Prof. Msc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Há dois dias adquiri um livro muito interessante: "Fundamentos de Geologia", de Reed Wicander e James S. Monroe, lançado aqui no Brasil, em meados de 2009, pela Editora Cengage Learning, de São Paulo (SP). A primeira e rápida leitura de alguns capítulos me estimularam uma não simples reflexão: por que no ensino de Graduação em Geografia, Biologia, Ciências (Física, Química e Matemática, como ainda há na UEMA), Engenharia Ambiental e Agronomia, pelo menos aqui no Maranhão a disciplina Geologia é um verdadeiro problema? Problema, digo, tanto na questão da didática, quanto na referente ao conteúdo. Tal livro, pela forma clara e objetiva de seu texto, bem como pela contextualização, permitem com que o professor que o adote tenha nova postura sobre essa Ciência.
Os conhecimentos geológicos são imprescindíveis ao avanço concepto-pragmático do aluno de Graduação (tanto do Bacharelado, quanto da Licenciatura). Isso é algo inquestionável. Contudo, o que se observa é uma relativa "falta" de aprendizado dos estudantes que, ao passar por ela, ficam "litificados". Acreditamos que existam duas interpretações para esse fato:
1) O ensino da disciplina é comprometido pelo professor, que ou não possui conhecimento suficiente sobre as temáticas a ela associadas, ou não tem didática suficiente para repassar o conteúdo. Ademais, há uma relativa "decoreba" de assuntos como tipologias de minerais e rochas, que proporciona ao aluno uma descontextualização, tendo em vista a falta de correlação disso com os recursos minerais e mesmo com a identificação prática desses tipos de componentes lito-mineralógicos. Some-se a isso a falta de correlação dos modelos conceituais de fenômenos geológicos (epirogêneses e orogêneses, por exemplo) com a sua verdadeira manifestação nos conjuntos de paisagens locais e regionais, bem como há ausência de correlação de conhecimentos com a Geologia do Brasil, haja visto extensa produção bibliográfica disponível.
2) O ensino da disciplina é comprometido pela falta de compromisso dos estudantes de Geografia, acostumados que estão com os conteúdos condensados e muito abstratos repassados no Ensino Médio (e pelo visto não será diferente na era "pós-vestibular", ao menos no curto prazo), bem como com a forma de aprendizado por "macetes", o que facilita, por um lado, o aprendizado conteudista, mas engessa a capacidade de correlacionar teoria com a prática. O problema discente é algo emblemático, em que pese a falta de conhecimentos geológicos preliminares, os quais deveriam ter sido repassados pelos professores de Geografia no Ensino Médio (entretanto, pela formação que tiveram, estes acabam por ser mais "eficientes" em assuntos relacionados às humanidades em Geografia, que com aqueles dedicados à natureza e ao ambiente).
Sabemos que ambas interpretações estão corretas! Entretanto, cabe refletir o motivo disso. Primeiramente, no que tange ao professor, geralmente ele não é alguém com formação geológica densa. Às vezes, são substitutos que, por imposição departamental, acabam por "quebrar um galho", ministrando a disciplina. Outros tiveram apenas "uma" disciplina ligada às ciências geológicas durante toda a graduação ou pós-graduação e são considerados titulares das mesmas. Outros não se atualizam como deveriam, não acompanhando lançamentos de livros e pesquisando em novas fontes, como em artigos em revistas especializadas disponíveis na internet, bem como livros de referência, como o que citamos no ínicio dessa provocação. Outros simplemente não sentem prazer em ministrá-la (e fazer algo sem prazer é dose!).
A isso se soma um direcionamento conceitual e ideológico dos cursos de graduação, preparando o estudante para este ou aquele campo específico de atuação, relegando alguns tipos de conteúdos e conhecimentos a um "pseudo-ostracismo". Ademais, na Geografia, por exemplo, há uma orientação ideológica marxista muito forte, levando o Curso para um pensamento de esquerda, onde a dialética pura é quem "deve resolver" todos os problemas. Somos levados a ser muito mais filósofos ou sociólogos, por exemplo, que geógrafos ou licenciados em Geografia, de fato, tendo em vista o "esquecimento" do meio físico e biótico em nossas análises acadêmicas. Daí deriva que tanto os docentes, quanto os discentes da Geografia, estejam, em sua maioria, voltados para uma Geografia parcial, "dita" Humana e não a uma Geografia Total, Humana, Física e Ecológica, indissociável.
Quanto aos alunos, não vou me estender, pois a muitos deles falta compromisso com a produção do conhecimento geológico. Tenho muitas discussões com meus orientandos de monografia, pois os mesmos desconhecem o que seja, de fato, a Geologia. Acredito que,mesmo tendo sido fraca a formação nessa área do conhecimento, em carga horária que pode variar de 60 a 75h/aula no início do Curso de Graduação, o estudante deve ter a ombridade de buscar aprender conteúdos que "passaram", pois eles devem ser retomados em Geomorfologia, Geoquímica, Mineralogia, Climatologia, Biogeografia ou Avaliação de Impactos Ambientais, p.ex.. É inaceitável que um aluno que teve Geologia no segundo ou terceiro período de um Curso de Graduação esqueça por completo de estudar assuntos dessa Ciência pelo resto da graduação! Fato esse lamentável, mas evidentemente real...
Assim, o livro "Fundamentos de Geologia" nos faz ver, em sua objetividade planejada, que o ensino e o aprendizado dessa Ciência deve ser carregado de prazer e de muita simplicidade, pois ela se manifesta no nosso dia-a-dia. Não há sequer uma atividade humana que, direta ou indiretamente, não dependa das características geológicas do lugar ou da região. Basta pensar que estamos, agora, sentados em frente a um computador que funciona com baterias de silício, retirado de compostos químicos quartozosos ou de rochas sedimentares (arenito, por exemplo), ou de rochas metamórficas (quartzito, por exemplo). Peço, encarecidamente, que o leitor não pense nesse artigo como uma crítica feroz, mas um desabafo. Não haverá evolução na produção de conhecimentos nessa área sem compromisso docente - discente. Mutuamente!
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