o surgimento de faixas de restingas e campos de dunas (AB’SÁBER, 2004, p. 98), denotando em processos de agradação da linha de costa pelo acúmulo sedimentar, fato responsável, por exemplo, pela morfogênese da Ilha de Curupu, situada no município de Raposa (ao Norte da Ilha do Maranhão), além do surgimento da faixa de praias e de zonas de domínios de mangues (planícies litorâneas).

Ocorreu, ainda, o afogamento de vales dos cursos inferiores de rios nas proximidades de seus estuários e configuração da faixa litorânea da Ilha do Maranhão e do Golfão Maranhense (entre 5.500 anos e 2.500 anos A.P.), com suas principais feições morfológicas: igarapés; estuários; pontais rochosos; depósitos de tálus; acúmulo de rochas em declives abruptos e rochosos; falésias (pontos de grande altitude, em se tratando das médias do Golfão); planícies de marés lamosa e arenosa; praias; dunas; ambientes dominados por mangues, marismas e vegetação de restinga (em paleodunas); bancos e cordões arenosos; restingas; enseadas; baías; tabuleiros sedimentares e colinas dissecadas. Ante o exposto, pode-se verificar que houve uma alteração generalizada dos caracteres paisagísticos no decorrer do Holoceno, evidenciados no lócus pesquisado.

Concluindo, houve configurações heterogêneas de paisagens sobre o mesmo ambiente, uma vez que as variações de agentes morfoesculturantes no contexto, principalmente no que tange às escalas climáticas regionais e mesmo macrorregionais, em que se sobrepunham, durante o Quaternário Superior, climas ora semi-áridos (entre 23.000 e 12.700 A.P., inferindo-se a partir de dados conceituais presentes em AB’SÁBER, 1971 e 2003b), ora sub-úmidos (12.700 A.P. e 9.000 A.P.), ora úmidos (9.000 A.P. até os presentes dias), responsáveis por formações fitogeográficas de caatinga, cerrados e de ambientes florestais e palustres (ou pantanoso), respectivamente.

Foi durante o primeiro evento climático, o de domínio semi-árido, que se processou um intenso período de pedimentação1 (AB’SÁBER, 1971, 2003b), em especial da faixa costeira brasileira. Tal processo derivou superfícies colinosas tabulares, levemente onduladas, caracterizando os Terraços de Tabuleiros Centrais com Colinas Dissecadas (DIAS, 2004, p. 82; DIAS; FERREIRA, 2004, p. 198), o entalhamento de drenagens da rede hidrográfica da Ilha do Maranhão (outrora estendida pela atual plataforma continental, em período eustático regressivo), a configuração das encostas fluviais e dos terraços inferiores (correspondentes às planícies de inundação dos rios), bem como de superfícies de descontinuidades planialtimétrica, que culminam nos pontos mais altos das falésias, que futuramente serviriam de substrato litológico e estrutural para o assentamento das superfícies de acumulação marinha holocênicas, caracterizadas pelas planícies de maré ou, biologicamente, as zonas intertidais (praias e vasas de manguezais ou pântanos salinos).

REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, Aziz Nacib. Organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras. In: FERRI, Mário G. III Simpósio sobre o cerrado. São Paulo: Edgard Blücher / EDUSP, 1971. p. 1-14.
______. Suntuosidade e complexidade do litoral brasileiro. Scientific American, Ano 01, Nº. 12. São Paulo: Duetto Editora, mai. 2003. p. 42-45.

______. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159 p.

______. Campos de dunas brasileiros. Scientific American, Ano 02, Nº. 22. São Paulo: Duetto Editora, mar. 2004. p. 98.
DIAS, Luiz Jorge B.. Cidade Operária e área de entorno imediato: dinâmicas espacial e socioambiental. 2004. 112 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia Bacharelado). Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2004.
DIAS, Luiz Jorge Bezerra da Silva; FERREIRA, Antonio José de Araújo. Problemas ambientais na Cidade Operária e área de entorno imediato, São Luís – MA. Ciências Humanas em Revista. v. 2, n. 1, jan./jun. 2004. São Luís: Universidade Federal do Maranhão / Centro de Ciências Humanas. p. 193-208.
PENTEADO, Margarida Maria. Fundamentos de geomorfologia. 3ª. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1983. 185 p.
PETRI, Setembrino; FÚLFARO, Vicente José. Geologia do Brasil (Fanerozóico). São Paulo: TA. Queiroz/EDUSP, 1983. 631 p.
SUGUIO, Kenitiro. Geologia do quaternário e mudanças ambientais: passado + presente = futuro?. São Paulo: Paulo’s Comunicações e Artes Gráficas, 2001. 366 p.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

LAGUNA DA JANSEN (SÃO LUÍS - MA) E POSSIBILIDADES DE COMPREENSÃO ESPACIAL

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Considera-se que o entendimento de toda e qualquer área da superfície da Terra depende, logicamente, de um reconhecimento integrado de elementos físicos (naturais), ecológicos (biológicos) e humanos (sociais), bem como de suas associações, que, em conjunto, configuram ambientes dotados de características peculiares de/para identificação. No caso específico da Laguna da Jansen, espaço situado na porção Noroeste da Ilha do Maranhão (popularmente denominada “Ilha de São Luís”), há uma série de fatos importantes que devem ser reconhecidos para melhor compreensão das inter-relações ambientais estabelecidas em seu espaço total.

A título de contextualização conceitual, laguna é um ambiente costeiro semi-fechado, que possui contato direto com o mar por um canal de dimensões reduzidas, em comparação à área de armazenamento das águas (bacia lagunar). Suas águas tendem a ser salobras ou salgadas, o que depende da disponibilidade de água doce que porventura possa entrar no sistema ambiental lagunar. Sua morfogênese está relacionada à conjugação de:
  • processos naturais de flutuações do nível do mar (avanços e recuos) no decorrer de séculos a poucos milênios, responsáveis pelo barramento de reentrâncias costeiras por restingas (cordões arenosos) que, por influências das ondas, marés e das águas provenientes dos terrenos mais elevados permitem a configuração de um canal de ligação entre o corpo hídrico em si (laguna) e o mar. Neste caso, a estrutura das comunidades bióticas (ou dos seres vivos) associadas aos elementos físicos é dotada de originalidades e de potencialidades paisagísticas ímpares, por serem heranças da dinâmica natural das paisagens, compondo, portanto, ecossistemas naturais intimamente interligados, mantenedores de bancos genéticos da fauna e flora associadas naturalmente ao ambiente. No Brasil, vários ambientes lagunares tiveram sua morfogênese relacionada a esse eventos naturais, em que pesem as lagunas do extremo Nordeste do Estado do Maranhão e os sistemas lagunares do Rio de Janeiro, por exemplo;
  • estratégias socioeconômicas de ocupação de novas áreas (outrora consideradas “insalubres”) pelo incremento dos processos de urbanização, que aconteceram nas proximidades da zona litorânea, responsáveis por uma série de barramentos artificiais, portanto induzidos, de ecossistemas de manguezais e de apicuns, atribuindo a essas paisagens (que eram ecossistemas naturais com estrutura e funcionalidade ecológicas pautadas em longos ciclos – de centenas a milhares de anos – de adaptação biogeográfica) novas características, ocasionadas pelas rupturas dos sistemas ambientais originais, induzidas pelas ações humanas. As obras de engenharia (infra-estruturas físicas) são capazes de permitir que locais deprimidos naturalmente e com presença de canais de drenagem e/ou de marés possam se transformar em ambientes lagunares, ou seja, lagunas. Esses fatos, especificamente, caracterizam a dinâmica de paisagens e conseqüente morfogênese de ambientes lagunares como a Laguna Rodrigo de Freitas (RJ) e, obviamente, a Laguna da Jansen (MA);

Analiticamente, com os barramentos impostos aos ecossistemas naturais (manguezais e/ou apicuns), caso da Laguna da Jansen para a construção da Avenida Ana Jansen (década de 1970), há reestruturações das dinâmicas de paisagens, visíveis, num primeiro momento, a partir do extravasamento lateral das águas, no sentido de ocupar todo o compartimento físico deprimido (bacia). Isso ocorre paralelamente às tentativas de espécies nativas de continuarem a manter seus ciclos vitais estáveis, algo que nem sempre é possível, haja vista a perda das características originais do espaço em questão.

As “novas” condições ambientais, socioeconomicamente induzidas, proporcionam estágios diferenciais de resiliência ambiental, ou seja, da capacidade de resposta às alteração ambientais que uma população (conjunto de indivíduos de uma mesma espécie) tem, o que acaba por gerar desequilíbrios ecológicos, com proliferação e/ou extinções de espécies, desordenadamente, estabelecendo novas relações inter-comunidades (relações inter-específicas), permitindo a saída do sistema ambiental de uma fase climáxica, ou de equilíbrio dinâmico natural, para uma fase de desequilíbrios graves.

Embora ainda sejam necessários estudos sobre a biodiversidade associada à Laguna da Jansen, é conveniente lembrar que o conjunto de espécies animais e vegetais ali estabelecidos não corresponde necessariamente às espécies que originalmente (antes das perturbações humanas) ali se desenvolviam e que as atuais (que podem ser remanescentes) ainda não entraram em estado de clímax, o que provavelmente não ocorrerá, dada as intervenções no entorno daquele espaço que continuam a interferir nos sistema ambiental induzido da Laguna.

O desequilíbrio ambiental na Laguna da Jansen é incrementado por dois fatos, especialmente: alteração da dinâmica hidrológica local/regional; utilização da bacia lagunar como área de captação de efluentes domésticos e comerciais (esgotos), que proporcionam, em conjunto com a superposição de usos do solo urbano, processos de floração de algas, diminuição do OD (Oxigênio Dissolvido) na lamina d’água e mortandade de fauna associada ao ambiente. Isso responde por dinâmica de eutrofização do ambiente.

A eutrofização, mesmo ocorrendo ocasionalmente em ecossistemas naturais, é bastante típica de ecossistemas perturbados (ou induzidos). Suas conseqüências podem, sim, elevar os índices de fragilidade ambiental local/regional, mas as suas causas estão intrinsecamente voltadas para as intervenções humanas pretéritas e atuais (no caso da Laguna da Jansen, nos últimos 35 anos, com picos de perturbações antropogênicas, ou seja, dos danos provenientes das ações humanas, concentrando-se de meados dos anos 1980 até os presentes dias), em que pesem a instalação e a falta de manutenção corretiva e preventiva dos sistemas de engenharia e infra-estrutura, que devem ser feitas por equipe técnica específica, considerando seu corpus formativo (engenheiros e técnicos ligados à construção civil, à eletrotécnica e à eletromecânica).

Por fim, percebe-se que, mesmo em estágio analítico inicial, é praticamente impossível dissociar os elementos físicos, ecológicos e socioeconômicos do contexto elucidativo de problemas e possibilidades de soluções dos mesmos em espaço tão dinâmico quanto a Laguna da Jansen (São Luís - MA). Esforço este necessário para todos os alunos de Ciências Naturais e Humanas que necessitarem entender o funcionamento integrado do sistema homem - natureza, tão pregado pela Geografia, mas tantas vezes esquecido pela mesma.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O ENSINO DE GEOLOGIA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO NO MARANHÃO

Prof. Msc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG

Há dois dias adquiri um livro muito interessante: "Fundamentos de Geologia", de Reed Wicander e James S. Monroe, lançado aqui no Brasil, em meados de 2009, pela Editora Cengage Learning, de São Paulo (SP). A primeira e rápida leitura de alguns capítulos me estimularam uma não simples reflexão: por que no ensino de Graduação em Geografia, Biologia, Ciências (Física, Química e Matemática, como ainda há na UEMA), Engenharia Ambiental e Agronomia, pelo menos aqui no Maranhão a disciplina Geologia é um verdadeiro problema? Problema, digo, tanto na questão da didática, quanto na referente ao conteúdo. Tal livro, pela forma clara e objetiva de seu texto, bem como pela contextualização, permitem com que o professor que o adote tenha nova postura sobre essa Ciência.

Os conhecimentos geológicos são imprescindíveis ao avanço concepto-pragmático do aluno de Graduação (tanto do Bacharelado, quanto da Licenciatura). Isso é algo inquestionável. Contudo, o que se observa é uma relativa "falta" de aprendizado dos estudantes que, ao passar por ela, ficam "litificados". Acreditamos que existam duas interpretações para esse fato:
1) O ensino da disciplina é comprometido pelo professor, que ou não possui conhecimento suficiente sobre as temáticas a ela associadas, ou não tem didática suficiente para repassar o conteúdo. Ademais, há uma relativa "decoreba" de assuntos como tipologias de minerais e rochas, que proporciona ao aluno uma descontextualização, tendo em vista a falta de correlação disso com os recursos minerais e mesmo com a identificação prática desses tipos de componentes lito-mineralógicos. Some-se a isso a falta de correlação dos modelos conceituais de fenômenos geológicos (epirogêneses e orogêneses, por exemplo) com a sua verdadeira manifestação nos conjuntos de paisagens locais e regionais, bem como há ausência de correlação de conhecimentos com a Geologia do Brasil, haja visto extensa produção bibliográfica disponível.
2) O ensino da disciplina é comprometido pela falta de compromisso dos estudantes de Geografia, acostumados que estão com os conteúdos condensados e muito abstratos repassados no Ensino Médio (e pelo visto não será diferente na era "pós-vestibular", ao menos no curto prazo), bem como com a forma de aprendizado por "macetes", o que facilita, por um lado, o aprendizado conteudista, mas engessa a capacidade de correlacionar teoria com a prática. O problema discente é algo emblemático, em que pese a falta de conhecimentos geológicos preliminares, os quais deveriam ter sido repassados pelos professores de Geografia no Ensino Médio (entretanto, pela formação que tiveram, estes acabam por ser mais "eficientes" em assuntos relacionados às humanidades em Geografia, que com aqueles dedicados à natureza e ao ambiente).
Sabemos que ambas interpretações estão corretas! Entretanto, cabe refletir o motivo disso. Primeiramente, no que tange ao professor, geralmente ele não é alguém com formação geológica densa. Às vezes, são substitutos que, por imposição departamental, acabam por "quebrar um galho", ministrando a disciplina. Outros tiveram apenas "uma" disciplina ligada às ciências geológicas durante toda a graduação ou pós-graduação e são considerados titulares das mesmas. Outros não se atualizam como deveriam, não acompanhando lançamentos de livros e pesquisando em novas fontes, como em artigos em revistas especializadas disponíveis na internet, bem como livros de referência, como o que citamos no ínicio dessa provocação. Outros simplemente não sentem prazer em ministrá-la (e fazer algo sem prazer é dose!).
A isso se soma um direcionamento conceitual e ideológico dos cursos de graduação, preparando o estudante para este ou aquele campo específico de atuação, relegando alguns tipos de conteúdos e conhecimentos a um "pseudo-ostracismo". Ademais, na Geografia, por exemplo, há uma orientação ideológica marxista muito forte, levando o Curso para um pensamento de esquerda, onde a dialética pura é quem "deve resolver" todos os problemas. Somos levados a ser muito mais filósofos ou sociólogos, por exemplo, que geógrafos ou licenciados em Geografia, de fato, tendo em vista o "esquecimento" do meio físico e biótico em nossas análises acadêmicas. Daí deriva que tanto os docentes, quanto os discentes da Geografia, estejam, em sua maioria, voltados para uma Geografia parcial, "dita" Humana e não a uma Geografia Total, Humana, Física e Ecológica, indissociável.
Quanto aos alunos, não vou me estender, pois a muitos deles falta compromisso com a produção do conhecimento geológico. Tenho muitas discussões com meus orientandos de monografia, pois os mesmos desconhecem o que seja, de fato, a Geologia. Acredito que,mesmo tendo sido fraca a formação nessa área do conhecimento, em carga horária que pode variar de 60 a 75h/aula no início do Curso de Graduação, o estudante deve ter a ombridade de buscar aprender conteúdos que "passaram", pois eles devem ser retomados em Geomorfologia, Geoquímica, Mineralogia, Climatologia, Biogeografia ou Avaliação de Impactos Ambientais, p.ex.. É inaceitável que um aluno que teve Geologia no segundo ou terceiro período de um Curso de Graduação esqueça por completo de estudar assuntos dessa Ciência pelo resto da graduação! Fato esse lamentável, mas evidentemente real...
Assim, o livro "Fundamentos de Geologia" nos faz ver, em sua objetividade planejada, que o ensino e o aprendizado dessa Ciência deve ser carregado de prazer e de muita simplicidade, pois ela se manifesta no nosso dia-a-dia. Não há sequer uma atividade humana que, direta ou indiretamente, não dependa das características geológicas do lugar ou da região. Basta pensar que estamos, agora, sentados em frente a um computador que funciona com baterias de silício, retirado de compostos químicos quartozosos ou de rochas sedimentares (arenito, por exemplo), ou de rochas metamórficas (quartzito, por exemplo). Peço, encarecidamente, que o leitor não pense nesse artigo como uma crítica feroz, mas um desabafo. Não haverá evolução na produção de conhecimentos nessa área sem compromisso docente - discente. Mutuamente!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Forte chuva de granizo causa susto em Carolina, no sul do Estado

SÃO LUÍS - Uma forte chuva de granizo seguida de uma forte ventania em Carolina, distante cerca de 850 quilômetros de São Luís, deixou mais da metade da cidade sem energia, destruiu dezenas de casas e assustou a população local. Segundo informações de moradores, a chuva começou às 16h e depois de aproximadamente 30 minutos uma forte rajada de vento arrancou o telhado da maioria das casas, derrubou postes e destruiu vários automóveis que estavam estacionados próximos a muros.

Átila Rocha, que mora há um ano e oito meses na cidade, contou que nunca havia visto um fenômeno desse tipo. “Foi tudo muito rápido, a ação durou cerca de 10 minutos no máximo, mas o suficiente para deixar o município um verdadeiro caos”, relatou.

O mercado municipal foi um dos prédios que mais sofreram com as rajadas de vento. O telhado ficou espalhado pelas ruas e diversas árvores foram arrancadas com a força dos ventos. Moradora da cidade há 36 anos, Gilma Barros disse que ficou muito assustada com o que viu. “Parece que foi um furacão que passou aqui na cidade. Eu nunca tinha visto nada parecido, só na televisão”, contou. O aposentado de 89 anos Basílio Ferreira disse também que ficou impressionado com o que viu: uma chuva muito forte e rápida e com o alto poder de destruição como essa.

Minutos após a ventania, trabalhadores do serviço de limpeza da cidade e os moradores foram às ruas para contabilizar os prejuízos. Segundo informações da Prefeitura, o serviço de atendimento no hospital da cidade não registrou nenhum caso mais grave. Até o fechamento desta edição, não havia informações de mortos ou feridos, somente de prejuízo material. Consultado por O Estado, O Serviço de Meteorologia do Maranhão não soube informar se existe a possibilidade de um fenômeno desse porte acontecer novamente em municípios maranhenses.
Texto extraído do site: http://imirante.globo.com/noticias/pagina225263.shtml. Acesso em: 15/12/2009.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS EM SÃO LUÍS (MA)


Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias

Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas

Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG


A Capital Maranhense, São Luís, possui quatro Unidades de Conservação (UC’s) Estaduais devidamente instituídas, baseadas na Lei 9.985/2000, sendo elas: o Parque Estadual do Bacanga e a Estação Ecológica do Rangedor, ambos de uso restrito (Unidades de Proteção Integral), e as Áreas de Proteção Ambiental (APA’s) de Itapiracó e de Maracanã, que são do grupo de Unidades de Uso Sustentável. Elas são estratégicas para a manutenção das condições ambientais de toda Ilha e não apenas da Capital, São Luís, uma vez que todas as UC’s são consideradas importantes áreas de regulação climática.

O Parque Estadual do Bacanga foi criado pelo Decreto Estadual Nº. 7.545, de 07 de março de 1980, abrangendo os ecossistemas naturais amazônicos existentes na porção Oeste do município de São Luís, bem como a necessidade iminente de preservar os seus elementos ambientais. Sua área total é de 2.636 hectares.
A Estação Ecológica do Rangedor, criada pelo Decreto Estadual 21.797, de 15 de dezembro de 2005, é a mais recente UC da Ilha de São Luís. Abrange uma área de 125,65 hectares e é uma importante área reguladora climática e de recarga de aqüíferos, o que se soma à proximidade do Centro de São Luís, sendo, portanto, estratégica para a preservação. É dotada de caracteres paisagísticos peculiares, com presença de fragmentos florestais densos, algumas pequenas lagoas mantenedoras de elevada biodiversidade e funciona como refúgio de vida animal, em especial da avifauna regional.

A APA (Área de Proteção Ambiental) da Região de Maracanã, criada em 01º de outubro de 1991 pelo Decreto Nº. 12.103, funciona como zona de amortecimento de impactos do Parque Estadual do Bacanga. Possui extensos juçarais, que protegem naturalmente os cursos d’água a eles associados. É nessa APA que é desenvolvida uma das mais tradicionais festas da Ilha: a Festa da Juçara. Possui 1.831 hectares.

Por fim, a APA de Itapiracó, instituída pelo Decreto Estadual 15.618, de 23 de junho de 1997 , é amplamente utilizada para fins de Educação Ambiental, especialmente pela comunidade de entorno. Possui uma infra-estrutura básica de visitações, com centro de visitantes, trilhas ecológicas, identificação das principais espécies vegetais. Desde 2006, ações de plantio de mudas de espécies nativas têm sido desenvolvidas em parcerias com escolas comunitárias. Sua área total é de 322 hectares.

Atualmente, está em discussão no ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e Conservação), proposta "técnica" e política de criação da Reserva Extrativista (Federal) do Taim. Fatos e justificativas (às vezes bastante contrárias) sobre esse quesito serão apresentados em outro momento neste Blog.

ANÁLISE RÍTMICA EM CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA: RESUMO CONCEITUAL

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Objetivamente, Drew (2002) afirma que os fenômenos naturais, tais como os ecológicos e humanos, são dinâmicos por natureza e definição. Os estudos sobre o clima devem obrigatoriamente desenvolver a prática da compreensão sistêmica dos fatos geocientíficos, que devem ser compreendidos tanto ao nível estatístico-preditivo, quanto dinâmicos (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).

Monteiro (2003, p. 12) reforça a idéia de que é necessário que sejam desenvolvidos estudos sobre a “[...] concepção dinâmica conduzida pelo paradigma do ritmo de sucessão habitual dos estados atmosféricos sobre os lugares [...]”. Dessa forma, o ritmo ao qual se refere o autor é uma condicionante para a explicação das causas do que se convencionou denominar de “imprevisibilidades”. É a sua análise quem irá definir como se processam as flutuações dos estados atmosféricos, bem como proporcionará a previsão mais adequada das condições de mudanças dos índices de precipitação, aumento ou diminuição da temperatura e umidade, bem como avanço ou retração de ecossistemas, regiões naturais e/ou domínios de natureza.
A análise rítmica em Climatologia é um condicionante indispensável para o bom conhecimento dos espaços passíveis de planejamento, uma vez que a compreensão dos padrões climáticos e de suas variações são condições sine qua non do ordenamento territorial. Em outros termos, sem a compreensão dos ritmos climatológicos (ou climáticos) não há possibilidades reais concretas de se planejar adequadamente os diversos tipos de uso e ocupações humanas em áreas as mais heterogêneas possíveis.
Oliveira (2008) afirma que a compreensão e análise dos sistemas climáticos dependem, categoricamente, do entendimento da atmosfera, da hidrosfera, da criosfera, da superfície terrestre e das coberturas vegetais. Em conjunto, esses macro-elementos devem ser analisados integralmente e, obviamente, tal sistema evolui ao longo do tempo, o que significa dizer que ele obtém ritmos (processos) homogêneos e heterogêneos, indicados por padrões de precipitação, de mudanças no albedo (ou reflectância da radiação solar dos diversos ambientes e formas), de aumento do calor ou da dissipação de energia calorífero, aumento ou diminuição de gases-estufa.
Evidentemente, a análise rítmica em Climatologia prescinde de espacialização. Em outros termos, para que ela seja factível é necessário que seja enquadrada segundo escalas espaciais que, em primeira instância, apresentam as formas de manifestação das ações climáticas sobre a superfície terrestre.
Referências

DREW, David. Processos interativos homem – meio ambiente. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 206 p.

MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Teoria e clima urbano: um projeto e seus caminhos. In: MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo; MENDONÇA, Francisco. Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003. p. 09 – 67.

MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Inês Moresco. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. 206 p.

OLIVEIRA, Sonia Maria Barros de. Base científica para a compreensão do aquecimento global. In: VEIGA, José Eli da (org.). São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2008. p. 17 – 54.

REFLEXÃO SOBRE OS CONCEITOS DE "TEMPO" E "CLIMA" EM GEOGRAFIA

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
A seguir, são apresentados os conceitos clássicos acerca de “tempo” e “clima” para uma breve reflexão:
  • Tempo -> “[...] estado médio da atmosfera numa dada porção de tempo e em determinado lugar [...]” (AYOADE, 2001, p. 02);
  • Clima -> “[...] síntese do tempo em um dado lugar durante um período de aproximadamente 30 – 35 anos. O clima, portanto, refere-se às características da atmosfera inferidas de observações contínuas durante um longo período [...]” (AYOADE, 2001, p. 02);

Entretanto, novas concepções se inserem nas discussões atuais, as quais são bastante evidentes as análises dos componentes ambientais, em que o homem aparece como um “indutor” de mudanças. Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 15), "[...] a Climatologia constitui o estudo científico do clima. Ela trata dos padrões de comportamento da atmosfera em suas interações com as atividades humanas e com a superfície do Planeta durante um longo período de tempo. Esse conceito revela a ligação da Climatologia com a abordagem geográfica do espaço terrestre, pois ela se caracteriza em um campo do conhecimento no qual as relações entre a sociedade e a natureza configuram-se como pressupostos básicos para a compreensão das diferentes paisagens do Planeta e contribui para uma intervenção mais consciente na organização do espaço [...]".

Segundo essa reflexão, podem ser caracterizados três pressupostos indispensáveis à compreensão geográfica dos climas:

  • Clima e atividades humanas: frente a tantas discussões disseminadas nos meios científicos e informacionais acerca da participação das atividades humanas nas mudanças ambientais (em que pesem as climáticas), é indispensável que nas reflexões teóricas e pragmáticas da Climatologia Contemporânea os tipos de climas e suas características sejam abordados em consonância com a compreensão das atividades humanas historicamente desenvolvidas, sustentando modos de produção diversos e como elas são ou podem ser consideradas climatogenéticas;
  • Clima, paisagens e espaços: é evidente que uma das principais funções das Geociências é a identificação de características físicas, ecológicas e humanas, que, em conjunto, apresentam a possibilidade de enquadramento de parcelas da Terra em áreas mais ou menos homogêneas, o que permite a classificação das tipologias de espaços geográficos. Quando se discute o problema das classificações das tipologias climáticas ou da cobertura vegetal de um espaço ou região, é aconselhável que se insiram dados/informações sobre os climas locais e regionais, para uma melhor identificação dos padrões de paisagens observados. Assim, as paisagens (ou seja, aquilo que é passível de se abarcar com a visão) e os espaços (as paisagens em movimento contínuo) dependem da Climatologia para serem reconhecidos e estudados em sua totalidade geocientífica;
  • Clima e organização do espaço: um dos principais trabalhos do profissional das Geociências é o de entender a organização atual e pretérita dos espaços e paisagens para poder elaborar cenários de uso e ocupação, por exemplo. Nesse sentido, existem (ou coexistem) em um mesmo local ou em uma mesma região organizações heterogêneas dos espaços geográficos, onde são superpostos os espaços humanos (sistemas urbanos, agroecossistemas) sobre os ecológicos (remanescentes de florestas ou de cerrados, por exemplo, na forma de enclaves vegetacionais) e sobre os naturais (em que são evidenciados as diferenças das formas de relevo, os tipos de rochas, as variações dos solos, dentre outros, os quais são – ou podem ser – respostas às atuações climáticas atuais ou anteriores ao presente). Assim, entender a organização dos espaços geográficos (e das paisagens) é analisar a integralidade dos componentes ambientais, com finalidade de proposição de alternativas aos usos e ocupações que não sejam coerentes com as suas características e potencialidades.

A Geografia, por ter campos bem discernidos de atuação (Geografia da Natureza, Geoecologia e Geografia Social), apresenta uma grande aceitabilidade da Climatologia, enquanto disciplina correlata aos estudos espaciais, ao passo que fornece a ela um conjunto de análises particularizadas sobre a compreensão dos fatos espaciais integrados em um mesmo contexto. Ademais, a Climatologia permite à Geografia (uma Ciência Humana) um “diálogo” científico claro com as Ciências Exatas e Naturais.

Como pôde ser observado, o estudo geográfico do clima é algo bastante abrangente e deve ter em seu contexto analítico, além de uma abordagem inter e transdisciplinar, uma inclinação patente para a compreensão das dinâmicas naturais associadas às produções humanas, que convertem espaços/paisagens segundo suas necessidades, com implicações as mais diversas sobre todos os componentes ambientais, isso em múltiplas escalas (do local ao global).

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Amazônia perde 400 km² de floresta em setembro

04/11 - 13:02 - Agência Brasil
Em setembro, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram 400 quilômetros quadrados (km²) de desmatamento na Amazônia. Em relação setembro de 2008, quando o desmate atingiu 587 km², houve queda de 31,8%. Os dados são do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), divulgados nesta quarta-feira. Apesar da tendência de queda, a área desmatada em setembro ainda equivale a um terço da cidade do Rio de Janeiro.

Mato Grosso retoma liderança
Com 134 km² de novos desmatamentos, Mato Grosso retomou a liderança do ranking de Estados que mais desmataram, depois de meses de liderança do Pará, que registrou 133 km² no mesmo período.
Em Rondônia, o Inpe observou 71 km² de novas derrubadas, no Amazonas, 31 km² e no Maranhão, 14 km². O Acre aparece em seguida, com 9 km², Roraima com 7 km² e Tocantins com 1km². Por causa da cobertura de nuvens, o Amapá não pôde ser monitorado adequadamente, de acordo com o Inpe. Em toda a Amazônia Legal, a área livre de cobertura de nuvens foi de 82% da região, o que permitiu boa visualização dos satélites.
Medição do Deter
A medição do Deter considera as áreas que sofreram corte raso (desmate completo) e as que estão em degradação progressiva. O sistema serve de alerta para as ações de fiscalização e controle dos órgãos ambientais. O desmate medido em setembro não será levado em conta na taxa anual de desmatamento para o atual período (2008/2009). O total, calculado pelo Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), vai considerar o desmate ocorrido entre agosto de 2008 e julho de 2009. A estimativa do governo é de que o resultado seja o menor dos últimos 20 anos.

Sem acordo, Câmara vota anistia para quem desmatou

Ambientalistas e ruralistas descartam entendimento para votar projeto que anistia proprietários de 35 milhões de hectares de área desmatada ilegalmente. Área desmatada beneficiada com anistia equivale a 18 vezes o estado de Sergipe
04/11/2009 - 06h20

Por Renata Camargo

Apenas um consenso aproxima deputados ruralistas e ambientalistas na votação do projeto de lei que anistia proprietários de mais de 35 milhões de hectares de áreas desmatadas ilegalmente no Brasil, prevista para hoje (4). Os dois lados concordam que não há chance de se chegar a um acordo para votar o polêmico substitutivo apresentado pelo deputado Marcos Montes (DEM-MG) na Comissão de Meio Ambiente da Câmara.

Os ambientalistas acusam o relator e seus aliados de livrarem de qualquer punição proprietários rurais que desmataram uma área equivalente a 18 vezes o estado de Sergipe. Os ruralistas negam que estão defendendo uma superanistia e defendem a punição somente para quem desmatar a partir de agora.
O Congresso em Foco ouviu dois deputados que ocupam campos opostos na mais nova trincheira a dividir ruralistas e ambientalistas na Câmara: Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Edson Duarte (PV-BA). Um dos coordenadores da bancada ruralista, Luiz Carlos Heinze acusa os ambientalistas de radicalismo e de terem “segundas intenções” ao se posicionarem contra o projeto, por eles batizado de Floresta Zero. “Não tem como [chegar a um entendimento]. Os ambientalistas são extremistas e radicais. E pode escrever aí que tem grana por trás disso. Então é eles pra lá, e eu pra cá. É difícil fazer acerto com gente que tem segundas intenções”, disse Heinze ao site.
Líder do Partido Verde, Edson Duarte critica o que chama de “negligência” e “agachamento” do governo em relação à pressão da bancada ruralista. Na avaliação dele, a eventual aprovação desse projeto é simbólica. “Há uma tentativa de garantir a impunidade geral e irrestrita para todo mundo que degradou. Isso é muito perigoso. Toda vez que você anistia e permite que a impunidade prevaleça, isso acaba servindo de estímulo para que outros também cometam erros apostando na impunidade”, avalia.

O substitutivo ao Projeto de Lei 6424/05 acirrou os ânimos entre os dois grupos na semana passada, como antecipou o Congresso em Foco. De um lado, os ruralistas afirmam que é preciso consolidar as áreas já desmatadas hoje e a partir de então adotar a política do desmatamento zero. De outro, ambientalistas defendem que é preciso punir os que já desmataram fora dos limites da lei, decretar moratória ao desmatamento e recuperar áreas degradadas. Eles argumentam que o país tem áreas excedentes para a produção agrícola.

“Não podemos desmatar mais nada. Nós temos áreas suficientes para a produção agrícola. O que o Brasil tem de fazer é decretar uma moratória imediata para que não se derrube mais nenhum metro de floresta nativa”, avalia o líder do PV. “Estamos defendendo o desmatamento zero. Mas deixa-se hoje essa parte existente, então daqui para frente nós vamos preservar. Se o Brasil tem hoje 260 milhões de hectares com agricultura e pastagem, o que queremos é consolidar esses 260 milhões de hectares”, afirma Luiz Carlos Heinze.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Antropólogo francês Claude Lévi-Strauss morre aos 100 anos

PARIS – O pesquisador francês Claude Lévi-Strauss, que influenciou gerações de sociólogos e estabeleceu as bases da antropologia moderna, morreu aos 100 anos no último final de semana.

03/11 - 14:30 , atualizada às 18:03 03/11 - Redação com AFP

A informação foi divulgada nesta terça-feira (03) pela Academia Francesa de Ciências Sociais. De acordo com a entidade, o pesquisador morreu na madrugada de sábado para domingo.

Considerado o último grande pensador francês, Lévi-Strauss completou 100 anos em 2008, centenário que foi festejado em todo o mundo. Filósofo de formação e pioneiro do estruturalismo, trabalhou em prol da reabilitação do pensamento primitivo, às vezes com o olhar de um moralista. "Sua obra é indissociável de uma reflexão sobre nossa sociedade e seu funcionamento. Tem um enfoque ecológico, antecipado, do mundo e dos indivíduos", escreve seu biógrafo, Denis Bertholet.Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, em 28 de novembro de 1908, de pais judeus e franceses.
Em sua juventude, militou na SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária). Em 1931, obteve o título de catedrático em filosofia. Nomeado professor na Universidade de São Paulo, viajou em 1935 para o Brasil, onde dirigiu várias missões etnológicas em Mato Grosso e na Amazônia. Contou essa experiência em sua autobiografia intelectual, "Tristes Trópicos" (1955), um dos grandes livros do século 20.De volta a Paris às vésperas da Segunda Guerra Mundial, foi convocado em 1939 e depois deu baixa por sua origem judia. Em 1941 se refugiou nos Estados Unidos, deu aulas em Nova York e conheceu ali o linguista Roman Jakobson, que teve uma grande influência sobre ele.
Em 1949 assumiu o cargo de vice-diretor do Museu do Homem, em Paris. Em 1959, ocupou a cátedra de antropologia social do Colégio da França, onde trabalhou até sua aposentadoria, em 1982. Doutor honoris causa por várias universidades de prestígio (Oxford, Yale e Harvard, entre outras), foi o primeiro etnólogo eleito membro da Academia Francesa, em 1973.
Início do estruturalismo
Entre suas principais obras figuram "Estruturas Elementares do Parentesco", "Antropologia Estrutural I e II", nas quais aplica ao conjunto dos fatos humanos de natureza simbólica um método, o estruturalismo, que permite discernir formas invariáveis dentro de conteúdos variáveis, e "O Pensamento Selvagem".

Nesta última obra, editada em 1962, demonstra que não há uma verdadeira diferença entre o pensamento primitivo e o moderno. "Não se trata do pensamento dos selvagens e sim do pensamento selvagem. É uma forma que se atribui a toda humanidade e que podemos encontrar em nós mesmos, mas preferimos, no geral, buscá-la nas sociedades exóticas", explicava.É também autor de "Mitológicas", onde o primeiro de seus quatro volumes ("O cru e o cozido") ilustra a oposição entre a natureza e a cultura.
Lévi-Strauss sondou profundamente as relações entre a cozinha e a cultura.Com sua silhueta delgada, seus cabelos brancos e olhar agudo, Claude Lévi-Strauss é intimidantemente tímido, mas tem uma presença imponente e uma grande capacidade de ouvir. Pouco preocupado com a posteridade, não escreveu memórias, mas falou delas com Didier Eribon em um livro-balanço intitulado "De Perto e de Longe"."Cada um de seus livros é um manual do pensamento que força a inteligência a se abrir, e uma espécie de evangelho laico que ajuda a se comover diante da vida", escreveu sua amiga e especialista em sua obra, a filósofa Catherine Clément.
Em uma das poucas entrevistas que deu nos últimos anos (em 2005), depois de evocar sua "dívida para com o Brasil", afirmava: "Vamos para uma civilização em escala mundial. Na qual provavelmente aparecerão diferenças, ao menos é preciso esperar por isso. Estamos num mundo ao qual já não pertenço. O que eu conheci, o que eu amei, tinha 1,5 bilhão de habitantes. O mundo atual tem 6 bilhões de humanos. Já não é o meu mundo".

COMPRECOMPREENSÃO DOS PROCEDIMENTOS DE GESTÃO AMBIENTALENSÃO DOS PROCEDIMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL - PARTE I

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas (UFMA)
Prof. Auxiliar I - Geografia Física - UEMA\CESI\DHG

Tendo em vista as discussões contemporâneas sobre Gestão Ambiental, decidimos compor uma pequena análise do que isso venha a ser. Claro que, pelas minhas limitações profissionais, não falarei em questões administrativas, de certificação ISO e coisas do gênero. Falaremos, tão somente, do que vem a ser os rumos da Gestão Ambiental, aplicáveis municipalmente e estadualmente.

Primeiramente, precisamos definir quais são os eixos de Gestão Ambiental. Essa identificação permite entender que as questões ambientais, por mais interativas que sejam, precisam ser entendidas, certas vezes, de forma centrada, quase pontual. Assim, podemos definir como eixos de ação os seguintes temas:

1) Licenciamento Ambiental: apresenta as normas e procedimentos legais de como os diversos tipos de empreendimento podem se adequar aos paradigmas de situação locacional, implantação e operação. Sua correta observação e aplicação proporcionam minimização de gastos e maximização da conservação dos recursos naturais. Suas definições e orientações práticas estão contidas em vasta legislação ambiental. Entretanto, suas principais disposições estão presentes na Resolução CONAMA 237/1997, onde são apresentados os procedimentos administrativos e operacionais para que um empreedimento ou uma atividade receba sua licença ambiental , que pode ser Prévia (LP), de Instalação (LI) e de Operação (LO). Hoje, todo investimento financeiro de obras e serviços devem apresentar estudos e documentos que atestem que os danos ambientais gerados sejam os menores possíveis. Aqui se agregam os Estudos/Relatórios de Impactos Ambientais (EIA's/RIMA's), com seus respectivos Planos Básicos Ambientais (PBA's) a serem apresentados por ocasião do pedido de LI; os Planos de Controle Ambiental (PCA's); os Relatórios de Controle Ambiental (RCA's); Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD's); além de outros tipos de AIA's (Avaliações de Impactos Ambientais), a serem sugeridos pelos órgãos ambientais responsáveis pelo Licenciamento. Essa atividadetem que ser feita na maior integridade técnica e científica possível, pois dela dependem várias outras que serão discutidas anteriormente. É conveniente afirma que o Ministério Público, tantas vezes colocado como mero crítico do processo de licenciamento, deve ser considerado um parceiro em potencial do processo, tendo em vista seu poder fiscalizador e de fazer com que haja o cumprimento das propostas de mitigação de danos socioambientais. Isso em conjunto com o Órgão Ambiental.

2) Gestão de Recursos Naturais: num país como o nosso, detentor das maiores coberturas de florestas tropicais do mundo, em conjunto com a maior faixa costeira inter-tropical em um só e mesmo território nacional, bem como da maior rede de drenagem do mundo (considerando o volume de água em suas bacias hidrográficas) e de solos passíveis de serem convertidos em recursos econômicos de/para sustentação de ciclos econômicos rentáveis (no curto, no médio e no longo prazos), é indispensável pensar esta temática de forma mais setorizada, a princípio. Ela deve ser dividida em:

a) Gestão de Recursos Hídricos: em que pesem os recursos hídricos superficiais e subsuperficiais. O enquadramento dos corpos hídricos, bem como a análise de sua disponibilidade, são condições iniciais ao processo de reconhecimento de suas potencialidades de uso, de conservação e de intervenções. Suas principais ferramentas legais estão contidas na Lei Federal Nº 9.433/1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, no Decreto Federal Nº. 24.643/1934, que instituiu o Código das Águas, tal qual nas Resoluções CONAMA 274/2000 e 357/2005, que, respectivamente, apresentam os indicativos para o monitoramento da balneabilidade de sistemas ambientais associados a corpos hídricos e monitoramento da qualidade das águas superficiais. Existem normas específicas sobre os compartimentos subsuperficiais, como é o caso da Resolução CONAMA Nº 396/2008, que dispõe sobre as diretrizes de enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências, que orientam o processo de gestão de recursos hídricos. A outorga dos recursos hídricos, como instrumento regulador, e os comitês de bacia, como entes regulatórios, são estratégias de gestão imprescindíveis dentro de nosso contexto local, regional e nacional. Não há como fazer, hoje, acompanhamento da situação dos recursos hídricos e/ou dos compartimentos aqüíferos sem mobilização social, participação da sociedade civil e compartilhamento de informações com as universidades. Isso ainda considerando as dinâmicas humanas, pois todos os impactos gerados têm a bacia hidrográfica e sua malha de drenagem e de infiltração/percolação como receptáculos.

b) Gestão Florestal: um dos maiores desafios da contemporaneidade apresentados à Gestão Ambiental consiste em gerenciar os recursos florestais, ou seja, estoques de vegetação remanescentes (independente do Domínio de Natureza que se enquadre) e de madeiras beneficiadas para quaisquer tipos de uso. O principal conjunto de marcos legais para o seu real funcionamento está contido nas Leis Federais Nº. 4.771/1965, que instituiu o Código Florestal Brasileiro; Nº 7.745/1989, que estabelece medidas para a proteção das formações vegetais associadas a nascentes de rios, já definidas pelo Código Florestal como Áreas de Preservação Permanentes; Nº 11.284/2006, que dispõe sobre a criação e gestão de florestas públicas. A esses instrumentos são somados: o Decreto Federal Nº. 2.661/1998, que dispõe sobre o uso e manejo do fogo em práticas agropastoris e florestais; o Decreto Federal Nº. 5.975/2006, que orienta ao gestor ambiental e ao empreendedor do setor madeireiro/florestal a formatar Planos de Manejo Florestais Sustentáveis, supressão vegetal, cortes rasos do patrimônio vegetal, bem como obriga a reposição florestal, licenciamento para o transporte de produtos e subprodutos florestais de origem nativa e da publicidade de informações. Agregam-se a esse rol de instrumentos legais as Resoluções CONAMA Nº. 302/2002, que dispõe sobre a delimitação de faixas de vegetação associadas a reservatórios artificiais e a de Nº 303/2002, que dispõe sobre as Áreas de Preservação Permanentes (APP’s), em âmbito geral, com parâmetros, definições e limites para cada tipologia de formação vegetal considerada de proteção permanente. As orientações técnicas, entretanto, dependem de duas condicionantes: conhecimento das bases legais para a Gestão Florestal e práticas de campo. Nenhum gestor florestal, em sã consciência, deve questionar esses atributos, tendo em vista que a seriedade do processo deve estar associada a visitas técnicas, claro, subsidiadas por bons instrumentos de medição (GPS Topográfico, por exemplo), imagens de satélite de alta precisão, bem como conhecimento do mosaico de problemas socioambientais pelos quais a região de entorno do empreendimento passa. Ademais, deve-se atrelar a esse perfil interpretativo a necessidade de reconhecimento de impactos indiretos de eventuais supressões de coberturas vegetais, tal qual de limpeza de áreas e mesmo de reposição florestal, que não deve ser apenas com essências nativas, nem somente com espécies exóticas ao Domínio de Natureza (Bioma) em que o espaço sob intervenções se encontra. Cada caso representa a necessidade de reconhecimento de potencialidades e limitações, as quais os técnicos e gestores devem estar cientes.

c) Gestão de Recursos Minerais: aqui estão inseridas as atribuições ambientais de gestão para o monitoramento, fiscalização e controle dos processos que extraem do solo e subsolo materiais geológicos que sustentam cadeias econômicas inteiras, a exemplo do ferro, do ouro, da prata, ou mesmo da argila (barro), das areias, dos cascalhos, granitos e outros tipos de compostos minerais extensivamente utilizados em construção civil. As águas minerais não estão inseridas neste contexto, tendo em vista serem trabalhadas na Gestão de Recursos Hídricos. Os recursos minerais, a indústria de produção mineral e a sua conseqüente distribuição, comércio e consumo, segundo o Código de Mineração Brasileiro (Decreto-Lei Nº 227/1967), devem ser administrados pela União. Esse instrumento legal delega várias atividades ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), instituindo regras e procedimentos de gestão, como autorizações, licenciamentos e as permissões de lavras garimpeiras. A pesquisa mineral, por seu turno, é tratada de forma especial, tendo em vista a necessidade de reconhecimento dos recursos minerais brasileiros e de suas potencialidades e usos econômicos. Eis mais uma valorização dada (por instrumento normativo de trabalho) ao já mencionado DNPM, que devem autorizar (ou negar) quaisquer solicitações de pesquisa em âmbito nacional.

Em artigos posteriores, trabalharemos com outras áreas que compõem a Gestão Ambiental.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Algumas especulações sobre as mortandades de peixes na Ilha do Maranhão

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I - Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Evidentemente, essas mortandades de peixes nos últimos 30 dias ao longo da orla e dos microssistemas estuarinos (zonas de misturas entre águas doces e salgados, correspondentes à desembocadura dos rios) são, no mínimo, intrigantes. Em primeiro lugar, não há uma causa em especial para isso, mas várias. Vamos a algumas delas:
1) Alta DBO X Baixo OD: quando um ambiente hídrico apresenta grande concentração de organismos (independente de serem uni ou pluricelulares), a Demanda Bioquímica por Oxigênio (DBO) tende a aumentar. Em contraposição, se não houver renovação de gases dissolvidos na água, as concentrações de compostos nitrogenosos (nitritos, nitratos, amônia e metano) podem aumentar, juntamente com a concentração de dióxido de carbono, diminuindo as taxas de Oxigênio Dissolvido (OD). A consequência pode ser a mortandade generalizada de cardumes de peixes, conjuntos de moluscos, crustáceos e outros organismos aquáticos.
2) Práticas pesqueiras inadequadas: geralmente associadas a hábitos pesqueiros "preguiçosos", como a "tapagem" (ato de serem barradas saídas de igarapés, em áreas de manguezais, para captura facilitada de pescados), ou mesmo a utilização de redes de zangaria (que tenta aprisionar cardumes inteiros de certos tipos de peixes). O uso de "timbó" (composto com alto potencial alucinógeno para peixes e mariscos e que é retirado de raízes tóxicas de uma leguminosa, a Piscidia erythrina), de uso comum no Maranhão e na Zona Costeira Norte Brasileira, é outra prática que pode concorrer para tipos similares de danos ambientais.
3) Esgotamento Sanitário: a concentração de compostos orgânicos em decomposição e em supensão em corpos hídricos que servem de receptáculo de esgotos domésticos, comerciais, industriais e de outros tipos, in natura, leva a uma explosão nas comunidades planctônicas decompositoras, aumentando a DBO e dimunuindo o OD, gerando um processo chamado eutrofização, ou seja, morte pelo excesso de vida. Isso causa uma forte odorização do ambiente hídrico que chega a passar os sulfetos e compostos nitrogenosos ao estágio de volatilização, tendo odor similar ao de "ovo podre". A isso são adicionados elementos inorgânicos, como cádmio e cobre (metais pesados), que ao entrarem nos organismos aquáticos, participam de seu metabolismo e causam danos cumulativos e muitas vezes irreversíveis a espécies, concorrendo para diminuição das concentrações de indivíduos.
Bom, ante o exposto, vamos aos fatos. É praticamente certeza que os peixes morreram por uma inserção de componentes diversos aos ambientes hídricos estuarinos. Se pararmos para pensar, todos os pontos "de mortandades de peixes", principalmente as sardinhas, estão próximos a estuários. Estes, por seu turno, são ambientes próprios para a reprodução de peixes costeiros, como as sardinhas, e servem para a sua proteção, em especial de predadores naturais. P.ex.: Em São José de Ribamar, o lócus de mortandade está situado na saída de um igarapé (ou canal de maré), correspondente a um pequeno estuário.
As praias do Meio/Olho D'Água e Araçagi estão situadas entre os microestuários do Uricutiua (situado próximo ao ponto final do ônibus Araçagi) e do Jaguarema (nas barreiras do Olho D'Água). Esses peixes vivem, ainda, em ambientes de pequena profundidade, o que concorre para que a hipótese de que a alta DBO associada à baixa quantidade de OD seja uma das mais plausíveis para explicar o caso. Isso deve ser somado à grande quantidade de esgotos sendo lançados nas bacias hidrográficas da Ilha, o que aumenta as chances de mortandade.
Ademais, a turbidez das águas pelos esgostos e partículas em suspensão diminui a zona fótica (ou seja, até onde a luz solar consegue penetrar) do ambiente hídrico, o que diminui o processo de fotossíntese e de consequente renovação dos gases, em especial o oxigênio, indispensável à vida. Tal tipo de conjunto de fatores ocorre constantemente em outros pontos da Ilha, como na Laguna da Jansen e no Lago do Bacanga. Este último terá essa predisposição diminuída em função da recuperação da Barragem do Bacanga, do monitoramento do cádmio das águas do Lago do Bacanga, com a melhoria dos sistemas de coleta de esgotos, bem como com a reurbanização de suas margens. Condições indispensáveis para o bom ordenamento das atividades humanas e para a manutenção do equilíbrio ecossistêmico.

Lula diz que Brasil não pode assumir meta de desmatamento zero

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que o Brasil não pode assumir uma meta de desmatamento zero, em declaração feita durante a cúpula entre Brasil e União Europeia, em Estocolmo, na Suécia. Durante a reunião, o plano brasileiro de reduzir o desmatamento em 80% até 2020 foi defendido como modelo para outros países com florestas tropicais.

Reuters
06/10 - 11:00, atualizada às 11:14 06/10 - BBC Brasil

Lula durante discurso na Suécia"Nem que fosse careca o Brasil pode assumir uma meta de desmatamento zero, porque sempre vai haver alguém que vai cortar alguma coisa. O que o Brasil está fazendo é algo muito revolucionário e muito forte", disse Lula, em resposta a uma reivindicação feita pela ONG Greenpeace, que realizou um protesto em frente ao local da cúpula.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e o primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, defenderam que o plano brasileiro de desmatamento seja adotado como modelo por outros países."O Brasil adotou um plano muito ambicioso em termos de desmatamento, que pode ser exemplo para outros países do mundo que também têm florestas tropicais", disse Barroso.Reinfeldt, por sua vez, recordou que o desmatamento é responsável por mais de 20% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Isso justifica a importância da iniciativa brasileira, que a União Europeia quer discutir durante a conferência sobre a mudança climática que as Nações Unidas (ONU) realizam em dezembro, em Copenhague, segundo o premiê sueco, cujo país exerce a presidência rotativa do bloco.Ao mesmo tempo, do lado de fora do Palácio Rosenbad, onde os líderes brasileiros e europeus se reuniam, manifestantes da organização ambientalista Greenpeace pediam a Lula que "salve o clima" assumindo um compromisso de acabar com todo o desmatamento no país até 2015.Responsabilidades
Na declaração dessa cúpula, Brasil e União Europeia defendem ainda que o acordo de Copenhague inclua metas de redução de emissões também para os países em desenvolvimento e ressaltam que os países mais ricos devem ajudar a financiar as medidas necessárias para atingir esses objetivos.Lula insistiu que, para combater de maneira eficiente a mudança climática, cada país deverá assumir em Copenhague compromissos correspondentes a suas responsabilidades nos níveis de emissões globais."Temos que chegar em Copenhague sabendo exatamente quanto cada país emite de gases de efeito estufa. Desde Guiné Bissau, que não deve emitir nada, até os Estados Unidos, para que cada um assuma a responsabilidade pelo mal que está causando", defendeu."O bom senso e a maturidade devem prevalecer na cabeça dos dirigentes. É preciso levar em conta que a China não pode pagar o mesmo preço que a Inglaterra, que começou a industrialização 200 anos atrás."

Lula também voltou a defender o papel dos biocombustíveis no combate à mudança climática. "Eu, se pudesse, levaria um carro a etanol lá para Copenhague e ficaria medindo quanto ele emite", disse.A declaração da cúpula reafirma o compromisso do Brasil e da União Europeia em "promover o uso de fontes de energia alternativas, incluindo a produção e uso de biocombustíveis sustentáveis".
Texto extraído do site:
Acesso em: 06/10/2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Baía de Guanabara através dos tempos

Muito já se escreveu sobre a baía de Guanabara, cada qual com sua óptica pessoal. A razão disso são seus cenários magníficos, com uma beleza inusitada, de ordem planetária.

por Aziz Nacib Ab`Sáber

Texto publicado na Revista Scientific American Brasil, edição 56 - Janeiro 2007.

Olhando pela janela de seu apartamento, um amigo dizia que nem a rainha da Inglaterra podia desfrutar da paisagem que ele via. Outro companheiro de luta e resistência, olhando para a retroterra das praias, onde se desdobram morros ocupados por favelas, comentava que era certamente "lá que morava a felicidade", sem poder avaliar, à época, a conseqüência e impactos que as imensas desigualdades sociais viriam a ter.Passados anos - meio século exato - quero contribuir para a recuperação do conhecimento acumulado, escrevendo uma pequena síntese sobre a história fisiográfica e vegetacional da Guanabara, em homenagem a amigos e companheiros que já se foram (José Veríssimo da Costa Pereira, Orlando Valverde, Jean Dresch e Jean Tricart).

Em primeiro lugar, é indispensável dizer que a região da Guanabara apresenta um quadro único para o conhecimento da fachada atlântica sudeste do Brasil. Sua origem remonta à separação do Brasil oriental em face da África ocidental. Uma distensão tectônica foi responsável pela criação de montanhas de blocos falhados, entre as escarpas da serra do Mar e os complexos maciços costeiros de feições majestosas, tais como o Corcovado, a serra da Carioca, o maciço de Niterói e os pontões rochosos que ladeiam a entrada da barra, culminando com o símbolo máximo representado pelo Pão de Açúcar.

Há também uma baixada colinosa entre a serra do Mar e os maciços serranos mais próximos da atual linha de costas. E, por fim, a própria baía de Guanabara, que adentra as áreas dos morros e colinas, desembocando por uma barra estreita, entre os paredões rochosos do Rio de Janeiro vis-à-vis os morros de Niterói. E, para complicar ainda mais, a existência de uma pequena bacia paleoceânica em Itaboraí, embutida nas terras baixas onduladas regionais. Afora depósitos de cascalho nos altos das colinas aplainadas do Plioceno.

Os conhecimentos disponíveis sobre as bacias tectônicas, existentes na plataforma continental do Brasil de sudeste, permitem-nos avaliar a amplitude e a complexidade da tectônica de blocos falhados ocorridos no Brasil de Sudeste, durante o período Cretáceo. Tudo leva a crer que antes da separação dos continentes, o setor afro-brasileiro de Gondwana era uma espécie de mega-abóbada rebaixada por longos processos erosivos, a qual foi fragmentada pela tectônica de placas, possibilitando a formação do oceano Atlântico.

Na atual área continental do Brasil de sudeste existem indicadores concretos da tectônica quebrável, reconhecida como montanhas de blocos falhados (block-mountains).Identicamente, no território fluminense - entorno da Guanabara - percebe-se todo um arranjo de blocos montanhosos e compartimentos tectônicos. Num entorno mais amplo, percebe-se a mudança de eixos das escarpas da Serra do Mar, desde os escarpamentos do litoral norte de São Paulo e sul do Rio de Janeiro, a borda norte do maciço da Bocaina, e o retorno da orientação SSW-NNE na chamada serra do Mar fluminense (Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo).

Um conjunto de escarpas com um maciço traçado em baioneta entre o litoral norte de São Paulo e sul fluminense, a borda transversal do maciço da Bocaina e o retorno direcional para a serra fluminense (de novo SSW-NNE). No ângulo norte da baioneta escarpada, a fragmentação tectônica bem marcada que deu origem à larga e colinosa Baixada Fluminense, tendo na frente oceânica a serra da Carioca, o Pão de Açúcar e os pontões serranos de Niterói.

Infelizmente, é impossível reconhecer os detalhes dos blocos falhados onde jazem os sedimentos da bacia de Campos e, separadamente, da bacia de Santos. A maior parte desses fatos foram reconhecidos e registrados cartograficamente no importante Mapa geomorfológico da Guanabara, do grande mestre Francis Ruellan (1944). Um trabalho extremamente detalhado, elaborado em cima de cartas topográficas convencionais, numa época em que ainda inexistiam imagens de radar ou de satélites. Transformar um mapa singelo em um verdadeiro mapa geomorfológico exigiu observações de campo ao longo de múltiplos itinerários, o que pode ser considerado uma verdadeira façanha técnico-científica.

Entrementes, Ruellan inseriu um acréscimo importantíssimo em seu estudo sobre a paleodrenagem subatual da Guanabara, ao noticiar para nós brasileiros, no início da década de 40, que, levando em conta os processos glacio-eustáticos, poderia se saber que o nível do mar esteve dezenas de metros abaixo de seu nível médio atual, no período do Pleistoceno Terminal. Daí se poder afirmar que existia toda uma bacia hidrográfica instalada na base da atual Guanabara, sendo que o antigo rio da Guanabara passava apertado entre o Pão de Açúcar e os pontões rochosos de Niterói. De onde se deduz que o nome Rio de Janeiro, cunhado pelos portugueses, tinha o vezo da intuição.

As flutuações radicais ocorridas entre o Pleistoceno Superior e o Recente são fundamentais para entender fatos relacionados à história fisiográfica da região costeira e à própria história vegetacional do território brasileiro. Convém lembrar sempre que no período Würm-IV Wisconsin Superior, o nível geral dos mares e oceanos estava 95 metros abaixo do atual. Para explicar esse fantástico rebaixamento é necessário saber que a partir de 22 mil anos A.P. (Antes do Presente), ocorreu um período glacial que se estendeu, com algumas irregularidades, até aproximadamente 12 mil anos atrás.

Alguns pesquisadores especializados afirmam que o máximo da dinâmica glacial aconteceu sobretudo entre 15 mil e 12.700 anos A.P. E de 12 mil até 6.000-5.500 anos aconteceu uma dissolução das grandiosas geleiras que estavam estocadas nas regiões polares, subpolares e altas montanhas. Denominamos retropicalização esse período fantástico de derretimento das antigas geleiras.

Não podendo meditar sobre o zoneamento paleoclimático que teria acontecido dos pólos ao equador, Louis de Agassiz, estudando os depósitos de piemonte nos Alpes, concluiu que esses depósitos documentaram um período de glaciação generalizada na superfície do planeta Terra: uma teoria dita panglacial. Estimulado a realizar viagens ao Brasil, acompanhado de excelentes discípulos (1864), Agassiz muito apressadamente identificou linhas de pedras abaixo dos solos vermelhos existentes nos barrancos dos morros da Guanabara e imediatamente as interpretou como fragmentos produzidos por geleiras cavalgantes. Imaginou que elas, ao escoarem pelas vertentes de morros e morretes, teriam fragmentado cabeças de diques de quartzo e arestas de rochas.

O fato básico é que o grande glaciologista, respeitado em todo o mundo cultural de sua época, observou bem e pioneiramente o ocorrer das linhas de pedras (stonelines), porém errou totalmente na interpretação geológica e geomorfogênica. Costuma-se dizer que um pesquisador tem de saber observar bem, ainda que se possam perdoar interpretações aproximadas ou incompletas. No caso de Agassiz, a conclusão apressada e errônea teve implicações científicas muito graves. Decorreu quase um século para substituí-la por concepções mais exatas e consistentes. Fato que aconteceu durante o importante Congresso Internacional de Geografia realizado no Rio de Janeiro em 1956, quando cientistas de diversas partes do mundo puderam realizar pesquisas de campo em várias regiões do território brasileiro.

Temos salientado a importância das interpretações de Jean Tricart e André de Cailleux a respeito da gênese dos chãos pedregosos representados pelas stonelines encontradas em diversas áreas do Brasil. O grande mestre Tricart dizia para seus eventuais alunos brasileiros que, na região semi-árida do Nordeste, ocorriam manchas de chão pedregoso ocupadas por caatingas arbustivas. E que as linhas de pedras encontradas no Brasil Atlântico seriam o resultado da expansão de climas semi-áridos em certos momentos do período Quaternário.

Depois de muitas pesquisas de campo nas mais diversas regiões do país, voltamos a pesquisar os morros do Rio de Janeiro e colinas da Baixada Fluminense, tendo a sorte de constatar relictos de cactos na base dos paredões rochosos nos arredores da Guanabara, além de mandacarus e xiquexiques em diversos pontos do Pão de Açúcar. Identicamente, em excelentes fotos tomadas por Marc Ferrez nos arredores do Rio de Janeiro, pode-se perceber que existiam relictos de cactos sob a forma de minirredutos em diversos patamares rochosos dos morros regionais. Do que decorre que hoje podemos melhor interpretar o cenário paleoecológico e fisiográfico da região vista em seu todo. E lembrando que entre Macaé e Cabo Frio existe o único setor de caatinga fora da região distante da core area do domínio semi-árido nordestino.

Por último, convém lembrar que o conjunto da Guanabara quando o mar se achava muito distante era um cenário típico das paisagens do Nordeste seco, cruzava colinas através de uma drenagem semi-embutida, passando por um boqueirão dos notáveis pontões rochosos do Pão de Açúcar e os do além-Rio, em Niterói. Se existissem povos pré-históricos provindos do sertão nordestino na época, eles estariam reconhecendo e vivendo numa região costeira dominada pela secura em um ambiente mais frio, com manchas de chão pedregoso e caatingas de diferentes tipos.

Texto disponível no site:
Acesso em: 01/10/2009.

Amazônia pode ficar 10ºC mais quente até 2060, diz estudo

Um aquecimento global de 4ºC deve ter consequências dramáticas para a América Latina e pode subir as temperaturas na região amazônica Estado de Minas

De O Estado de Minas

Um aquecimento global de 4ºC deve ter consequências dramáticas para a América Latina e pode subir as temperaturas na região amazônica entre 8ºC e 10ºC, o que levaria à destruição de grande parte da floresta, de acordo com um novo estudo do Departamento de Meteorologia britânico (Met Office). O cenário catastrófico pode se tornar realidade já em 2060 – quatro décadas antes do previsto pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

“Nas nossas melhores estimativas, um aquecimento global de 4ºC aconteceria na década de 2070. Mas em uma situação extrema plausível isso poderia acontecer em 2060”, disse à BBC Brasil o pesquisador Richard Betts, do Hadley Centre, a unidade do Met Office que estuda mudanças climáticas.

Os novos modelos climáticos computadorizados do Hadley Centre foram divulgados durante uma conferência na Universidade de Oxford e simulam situações em que altas emissões de dióxido de carbono são amplificadas pelo efeito de retroalimentação (feedback) dos ciclos de carbono.

Este é o nome dado por cientistas aos ciclos de absorção e liberação de carbono por florestas e oceanos. As simulações apresentadas em Oxford indicam que a Amazônia é uma das regiões que mais vai sofrer com o aquecimento global. No entanto, para o cientista José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um aquecimento global de 4ºC elevaria a temperatura na região amazônica em cerca de 5ºC. “Este tipo de acréscimo na temperatura já seria pior do que os cenários mais extremos do IPCC”, disse Marengo à BBC Brasil.

Nordeste

Segundo ele, outros modelos indicam que “a probabilidade de um aquecimento de 3,3ºC até 2100 é maior que 50% em um cenário de altas emissões”. José Marengo já aplicou uma versão do modelo climático desenvolvido pelo Hadley Centre sobre um cenário de altas emissões para investigar as conseqüências desse aquecimento global de 3,3ºC no Nordeste. O cientista do Inpe descobriu que o acréscimo seria ainda mais dramático na “região mais vulnerável às mudanças climáticas no Brasil, uma das mais vulneráveis da América do Sul”. O estudo de Marengo indica que até 2100 as chuvas no Nordeste seriam reduzidas entre 40% e 60% em comparação com os níveis atuais. Além disso, a duração média da temporada seca saltaria de 12 dias para 30 dias por ano, aumentando o risco de estiagens, e a área utilizável para plantações de grãos como arroz, feijão e soja também cairia significativamente.

Hidrelétricas

Marengo afirma estar particularmente preocupado com os impactos sobre a geração de energia hidrelétrica. Ele cita como exemplo disso a Bacia do Rio São Francisco, que deve registrar uma redução de cerca de 25% no volume d’água, o que afetaria severamente a produção de eletricidade da região. Além disso, o pesquisador do Inpe lembra que a densidade demográfica no Nordeste é muito maior do que na Amazônia. Os impactos das mudanças climáticas sobre pequenos produtores rurais levariam a movimentos migratórios.

O novo estudo do Hadley Centre mostra fortes variações na subida de temperatura e no regime de chuvas nas várias regiões do planeta. Na América Central, as consequências do aquecimento global são menos disputadas. “Deve ser registrada uma queda de pelo menos 20% no volume de chuvas lá, na hipótese de 4ºC”, afirmou Betts. Mais ao sul do continente, na região da Argentina, por exemplo, a previsão é de um aumento nas chuvas.

Caribe

Na conferência de Oxford, outros cientistas apresentaram estudos que indicam consequências graves para as regiões mais baixas da América Latina e do Caribe, na hipótese de um aquecimento de 4ºC. O cientista Stefan Rahmstorf, do Instituto de Potsdam, na Alemanha, afirmou que um aquecimento neste nível elevaria o nível do mar entre um metro e 1,3 metro até 2100 em relação aos níveis de 1990.

Os países mais ameaçados pela subida dos oceanos são Guiana, Suriname, Belize, Jamaica, Equador e o território da Guiana Francesa, além da Península de Yucatán, no México. O Met Office também apresentou mapas na conferência que mostram que grande parte dessas áreas já estão enfrentando a elevação do nível do mar. A comunidade científica concorda ser possível se preparar para enfrentar o problema porque a elevação acontece vagarosamente. No entanto, a combinação de ressacas, furacões de maior intensidade e a elevação do nível oceânico pode provocar problemas mais imediatos.

Desde o fim da década de 90, as emissões de gases do efeito estufa vêm ficando próximas às previsões mais extremadas do IPCC. No seu relatório de 2007, o IPCC afirma que, na pior das hipóteses, a temperatura global subiria 4ºC até o fim do século, caso a emissão de gases do efeito estufa continuasse a crescer, embora um aquecimento maior não tenha sido descartado. No mesmo relatório, o painel de cientistas convocado pelas Nações Unidas recomenda limitar o aquecimento global a 2ºC para evitar conseqüências “potencialmente dramáticas” das mudanças climáticas.
Extraído do endereço: http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=20919. Acesso em: 01/10/2009.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Monoculturas soterram a biodiversidade

Segundo a Conservação Internacional, 13% dos vertebrados foram exterminados por ocupação humana; perda é ainda maior no caso das plantas

Por Herton Escobar, enviado especial

É impossível saber ao certo quantas espécies já foram extintas nos 41% do Cerrado que não existem mais. Pesquisadores da organização Conservação Internacional (CI) estimam que 13% das espécies de vertebrados do bioma - mamíferos, aves, répteis e anfíbios, sem contar os peixes, os insetos, as plantas, os fungos e os microrganismos - já tenham sido exterminadas pela ocupação do homem, antes mesmo de serem descobertas.

Especial: Devastação avança sobre a savana brasileira

No caso das plantas, a perda pode ser muito maior. A flora do Cerrado é caracterizada por altos graus de variabilidade e endemismo - o que quer dizer que há diversas espécies que só existem (ou existiam) em regiões muito limitadas, associadas a condições específicas de solo e clima do bioma. Não há como saber quantas plantas desse tipo foram soterradas pelo avanço das monoculturas de grãos e bois.

"Planta não tem pernas para fugir", observa, com trágica obviedade, o biólogo Felipe Ribeiro, da Embrapa. "O que foi desmatado sumiu para sempre."

A exatidão dos cálculos é limitada pelo desconhecimento científico que impera sobre o Cerrado. A preocupação com o bioma é um fenômeno recente, até mesmo por parte dos cientistas. Por muito tempo predominou uma visão equivocada de que o Cerrado era uma região "pobre" em espécies, sem muita importância para conservação.

Era pura falta de conhecimento. Bastou começar a pesquisar para as espécies aparecerem. Só nos últimos 20 anos foram descobertas mais de 340 espécies de vertebrados, segundo a CI. No total, são conhecidas no bioma cerca de 200 espécies de mamíferos, outras 200 de répteis, 250 de anfíbios, quase 850 de aves e 1.300 de peixes. Os números aumentam a cada expedição.

"Ainda temos muito o que descobrir", diz o biólogo José Alexandre Diniz-Filho, da Universidade Federal de Goiás. "O grosso da biodiversidade está nas plantas e bichos pequenos, que são muito pouco conhecidos."

A lista de plantas conhecidas do Cerrado é a maior de todas as savanas do mundo, com cerca de 12 mil espécies descritas. A maior diversidade está na família dos capins e outras plantas herbáceas (sem tronco). Para cada espécie de árvore, há pelo menos três de herbáceas, segundo Ribeiro. Em alguns lugares, a proporção é de sete para uma.

Dependendo de onde o turista for, o cartão-postal do Cerrado pode ser um campo aberto, uma savana de árvores retorcidas, uma vereda cercada de palmeiras, um chapadão de paredões rochosos, um campo de dunas à beira-mar ou uma floresta com árvores de até 30 metros de altura. Cada uma dessas composições tem uma biodiversidade própria de fauna e flora.

"A implicação é que o Cerrado precisa de muitas unidades de conservação espalhadas pelo bioma", diz Ribeiro. "Não adianta criar uma ou duas grandes e achar que o problema está resolvido." Hoje, menos de 3% do Cerrado está protegido por unidades de proteção integral.