Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I - Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Evidentemente, essas mortandades de peixes nos últimos 30 dias ao longo da orla e dos microssistemas estuarinos (zonas de misturas entre águas doces e salgados, correspondentes à desembocadura dos rios) são, no mínimo, intrigantes. Em primeiro lugar, não há uma causa em especial para isso, mas várias. Vamos a algumas delas:
1) Alta DBO X Baixo OD: quando um ambiente hídrico apresenta grande concentração de organismos (independente de serem uni ou pluricelulares), a Demanda Bioquímica por Oxigênio (DBO) tende a aumentar. Em contraposição, se não houver renovação de gases dissolvidos na água, as concentrações de compostos nitrogenosos (nitritos, nitratos, amônia e metano) podem aumentar, juntamente com a concentração de dióxido de carbono, diminuindo as taxas de Oxigênio Dissolvido (OD). A consequência pode ser a mortandade generalizada de cardumes de peixes, conjuntos de moluscos, crustáceos e outros organismos aquáticos.
2) Práticas pesqueiras inadequadas: geralmente associadas a hábitos pesqueiros "preguiçosos", como a "tapagem" (ato de serem barradas saídas de igarapés, em áreas de manguezais, para captura facilitada de pescados), ou mesmo a utilização de redes de zangaria (que tenta aprisionar cardumes inteiros de certos tipos de peixes). O uso de "timbó" (composto com alto potencial alucinógeno para peixes e mariscos e que é retirado de raízes tóxicas de uma leguminosa, a Piscidia erythrina), de uso comum no Maranhão e na Zona Costeira Norte Brasileira, é outra prática que pode concorrer para tipos similares de danos ambientais.
3) Esgotamento Sanitário: a concentração de compostos orgânicos em decomposição e em supensão em corpos hídricos que servem de receptáculo de esgotos domésticos, comerciais, industriais e de outros tipos, in natura, leva a uma explosão nas comunidades planctônicas decompositoras, aumentando a DBO e dimunuindo o OD, gerando um processo chamado eutrofização, ou seja, morte pelo excesso de vida. Isso causa uma forte odorização do ambiente hídrico que chega a passar os sulfetos e compostos nitrogenosos ao estágio de volatilização, tendo odor similar ao de "ovo podre". A isso são adicionados elementos inorgânicos, como cádmio e cobre (metais pesados), que ao entrarem nos organismos aquáticos, participam de seu metabolismo e causam danos cumulativos e muitas vezes irreversíveis a espécies, concorrendo para diminuição das concentrações de indivíduos.
Bom, ante o exposto, vamos aos fatos. É praticamente certeza que os peixes morreram por uma inserção de componentes diversos aos ambientes hídricos estuarinos. Se pararmos para pensar, todos os pontos "de mortandades de peixes", principalmente as sardinhas, estão próximos a estuários. Estes, por seu turno, são ambientes próprios para a reprodução de peixes costeiros, como as sardinhas, e servem para a sua proteção, em especial de predadores naturais. P.ex.: Em São José de Ribamar, o lócus de mortandade está situado na saída de um igarapé (ou canal de maré), correspondente a um pequeno estuário.
As praias do Meio/Olho D'Água e Araçagi estão situadas entre os microestuários do Uricutiua (situado próximo ao ponto final do ônibus Araçagi) e do Jaguarema (nas barreiras do Olho D'Água). Esses peixes vivem, ainda, em ambientes de pequena profundidade, o que concorre para que a hipótese de que a alta DBO associada à baixa quantidade de OD seja uma das mais plausíveis para explicar o caso. Isso deve ser somado à grande quantidade de esgotos sendo lançados nas bacias hidrográficas da Ilha, o que aumenta as chances de mortandade.
Ademais, a turbidez das águas pelos esgostos e partículas em suspensão diminui a zona fótica (ou seja, até onde a luz solar consegue penetrar) do ambiente hídrico, o que diminui o processo de fotossíntese e de consequente renovação dos gases, em especial o oxigênio, indispensável à vida. Tal tipo de conjunto de fatores ocorre constantemente em outros pontos da Ilha, como na Laguna da Jansen e no Lago do Bacanga. Este último terá essa predisposição diminuída em função da recuperação da Barragem do Bacanga, do monitoramento do cádmio das águas do Lago do Bacanga, com a melhoria dos sistemas de coleta de esgotos, bem como com a reurbanização de suas margens. Condições indispensáveis para o bom ordenamento das atividades humanas e para a manutenção do equilíbrio ecossistêmico.
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