quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Discussões Necessárias em Geografia do Maranhão

Aproveitando o convite ou provocação feita por alguns colegas de profissão (e começada por mim), acredito que devemos começar a discutir academicamente sobre as potencialidades do Estado do Maranhão, com sua diversidade e adversidades. Sobre os compartimentos de relevo da Serra do Penitente ou Baixada Maranhense, ou mesmo refletir sobre os novos modelos e estruturas econômicos instalados no Estado ao lado do panorama desgraçado e desassistido da população dos vales do Mearim ou do Munim.

Podemos, ainda, apresentar comentários sobre os possíveis núcleos de desertificação nos municípios do médio Parnaíba Maranhense, bem como suas repercussões nas comunidades de pequenos lavradores que vivem em espaços dotados de tanta calamidade social.Quem sabe podemos tecer comentários sobre o Projeto (ex-PAC do) Rio Anil, com suas propostas e dotações de infra-estruturas, bem como o PAC do Bacuri, em Imperatriz, que já estão a todo vapor. Podemos discutir como os agentes sociais envolvidos (governo, sociedade civil organizada, empresas, pessoas da população a ser reassentada) se comportam e quais cenários podem se configurar frente a uma lógica urbana ainda nunca dantes observada na história do Estado.

Quais os pontos de vista sobre os novos empreendimentos a serem instalados no Maranhão? Temos a sojicultura se ampliando, a possibilidade de sermos um pólo produtor de biodísel (de cana, milho, girassol e bambu...isso mesmo, bambu!), siderúrgicas sendo instaladas, termoelétricas em curso, bem como o aumento da construção civil em alguns pólos urbanos do Estado. O plantio de coco d'água está em processo de ampliação e as matrizes clássicas de nossa economia estão em processo de transformação. Que discussões podemos levantar sobre geoeconomia?

Tem ainda a possibilidade de criação de novas unidades de conservação em São Luís, em Imperatriz, em Buriti-Duque Bacelar-Coelho Neto, em Balsas... Tem sítios fossilíferos sendo encontrados e catalogados, com as árvores mais antigas do Brasil e isso lá no Baixo Parnaíba [particularmente me orgulho de ter encontrado um desses sítios no ano de 2007, com um outro colega geógrafo de grande experiência em trabalhos de campo, o Raimundo Monteles, da SEMA-MA, em excursão desenvolvida naquela região. Mas isso é assunto para outro texto..].

Ainda tem a questão da possível criação da Reserva Extrativista do Taim, a ser criada exatamente no Distrito Industrial-Portuário, e que a Universidade abraçou substancialmente a idéia, sem avaliar os seus impactos sobre a inviabilização do Sistema Portuário de São Luís com a sua implantação.Outra questão necessária sobre conservação, por exemplo, é o uso das águas superficiais do Rio Pequiá para alimentação industrial do Distrito de Pequiá, em Açailândia. O rio acaba por ser a única fonte de/para captação da água, mas o mesmo vem passando por sérios problemas ao longo de seu curso, o que poderá comprometer a atividade industrial no Oeste Maranhense.

É conveniente, ainda, centrarmos atenções sobre as espacialidades originadas a partir do desenvolvimento da sojicultura e como as suas heterogêneas territorialidades têm contribuído significativamente para a integridade do domínio dos Cerrados sul-maranhenses, bem como para a expansão de máscaras socioeconômicas. Todos somos sabedores que não apenas Açailândia e Bacabal, p.ex., são núcleos de desenvolvimento de trabalhos escravos. Talvez alguns espaços circunscritos à região do "Triângulo da Soja" (entre São Domingos do Azeitão, Riachão e Alto Parnaíba, passando por Balsas e Tasso Fragoso) vigore como um espaço de maior concentração de trabalhadores, que se não forem escravos, trabalham em regime de semi-escravidão, tendo, algumas vezes, 45 dias de trabalhos initerruptos e apenas 02 ou 03 dias de folga nesse período. Ora, não vemos ninguém discutir sobre isso...Por quê? Por outro lado, pouco se conhece sobre as dinâmicas espaciais da sojicultura no Alto - Médio Munim e região de entorno (Chapadinha, Mata Roma, Anapurus, Brejo...), chegando até o Baixo Paranaíba (Buriti). Quais são as dinâmicas socioeconômicas desses núcleos "novos" de plantio de soja?

Bom, quanto ao quesito desertificação, é importante frisar que tal fenômeno espacial é passível de ser desenvolvido em áreas sujeitas a três tipos de aspectos geoambientais, em especial: caracterização climática - clima sub-úmido, tendendo a seco (precipitações entre 850 - 1.100 mm/ano); super-utilização dos solos de forma predatória pelas atividades humanas, concorrendo para a origem de núcleos de arenização e consequente carreamento de nutrientes e de coberturas de solo; mudanças ambientais regionais, que podem ser um reflexo das mudanças das posições dos domínios de natureza por "resistasia", que pode ser natural ou induzida. No Maranhão, municípios como Barão do Grajaú, Paranarama, São João dos Patos, São Félix de Balsas, Balsas, Loreto e Benedito Leite, dotados dessas características, possuem, hoje, núcleos fortes de arenização, que é o primeiro estágio de irreversibilidade dos danos causados aos solos e conseqüentemente aos sistemas ambientais físicos, bióticos e sociais de entorno. Daí para iniciar a desertificação se está a um passo...Também podemos discutir sobre o papel da Geografia no Maranhão para a compreensão do Maranhão.

É hora, caros leitores e colegas, de pensarmos no que a Geografia Maranhense tem feito pelo Maranhão. Desculpem-me os conservadores (críticos pela crítica), mas digo que fazemos, sim, bastante coisa. Desculpem-me os sonhadores, mas afirmo categoricamente que o que fazemos ainda não é o suficiente e nem o necessário. Está na hora, como diria Kapra, do ponto de mutação de uma ciência acadêmica e ideológica (e quase metafísica) para uma ciência pragmática, centrada na realidade e nos fatos!Assim, sendo convido a todos e a todas a discutirmos sobre o nosso Maranhão. Um Maranhão sob Perspectivas Geográficas! Que 2009 seja esse ano do “ponto de mutação” de uma Geografia do Maranhão para o Maranhão, menos carregada de metafísica e mais bem dotada de aplicabilidade prática nas realidades físicas, ecológicas e socioeconômicas e socioculturais do nosso Estado.

Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Física – UEMA\CESI\DHG

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