terça-feira, 5 de junho de 2012

SOBRE INTEMPERISMO, EROSÃO E FORMAÇÃO DE PRAIAS: UMA ABORDAGEM CONCEITUAL

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas

No Dia Mundial do Meio Ambiente, hoje, 05 de junho, precisávamos refletir um pouco sobre as questões ambientais em curso. Decidi falar um pouco sobre a dinâmica de formação de sedimentos (principalmente arenosos) nas partes continentais/emersas e fazer uma pequena abordagem transdisciplinar sobre os processos de morfogênese de praias/terraços de construção marinhos. Assim sendo, seguem alguns argumentos para embasar futuras (ou presentes) discussões:

1) a gênese de sedimentos está relacionada a dois eventos: a) exposição, na superfície, de rochas pré-existentes; b) presença de agentes morfoclimáticos, como chuvas, ventos, águas de superfície (rios, principalmente) e/ou gelo. A decomposição das rochas se dá através de um processo físico, químico ou biológico chamado de intemperismo. Os processos intempéricos aconcetecem de maneira diferenciada em toda a superfície e, dependendo do diâmetro dos sedimentos, podemos encontrar areias grossas, médias e finas, p. ex., conforme Escala de Wenthworth, que é encontrada em livros de Geologia, ao tratar de temas relativos a sedimentos e rochas sedimentares;

2) Com o intemperismo atuante, os fragmentos de rochas pré-existentes, doravante denominados sedimentos, passam por um processo de transporte. Em outros termos, com a presença de sedimentos associada com a intensidade de águas superficiais (rios), chuvas, ventos e/ou gelo eles são transportados de seu lugar de origem (chamado manto de intemperismo) e, por gravidade, vão se direcionando para áreas mais baixas. A este processo físico denominamos erosão. Ou seja, erosão e transporte de sedimentos são a mesma coisa! No processo erosivo, as partículas de sedimentos, muitas delas com diâmetros de areias, vão desgastando (intemperizando) outras rochas e solos. E o destino final deste processo, que além de ser geológico e geomorfológico, também o é hidrogeográfico, são as partes mais baixas do relevo da superfície em determinado setor hidrográfico, no caso os rios;

3) Com os rios, há possibilidades de maximização da velocidade de transportes hídricos de sedimentos em suspensão, ratejamento (junto às partes mais profundas do leito de vazante) e dissolução. Assim, os sedimentos (areias, siltes e argilas, p. ex.) são carreados para superfícies planas laterais aos rios (várzeas) e/ou em direção aos estuários ou deltas, que, em função das dinâmicas oceanográficas, são redistribuídos ao longo da plataforma continental interna (até 15 - 20 metros de profundidade) e externa (entre 20 - 100 ou 200 metros de profundidade, dependendo da configuração da costa) e das áreas de arrebentação de ondas, bem como em terraços de construção marinha;

4) Os terraços de construção marinha, por seu turno, são formas de relevo associadas à variação do nível relativo do mar (NRM) ao longo de diferentes tempos, que variam de horas, dias, décadas até mesmo a milhares de anos. As flutuação do NRM de curto prazo (escala diária) são chamadas de marés, enquanto as de longo prazo (escala de milhares de anos) são chamadas de eustatismos (aumento do NRM, ou transgressão; diminuição do NRM, ou regressão marinha) e estão ligadas a eventos globais de aquecimento ou refriamento da Terra. Com as ondas, marés, correntes litorâneas, correntes costeiras e a presença de compartimentos rochosos pré-existentes, como costões rochosos e/ou falésias, os processos intempéricos e erosivos se mostram presentes. Primeiramente há a decomposição das formas pelo intemperismo. Logo após, a distribuição dos sedimentos produzidos ao longo da faixa de contato terra-mar, que chamamos de litoral;

5) Dessa maneira, com os terraços construídos, há distribuição constante de materiais selecionados pelas ondas, marés e correntes, que, em função da sua granulometria (diâmetro dos grãos) arenosa, apresentam-se na forma de terraços de construção marinha em ambiente litorâneo, com predominância de areias, ao que denominamos de praias. Estas, por sua vez, são "efêmeras" no tempo e no espaço, considerando que sua existência está em função da presença de efeitos globais, regionais e locais associados às dinâmicas oceanográficas, climatológicas, meteorológicas da Zona Costeira, bem como a predominância relativa de processos intempérico-erosivos no interior dos continentes e ilhas, ou seja, em partes emersas da Terra.

Trabalhar com restauração do prisma praial requer algumas considerações conceituais, tais como:

1) Análise do sedimento da praia in situ: indicará o grau de coesão que os sedimentos originais que compõem o capeamento do terraço de construção marinha têm para a manutenção da estabilidade da linha de costa em determinado setor;

2) Uso e ocupação do solo: a experiência ao longo de Brasil nos mostra que os principais pontos de erosão de praias ocorrem onde a ocupação antropogênica se materializou por sobre áreas de pós-praia (áreas emersas próximas ao prisma praial) com ou sem a presença de dunas e/ou paleodunas (dunas recobertas por vegetação), impedindo com que haja a troca adequada/natural de sedimentos entre a plataforma continental interna, a ante-praia (entre 10 - 01 metros de profundidade), o estirâncio (praia propriamente dita, ou seja, área coberta e descoberta pelas águas do mar diariamente pelo efeito das marés) e o pós-praia. Em outras palavras, as ocupação humanas quebram o balanço sedimentar de praias, o que pode acontecer, de forma rápida e contínua, com a construção de espigões costeiros que "evitam" processos erosivos e "empurram-nos" para outras áreas adjacentes, seguindo a direção/sentido das ondas, correntes costeiras e marés;

Por fim, intervenções em praias são necessárias, mas requerem bastante atenção quanto ao sistema ambiental a ela associado. Dinâmicas de sedimentos são importantes, mas o uso e ocupação do solo e a preservação dos habitats de espécies marinhas, de transição e de terra firma são igualmente indispensáveis. A previsão de impactos deve considerar a integralidade dos elementos que compõem o sistema praial que, a partir de uma base sólida, pode nortear bons planejamentos e intervenções no sentido de mitigar os danos relativos ao uso e ocupação dos espaços disponíveis.

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