quarta-feira, 27 de maio de 2009

A CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE PAISAGENS E REGIÕES NA VISÃO DE MILTON SANTOS

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor Auxiliar I – Geografia Física (UEMA\CESI\DHG)

A proposta metodológica de Milton Santos presente em “O Trabalho do Geógrafo no Terceiro Mundo” (Editora HUCITEC, 1996) indica que cada local pode ser enquadrado em um complexo regional segundo suas orientações, vocações e/ou cenários socioeconômicos. Dessa maneira, necessariamente os espaços podem (e devem) ser classificados em categorias socioambientais e socioeconômicas. Seguindo essa orientação, foram apresentadas as seguintes classificações dos tipos de espaços do Oeste Maranhense, na Área de Influência Direta do Corredor Carajás – Ponta da Madeira:
  • Espaços Derivados, indicando que para “[...] cada necessidade imposta pelo sistema em vigor [corresponde à] criação de uma nova região ou a transformação das regiões já existentes [...]” (SANTOS, 1996, p. 104). Esse argumento implica afirmar que o estímulo real para elaboração deste trabalho se insere dentro deste contexto, ou seja, propor uma “derivação” da abrangência regional da região-programa em destaque;
  • Espaços Periféricos, que não significa necessariamente que o espaço seja marginalizado econômica, social e politicamente, pois a acepção original desse termo indicativo é realmente geométrico, ou seja, distância relativa ou absoluta dos centros regionais de decisão. Podem ser citados vários exemplos, como a situação intersticial de Buriticupu (MA) em comparado a Santa Inês e/ou Imperatriz. A articulação dos centros de decisão, pela lógica presente na Teoria dos Lugares Centrais (Christaller, 1933 apud CLARK, 1991), deve proporcionar a diminuição dos intervalos e falhas existentes nos processos de planejamento e avaliação de planos, programas e projetos, além de promoverem a aproximação efetiva entre os espaços de decisão e as localidades periféricas;
  • Espaços Abertos, caracterizando espaços em vias de planejamento e/ou ações socioeconômicas ativas, formando (ou reativando) novas frentes de expansão de atividades humanas, freqüentemente utilizadas para suprir as necessidades dos sistemas produtivos vigentes em certo tempo e espaço. Assim, podem ser citados como exemplos regionais os espaços devastados por extração de madeiras de forma ilegal em Arame, na Reserva Biológica (REBIO) do Gurupi (Oeste do Maranhão), as frentes de silvicultura de eucaliptos para suprir as necessidades das siderúrgicas no “Corredor dos Eucaliptos”, entre Imperatriz e Santa Luzia, dentre outros exemplos. Os espaços abertos devem ser bem assistidos pelo Estado, uma vez que tendem a ser dotados de atividades (e ativismos) sociais que levam, geralmente, a incrementos nos índices de criminalidade (crimes encomendados, como a “pistolagem”; crimes ambientais; trabalho escravo; aviltamento no preço da matéria-prima por coação de trabalhadores, dentre outros);
  • Espaços Seletivos, os quais caracterizam os espaços (pontuais, como cidades-pólo, centros urbanos mais evidentes regionalmente) dotados de maiores infra-estruturas, bens e serviços básicos orientados a suprir as necessidades cotidianas da população regional. Necessariamente são os centros econômicos e políticos de decisão, como são os casos de São Luís, Santa Inês e Imperatriz;
  • Espaços Descontínuos são os espaços “vazios” sucedidos por outros considerados “ocupados”. Em outros termos, são os locais onde são apresentadas ocupações humanas (aglomerados populacionais de pequeno, médio e/ou grande densidade), acompanhada por grandes áreas não ocupadas e/ou ocupadas de forma espaçada, rarefeita. Exemplos: Campo de Perizes, situado entre dois aglomerados urbanos, São Luís (de grande porte) e Perizes de Baixo (pequeno porte). Na verdade, a maioria dos espaços que serão propostos nos capítulos seguintes deste documento está enquadrada dentro deste conceito/caracterização;
  • Espaços Fracionados, que representam influências decisórias de múltiplos espaços de decisões socioeconômicas e/ou políticas. É o caso de Anajatuba, situado na porção Leste da Baixada Maranhense, que, embora esteja ligada a um grande centro consumidor (São Luís), dotado de infra-estruturas e serviços os mais diversos, sua economia está mais relacionada às necessidades do povoado Entroncamento (Itapecuru Mirim);
  • Espaços Não-integrados, os quais representam os espaços não abrangidos por políticas públicas inter-setoriais, em que pesem apenas o desenvolvimento de esforços governamentais paliativos, assistencialistas. Assim são considerados os povoados rurais no entorno da REBIO do Gurupi, das Terras Indígenas, bem como das concentrações humanas ribeirinhas da Baixada Maranhense (caso específico das populações que vivem às margens do sistema lacustre que envolve os municípios de Penalva, Cajari e Viana).

Mediante todas as informações salientadas, conclui-se que a classificação de Milton Santos orienta para o reconhecimento, dentro de uma região, das diferenciações que a mesma apresenta em virtude de suas heterogeneidades. Isso somente é possível a partir da caracterização dos espaços internos que a compõem, enfatizando os aspectos socioeconômicos, políticos e de infra-estruturas, bens e serviços disponíveis às populações locais/regionais. Entretanto, essa metodologia, embora abrangente, é considerada incompleta, pois não enquadra em seu contexto investigativos elementos geoambientais, o que implica afirmar que deve ser passível de complementos.

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