Prof. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
A acepção clássica do termo estuário é uma área onde existe mistura de águas doce e salgada. Segundo Pritchard (1967 apud SILVA et. al., 2004, p. 2001), “[...] estuários são corpos d’água costeiros, semi-confinados, onde ocorre a mistura de água doce, vinda do continente, e água salgada do oceano [...]”.
Essa “zona de mistura” proporciona com que a junção de fatores continentais e marinhos se associem e originem um tipo de paisagem único, com ecossistemas extraordinários, que têm curta duração no tempo geológico, algo em torno de, no máximo,
10.000 anos, pois tanto a paisagem, quanto os ecossistemas, estão condicionados a se expandirem continente adentro, ou se confinarem pela plataforma continental, pelas variações do nível do mar numa escala geológica não muito bem definida.
Ante o exposto, afirma-se que a dinâmica dos ambientes costeiros e dos ecossistemas a eles associados varia significativamente ao longo do tempo e do espaço. Uma vez que o espaço costeiro é largamente variável, uma vez que as influências atmosféricas, oceanográficas e continentais são mais marcantes, há que se ater às análises científicas que vislumbrem conhecer os sistemas ambientais envolvidos para que se possa elaborar cenários múltiplos de desenvolvimento ou retração de ecossistemas, face as flutuações climáticas e eustáticas que ainda são desenvolvidas, em termos geológicos e geofísicos, em todo o Planeta.
Sua forma de “trombeta”, formando por muitas vezes grandes enseadas e baías, ou seja, reentrâncias, proporciona com que haja disponibilidade espacial para o atracamento de embarcações de pequeno a grande porte, dependendo do espaço disponível e da profundidade do canal estuarino. Ante o exposto, são áreas susceptíveis à atividade portuária pelo fato de serem mais abrigadas das tempestades e mesmo das ondas, que frontalmente teriam maior potencial destrutivo.
Aos estuários se associam espécies das mais diversas formas e taxonomias, de reinos diferenciados, de forma microscópica (fito e zooplânctons) à macroscópica, como peixes, cetáceos (golfinhos, botos e baleias), sirênios (peixes-boi) e quelônios (tartarugas). Elas formam ecossistemas bem estratificados, onde a salinidade é um fator especial para o desenvolvimento da vida nas bordas da costa.
As relações físicas e físico-químicas ou biológicas se estabelecem e passam a ser características das células paisagísticas, como aquelas da zona costeira, onde as dinâmicas de desenvolvimento de trocas inter-relacionais entre as diversas populações formadoras da biota local/regional, que também são aproveitadas como subsídio para o desenvolvimento de atividades socioeconômicas e culturais humanas.
Culturalmente, em função dos recursos disponíveis, o homem ao se instalar em áreas adjacentes a estuários ou em seus ecossistemas associados, produz um diferenciado desgaste dos recursos ambientais disponíveis, em que se destacam a pesca, a extração de mariscos e o extrativismo vegetal em domínio de manguezais.
A pesca, que hoje é uma atividade que não mais visa a subsistência de grupos isolados de pessoas, atingiu o nível comercial, que está condicionada ao capital. Precisa-se sempre pescar cada vez mais para que se possa viver com um mínimo de conforto e de dignidade. Isso faz com que uma cadeia “produtiva” se instale em comunidades de pescadores tradicionais, em que a figura do atravessador se destaca e que geralmente subestima o preço do pescado em detrimento do pescador. E isso o estimula a ter uma consciência reversa frente ao seu produto, uma vez que é considerado de “pouco valia”. Solução: pescar mais e buscar outras alternativas de sobrevivência nas proximidades de sua área de produção e de vivência.
Destaca-se que essa forçante econômica leva a se extrair o pescado cada vez mais jovem, ou seja, cada vez menor. Isso vai, aos poucos, romper o ciclo vital da espécie e impedindo a sua reprodução natural, o que pode concorrer para a sua extinção em certos locais. A esse fator se agrega a degradação dos manguezais, que são verdadeiros “berçários” de espécies estuarinas (em sentido restrito) e costeiras (em sentido amplo). A devastação daquele ecossistema quebra nichos ecológicos e proporciona com que ocorram modificações biogeográficas, paisagísticas, espaciais e socioeconômicas significativas e irreversíveis.
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