domingo, 21 de junho de 2009

SOBRE A TEORIA DOS REFÚGIOS E REDUTOS E SUA APLICAÇÃO NO ESTADO DO MARANHÃO

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física – UEMA\CESI\DHG


OBS.: Esse texto foi extraído da minha Dissertação de Mestrado defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas - UFMA em novembro de 2006.


Coltrinari (2005, p. 30) destaca que “[...] o conhecimento da sucessão temporal e espacial dos ecossistemas [...] é importante como fonte de informação sobre a evolução dos ambientes terrestres no passado [...]”. Nesse sentido, a Teoria dos Redutos e Refúgios se apresenta no cerne das análises geocientíficas como uma abordagem que integra elementos físicos (geomorfologia, sedimentologia, pedologia, hidrologia e mudanças climáticas) e ecológicos (cobertura vegetal e componentes faunísticos associados), culminando na reconstrução paleoambiental e paleoecológica local e/ou regional (AB’SÁBER, 1988; 2006b; BARBOSA, 2002; VANZOLINI, 2002).

Ante o exposto, evidencia-se que aquela teoria é uma das concepções geoecológicas mais integrativas e abrangentes que surgiram no conjunto das Geociências nos últimos 40 anos. Suas abordagens conceituais são sustentadas nas mudanças climáticas e morfológicas que proporcionariam o desenvolvimento e/ou retração de ecossistemas (escala local), mosaicos de paisagens ou mosaicos de ecossistemas (escala regional) e domínios de natureza, também denominados domínios de paisagem (escala macrorregional), abarcando ciclos glaciais e interglaciais, enfocando o instável período Quaternário (HAFFER; PRANCE, 2002; VANZOLINI, 2002; AB’SÁBER, 2003; SILVA; VIADANA, 2005). Em projeção clássica, Ab’Sáber (2000) demonstrou um provável indicativo de desenvolvimento dos eixos de expansão/retração de domínios ambientais entre 18.000 e 13.000 A.P.

A concepção exposta na forma de figura temática somente foi considerada possível pela superposição de informações locais, regionais e macro-regionais referentes à sedimentologia, geomorfologia e aspectos ecológicos estabelecidos entre as décadas de 1950 e 1960 por extensivas jornadas de campo e que ainda hoje passam por refinamentos (HAFFER; PRANCE, 2002; VANZOLINI, 2002; SILVA; VIADANA, 2005; AB’SÁBER, 2006c). No dizer de Ab’Sáber (1988, p. 44), a Teoria dos Refúgios envolve “[...] considerações sobre os atuais espaços geoecológicos inter e subtropicais e conhecimentos sobre as estruturas superficiais de suas paisagens [...]”, com o propósito de poder “redesenhar” os prováveis eixos de expansão e/ou retração dos domínios de natureza durante o flutuante período Quaternário.


Figura 01: Prováveis eixos de expansão da semi-aridez na América do Sul, entre 18.000 e 13.000 A.P., à luz da Teoria dos Refúgios.
Fonte: Ab’Sáber (2000).

A premissa dessa teoria geoecológica, ecogeográfica e biogeográfica, segundo Bigarella et. al. (1975), Ab’Sáber (1988, 2003) e Silva e Viadana (2005), é que durante os períodos glaciais, com a diminuição da quantidade da água em estados líquidos e gasoso (clima seco e regressões do nível do mar), houve a tendência à retração dos ecossistemas, mosaicos de paisagens e domínios de natureza associados a uma maior umidade relativa de ar e solo, o que proporcionou o surgimento de “ilhas de vegetação” florestal densa. Essa fase também é conhecida como período de resistasia (CASSETI, 1995).

O espaço original dessas coberturas vegetacionais passaria a ser ocupado por outras formações que estivessem mais condicionadas com o calor e a falta de umidade (já que essa teoria se aplica à zona intertropical, em especial sul-americana). Em outros termos, houve a retração de florestas e expansão, conseqüentemente, de outros domínios de natureza, como é o caso dos cerrados e caatingas, com seus ecossistemas associados (AB’SÁBER, 2006c).

Em contrapartida, em períodos interglaciais houve tendências à “retomada da tropicalidade”, com o aumento da umidade, já que haveria mais água nos estados líquido e gasoso (mais chuva, maior degelo e conseqüente transgressão marinha), passando a ser estabelecido o equilíbrio ecobiótico necessário para a expansão de domínios de natureza adaptados à umidade. Literalmente, houve expansão de florestas e retração de cerrados e caatingas. Essa fase é conhecida como biostasia (CASSETI, 1995).

No entanto, nesse “jogo” de retrações e expansões de domínios de natureza, algumas espécies animais e, preferencialmente, vegetais acabam por se adaptar ao contexto abiótico de áreas diferentes daquelas de origem
[1] (BIGARELLA et. al., 1975). É o caso de “ajustes” biológicos que espécies de cerrados e caatingas desenvolveram para permanecerem em espaços mais úmidos, como nas Florestas Amazônicas ou mesmo nas Matas Atlânticas (AB’SÁBER, 2006c).

As espécies que resistem e permanecem longe de suas core area são denominadas de relictos, que se organizam e se desenvolvem naturalmente em paisagens de exceção, ou seja, em áreas diferentes dos padrões do domínio de origem, estabelecendo os enclaves florestais, ou apenas enclaves. Esses ambientes, com sua biota e seus elementos abióticos, são cruciais para a compreensão das mudanças ambientais pretéritas, bem como servem como bioindicadores quanto à possibilidade real de modificações das paisagens locais/regionais ligadas às mudanças ambientais em andamento, principalmente as antropogêneses, em que são destacadas aquelas relacionadas à subsistência de grupos distintos, muitas vezes desassistidos pelas políticas públicas.

A Teoria dos Refúgios sofre contestações acerca de sua validade e aplicabilidade científica, principalmente por palinologistas (KIPNIS; SCHELL-YBERT, 2005), os quais afirmam que pode ter havido, em espaços diferenciados e em épocas glaciais, expansão de florestas e retração de outros domínios de natureza. Entretanto, os dados da palinologia se restringem a regiões (no máximo) e na grandiosa maioria das vezes não são passíveis de extrapolação espacial, o que é possível pela teoria aqui discutida.

Ademais, a carência de correlações conceituais entre a palinologia e os fatos geológico-geomorfológicos e a não-observância expressiva às tipologias de paisagem atuais concorrem para a não-explicação satisfatória dos enclaves de cactáceas de Cabo Frio (RJ), os cerrados no seio da Floresta Amazônica e as “ilhas” de vegetação florestal densa, interpenetradas por cactáceas, na Baixada Maranhense

4 comentários:

  1. Olá!
    Luiz, sou estudante de biologia, e estou cursando a disciplina biogeografia e estou um pouco confusa em relação as teorias de refúgios, principalmente em relação a teoria de refúgio neotropical no pleistoceno.Atualmente estou me baseando pelo livro, História Ecológica da Terra de Maria Lea Salgado-Labouriau, entretanto queria algo mais sobre este assunto.Desde já agradeço!
    E-mail: deisysts@gmail.com
    Abraço!
    Deisylaine Santos

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  2. alá,prof. luiz jorge sou professor de geografia no Estado de são paulo meu nome é francisco,gostaria de ler sua tese de mestrado, pois, lendo este texto, despertou a vontade de aprofundar nesta leitura a respeito deste tema.

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  3. alá,prof. luiz jorge sou professor de geografia no Estado de são paulo meu nome é francisco,gostaria de ler sua tese de mestrado, pois, lendo este texto, despertou a vontade de aprofundar nesta leitura a respeito deste tema.
    fran_cutrim@yahoo.com.br

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  4. Ola, prof Luiz, sou academica do curso de geografia UFPA campus de Altamira, e estou realizando uma pesquisa sobre esse tema de redutos e refugios e gostaria de saber se o sr. pode disponibilizar a sua tese completa para colaborar na minha pesquisa bibliografica
    andrea-atm.ef@hotmail.com
    grata
    Andrea Luz

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