Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I – Geografia Física (UEMA\CESI\DHG)
O ser humano tem, como base de seu raciocínio e modus vivendi, quatro tipos de conhecimentos básicos, que constituem seu aparato lógico de conduta, segundo padrões derivados das relações sociais confrontadas em realidades nas quais as interações humanas estão imersas. Sua classificação se dá da seguinte forma: conhecimento empírico, vulgar; conhecimento científico; conhecimento filosófico; conhecimento teológico ou último.
Dentre estas vertentes de concepção de mundo, este trabalho tende a se ater ao conhecimento científico, que é, por natureza epistemológica, racional, objetivo, analítico. Ademais, tende à exatidão e à clareza, é comunicável, verificável; utiliza constantemente métodos investigativos na tentativa de se confirmar e/ou refutar hipóteses, além de ater-se aos fatos relativos ao seu objeto de estudo, “buscando” (dependendo dos casos de pesquisa) e aplicando leis (que estejam de acordo com o seu caráter explicativo), podendo, por este fato, fazer predições, além de ser aberto a novas contribuições, já que por natureza tende a transcender fatos, mesmo que diretamente venha a depender do pesquisador as suas formas de utilização pragmática (Galleano, 1986, p. 23-30). Portanto, há de se ressaltar que, para se iniciar em ciências, independente de qual ela venha a ser, há de se seguir as diretrizes básicas acima expostas, características científicas, condições sine qua non para a existência das ciências como um todo.
Antes de prosseguir na temática proposta, há de se colocar que todas as ciências necessitam, e isto é imprescindível, possuir objetivos fixos de/para estudo (tendo um certo posicionamento relativista e, ao mesmo passo, transdisciplinar, em função, logicamente, de uma formação – ou informações pretéritas), com metodologias de análise típicas, além de se terem norteadas as metas, ou linhas de pesquisa, a seguir para a realização dos trabalhos em um campo de ciências específico.
Tendo isso em vista disto, Demo (1987, p. 22-28) afirma que “a atividade básica da ciência é a pesquisa”, nada impedindo que se inter-relacione pesquisas com as atividades de docência, já que um é um subconjunto do outro, ainda mais atualmente, onde as relações entre um e outro se tornam cada vez mais factuais, ao mesmo passo que indissociáveis. Entre outras coisas, com suporte na mesma referência, há o diagnóstico de vários tipos de pesquisa, cada uma com suas particularidades, sendo elas: a) pesquisa teórica; b) pesquisa metodológica; c) pesquisa empírica; d) pesquisa prática. São estas linhas de investigação, que constantemente são interagentes entre si, os nortes, tanto para pesquisadores experientes, quanto para iniciantes no, ao mesmo passo árduo e prazeroso, processo de investigação científica da realidade.
O homem, como afirma Dias (2001), em seu trabalho sobre epistemologia do geoprocessamento, é um misto de ciência e técnica, que tem o espaço geográfico como o palco de relações as mais diversas de interferências e atuações diretas e indiretas sobre os diversos meios, sendo estes artificiais e/ou naturais. O mesmo autor, em conjunto com afirmações de Mendonça (1998), propõe a consideração analítica de variados aspectos dentro de uma pesquisa, num verdadeiro aparato teleológico, holístico, que serve de subsídio básico necessário para a boa conduta de uma investigação científica, especificamente no caso da Geografia.
Esta, por seu turno, absorve aspectos distintos, e ao mesmo passo clássicos, onde o meio social e o(s) ambiente(s) se misturam num aparato epistemológico único, singular, fazendo com que a Ciência Geográfica se destaque dentre todas as outras, embora se mostrando dicotômica, mas tendendo à análise integral de um objeto totalmente particularizado, sendo que ela passa a ser uma espécie de engenharia estrutural e funcional daquele (Santos, 1994).
Para se iniciar e mesmo se manter, na atualidade, em pesquisas científicas, o pesquisador necessita ter em mente que, para um melhor alcance qualitativo de análises, há de se levar em consideração o caráter transdisciplinar das pesquisas para a resolução de problemas específicos de um dado objeto, que são de caráter holístico em sua realidade.
A Geografia, como ciência do espaço, tende a buscar explicações as mais diversas para compreender seu objeto, em “processos ativos e reativos que ocorrem entre o indivíduo e o meio que levam a creditar num equilíbrio geo-social” (BOTELHO, 1996, p. 228), tendo, por e com isto, que se estender por outras ciências (como a Biogeografia, a Geologia, a Sociologia, a Antropologia, a Climatologia, a Geomorfologia, a Economia, a Hidrografia, dentre outras) para conceber e proceder analítica e pragmaticamente a concepção espaço-temporal de um determinado lócus, em função de seu planejamento consistente e integral.
Portanto, considerando comentários o de Coelho Netto (2002), por ocasião da abertura do IV Simpósio de Geomorfologia Ambiental, em São Luís (MA), citando Milton Santos, não se deve “bifurcar” a Geografia; já que o espaço é um só, a Geografia também é uma só. O problema da dicotomia na ciência geográfica acaba por ser empecilho para seu melhor e maior desenvolvimento enquanto ciência e enquanto profissão, algo que é condição de inserção de outros profissionais em áreas de atuação inerentes à formação espacial que é intrínseca ao geógrafo.
Em termos contemporâneos, deve-se frisar o aspecto econômico no desenvolvimento científico e tecnológico. Em outros termos, é a predisposição da iniciativa pública e/ou privada (esta principalmente) de subsidiar investimentos para o aprimoramento técnico e científico, pragmatizando mais o meio e, ao mesmo passo, gerando interesses peculiares acerca de necessidades de se obter informações consistentes para se melhor intervir de forma específica sob uma dada realidade. Esse é um processo interessante e cíclico, onde se produz ciência para obter informações para se conseguir avançar tecnicamente e onde se obtém aprimoramentos tecnológicos para subsidiar melhores aparatos metodológicos para se avançar no campo científico.
Isto faz com que se pontue de forma factual a presença do meio técnico-científico-informacional, “marca registrada” da contemporaneidade e das necessidades que esta traz em seu conjunto de idéias, sendo este meio um auto-regulador das produções científicas e econômicas, além de ser regulador de atores sociais e condição sine qua non para um embasamento mais lógico de exploração do ambiente; e este meio, o técnico-científico-informacional, é melhor trabalhado teoricamente por Santos (1994; 1996; 2001).
Quando da organização de seu trabalho, Guerra e Cunha (2001), juntamente com os co-autores do mesmo, propõem uma revisão de conceitos relativos às várias áreas do conhecimento geomorfológico, voltados logicamente para uma melhor compreensão dos fenômenos da ordem científica citada. Qual, neste caso, seria o intuito de tais autores? Analiticamente, pode-se considerar que sua preocupação básica seria a questão de mostrar, a priori, que as ciências precisam constantemente rever conceitos, afim de fazê-los não se transformarem em dogmas, mas em subsídios necessários para uma boa extensão do próprio conhecimento, e isto pode ser muito bem generalizado para outros campos da ciência.
Em segundo plano, pode-se dizer que há uma necessidade de aplicação de variados conhecimentos em campos diversos derivados de uma mesma ciência, e, portanto, complementares entre si, não apenas em seus pressupostos físicos, mas voltados para a (re) produção do espaço e de suas relações. É neste aspecto que novos campos de pesquisa se deveriam basear, inferindo, tanto nos cientistas em si, quanto nos iniciantes em ciências, neste caso em especial a geográfica, a necessidade de se obter padrões seguros conceituais para se poder obter novas formas e metodologias teórico-práticas para os avanços significativos em seu campo de atuação.
Sob tal aspecto, Ross (2001) afirma que há uma interdependência fatorial entre homem e meio, onde o ambiente se transforma e se torna constantemente base para ele mesmo, num verdadeiro mecanismo criado pelo homem sob o meio natural em função dele mesmo. A Geografia planeja em função de realidades espaço-temporais distintas e deve ser, epistemologicamente, atrelada às necessidades que estas mesmas realidades requerem. Eis um trabalho investigativo e intervencionista que cabe tanto a cientistas do espaço como um todo, quanto para iniciantes na “arte da pesquisa”.
É importante salientar neste trabalho a importância metodológica das pesquisas quantitativas e qualitativas. Objetivamente falando, ambas têm suas intrínsecas importâncias em seus campos de atuação. Porém, não se deve conceber, ao menos sob as necessidades que se criaram com o já citado meio técnico-científico-informacional, a tendência ao isolacionismo de uma ou outra metodologia de investigação, já que dados para se transformarem em informações precisam ser tratados, trabalhados de forma interpretativa, onde sempre, atualmente em quaisquer tipos de investigação científica (em busca de explicações sobre a realidade de quaisquer objetos), há de se aliar um tipo de metodologia à outra, já que a separação entre ambas acaba por levar a falácias científicas, tendenciosas em sua concepção ou não. Portanto, hoje é impossível se quantificar sem obter um resultado qualitativo de dados transformados em informações, além de ser incabível a especulação sobre melhorias qualitativas de um dado objeto sem que se atribua dados quantificados do mesmo.
Para finalizar, nada há de mais importante em termos de alguém se propor a enveredar-se pelos caminhos da investigação científica que se destinar a procurar identificar processos, compreendê-los e moldar formas teórico-pragmáticas a ponto de modificar qualitativamente realidades. É tarefa de todo iniciante em ciências se propor ser um agente de mudanças que podem ser as mais diversas, mas sempre se voltando para necessidades que tendem a serem resolvidas, a passos metodológicos a serem seguidos, a realizações que tendem a se fazerem presentes.
Referências
BOTELHO, Caio Lóssio. Reflexões monísticas sobre geografia e outros temas. Casa de José de Alencar / UFC: Fortaleza, 1996. 364 p.
COELHO NETTO, Ana Luíza. Geomorfologia aplicada à gestão de recursos naturais. Conferência de Abertura do IV SINAGEO. São Luís: UFMA, 31/10/2002.
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2ª. Ed. São Paulo: Atlas, 1987. 118 p.
DIAS, Luiz Jorge Bezerra da Silva. A importância do geoprocessamento hoje: introdução às reflexões acerca das novas tecnologias cartográficas. Revista Nova Atenas de Educação Tecnológica, V. 04, Nº. 01. São Luís: CEFET-MA, jan-jun. Disponível em: http://www.cefet-ma.br/novaatenas/numero06/geoprocessamento.htm. Capturado em: 28/10/2002.
GALLEANO, A. Guilherme. A ciência e suas características. In: O método científico. 2ª. Ed. Haibra: São Paulo, 1986. pp. 23-31.
GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Maria da (org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2001. 472 p.
MENDONÇA, Francisco. Geografia Física: ciência humana?. 6. ed. São Paulo: Contexto, 1998, 72p.
ROSS, Jurandyr L.S. (org.). Geografia do Brasil. 4ª. Ed. São Paulo: EDUSP, 2001. 540 p.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. 4ª. Ed. São Paulo: HUCITEC, 1994. 125 p.
_____________. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
_____________. O Trabalho do geógrafo no terceiro mundo. 4ª. Ed. São Paulo: HUCITEC, 1996. 113 p.
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