Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas (UFMA)
Professor Auxiliar I – Geografia Física (UEMA\CESI\DHG)
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas (UFMA)
Professor Auxiliar I – Geografia Física (UEMA\CESI\DHG)
No Brasil, durante o período conhecido como Colonial, a população de imigrantes europeus, de ascendência luso-açorianos, se distribui pelas zonas costeiras brasileiras, de forma bem orientada, visando a interiorização da ocupação e a “conquista” de novos espaços para a Coroa Portuguesa. Esse encaminhamento de fluxos migratórios foi complementado por direcionamentos pelo interior, contemporâneo ao primeiro, pela necessidade de se buscar ouro e pedras preciosas e, a posteriori, pela procura de vastos espaços dotados de características próprias para a pecuária bovina extensiva, os quais foram estabelecidos tanto nos domínios dos cerrados, quanto nas depressões inter-montanas do Brasil Central e nos campos pastejáveis das paisagens de transição, caso esse da Baixada Maranhense.
O elemento homem é considerado importante por ser o principal agente modificador das paisagens, aquele que causa e potencializa danos aos demais componentes ambientais, que, muitas vezes, dependendo da disponibilidade de capital e tecnologia, tendem a ser irreversíveis. Dentro de uma proposta de Zoneamento Ambiental, a importância desse agente transformador se maximiza, haja vista a necessidade de se reconhecer como a sua população se distribui em uma área (município de Anajatuba, no caso), levando-se em consideração o perfil evolutivo da mesma, num universo temporal de, no mínimo, 30 anos. Mas sobre o seu histórico, será enfocada, sucintamente, uma abordagem que vem do século XVIII à atualidade.
Dessa forma, categoricamente se pode afirmar que a história social (ou humana) “colonizadora” de Anajatuba está vinculada às duas correntes migratórias: uma relacionada à ocupação proveniente do litoral (leia-se: advinda da Ilha do Maranhão – São Luís) e a outra oriunda do Brasil Central, em que pesa a corrente provinda da Minas Gerais e Goiás. Embora a primeira corrente desenvolveu-se ainda no Período Colonial, foi apenas no início do século XX que se manifestou de forma mais aguda a ocupação espacial estabelecida pelo gado, tendo picos entre as décadas de 1930 e 1950 (OLIVEIRA, 2005), embora os “pioneiros” luso-açorianos tenham se dedicado à pecuária, mas sem grande expressividade até a época citada, com atividade econômica principal ficando ao cargo da produção açucareira, com mão-de-obra indígena, substituída aos poucos pela negra (IBGE, 1959).
Entretanto, cabe-se uma breve ressalva: a ocupação de Anajatuba ainda não foi elucidada, pois não se sabe ao certo quando se estabeleceram aos primeiros agrupamentos humanos na região, sendo esses tupis ou não. Ademais, sabe-se que esses índios citados foram os habitantes presentes naquela localidade na chegada dos “pioneiros colonizadores” de ascendência luso-açoriana, isso em meados do século XVIII, em que pesa a chegada de jesuítas. Pela Lei Provincial nº 359, de 22 de julho de 1854, Anajatuba foi elevada à categoria de vila e freguesia (Vila de Santa Maria de Anajatuba), tendo sido desmembrado de Itapecuru – Mirim pela mesma Lei. Somente em 1938 foi elevada à categoria de cidade (IBGE, 1959).
No ano de 1940, portanto, Egler (1951) afirma que Anajatuba é pela primeira vez recenseada como município de fato e de direito, mas o mesmo não revela qual o quantitativo populacional daquele, apenas informa que há dois “distritos censitários”: Anajatuba (ou sede) e Gabarras (zona rural). Esse último, por sua vez, correspondia a um local com potencialidade econômica expressiva dentro do município: o Porto de Gabarras, que ao lado do Porto de Casinha, faziam o embarque de mercadorias para São Luís e de outras cidades costeiras do estado, em que circulavam, sobretudo, o gado bovino, derivados da cana-de-açúcar e o arroz.
Destaca-se, pois, que ambos terminais marítimos hoje não mais existem, como também a atividade açucareira, concorrendo, pois, para a desestabilização e desarticulação da economia local, levando-se mesmo à estagnação e dependência financeira absolutamente externa, algo já previsto por Egler (1951) e Galvão (1955), quando se falava da vinculação de Anajatuba à área de influência socioeconômica direta estabelecida pela capital maranhense.
Voltando ao trajeto da corrente migratória ligada ao gado bovino, lembra-se que o mesmo, durante as décadas de 1930 a 1950, era feita a partir do ato de se “tocar o gado” de Minas Gerais (Uberaba, Uberlândia e Montes Claros) para as “paragens” maranhenses, serviço este que era realizado a cavalo pelos estados de Minas, Goiás, prosseguindo pelo vale do Tocantins, passando aos vales do Mearim e/ou Grajaú até chegar em Anajatuba (OLIVEIRA, 2005). Com a chegada dos búfalos, década de 1960, houve uma relativa paralisação dessa atividade e do fluxo populacional humano a ele ligado.
A economia se centrou (como ainda se centra) na bovinocultura e na bubalinocultura, com o desenvolvimento expressivo da suinocultura, de forma não muito atrelada às duas outras formas de pecuária, mas, da mesma forma, os indivíduos eram (e o são) criados soltos nos campos, sem controle, nem atenção para as mazelas que a pecuária extensiva de subsistência proporcionam, como a disseminação de patologias, a dificuldade de se manter um controle populacional, além de impossibilidade de se estabelecer quais são os insumos alimentares necessários para se maximizar a produção e a produtividade dessas culturas, tendo em vista tanto o mercado local, quanto a inserção de Anajatuba na economia regional e mesmo estadual.
Referências
EGLER, Eugênia Gonçalves. Distribuição da população no estado do Maranhão em 1940. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v. 13, n. 01, jan./mar. 1951. p. 71-84.
GALVÃO, Roberto. Introdução ao conhecimento da área maranhense abrangida pelo Plano de Valorização Econômica da Amazônia. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v. 17, n. 03, jul./set. 1955. p. 03-63.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Vol. XV. Rio de Janeiro: IBGE, 1959.
OLIVEIRA, Francisco. Os tesos de Anajatuba. Comunicação pessoal. Anajatuba: 30/10/2005.
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