segunda-feira, 28 de maio de 2012

GEOMORFOLOGIA URBANA E CONTEXTO SOCIAL

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor Substituto de Geografia Física (UFMA\CCH\DEGEO)
Professor Auxiliar I de Geografia Física (licenciado) - UEMA\CESI\DHG

A configuração geomorfológica regional é um dos elementos mais notáveis no contexto dos territórios, algo que sempre deve vir aprioristicamente às nossas reflexões espaciais. O relevo e seus processos formadores e (re)modeladores são condições necessárias de/para análises, que, conjugadas com as atividades socioeconômicas, proporcionam um melhor entendimento das potencialidades e/ou fragilidades dos assentamentos humanos, por exemplo.
Nesse sentido, analisar os espaços produzidos pelas ações históricas das sociedades humanas, que são cumulativas e aproveitadoras das "heranças" da natureza (AB'SÁBER, 2003), requer um certo grau de entendimento relacional não apenas entre os sistemas socias e econômicos, mas, sobretudo, entre as ações humanas e a natureza, cujas "próteses espaciais" construídas por cada cultura foram estabelecidas em espaços diversos, aproveitando-se dos elementos naturais e ecológicos disponíveis. Ao sabor de tecnologias presentes em cada época, os elementos do meio físico foram aproveitados como "recursos" para a instalação/manutenção das suas matrizes de sustentação, que tiveram nas paisagens a reprodução dos esforços de dominação do homem sobre o meio.
Os ambientes geomorfológicos urbanos são bastante sensíveis às diversas ações humanas (re)modeladoras da estrutura superficial das paisagens. A isso denominamos de antropogêneses. Estas, por seu turno, indicam os diferentes graus de perturbações ambientais que o espaço recebe, em função das novas dotações de infraestruturas e serviços que mudam as diversas áreas dentro das áreas urbanas (especificamente), alterando dinâmicas/processos geomórficos naturais, em que pesem, por exemplo: (a) aceleração ou contenção de processos intempéricos, erosivos e deposicionais; (b) drenagem de áreas úmidas; (c) retificação de canais de escoamento superficial; (d) impermeabilização dos solos; (e) supressão de áreas de preservação permanentes.
Todos os processos geomorfológicos naturais, com as antropogêneses urbanas, são integralmente modificados. A título de exemplo, com a supressão de áreas de preservação permanentes (APPs) ripárias há uma forte indicação de extravasamentos laterais de águas, configurando alagamentos, que, por seu turno, comprometem a sustentabilidade dos assentamentos humanos. São efeitos recíprocos, ou seja, sem a cobertura vegetal, pela baixa declividade do relevo local, há perdas de condições de habitabilidade.
Os processos erosivos, com a supressão de cobertura vegetal (que pode, inclusive, nem ser nativa) protetora dos solos, indica fragilidade da geofácie, que pode ser pontual ou expansiva. Pragmaticamente, há indicativos de areolarização de processos de morfodinâmica do modelado, em função de períodos chuvosos convencionais, com migração das cabeceiras de drenagem para montante e aprofundamento dos canais de ordem zero, que podem ser do tipo canaletas, sulcos, ravinas e/ou voçorocas. E as ocupações humanas situadas no entorno imediato desse tipo de terreno morfodinamicamente instável tendem a serem mais susceptíveis a riscos e danos, que além de serem materiais (como perda de casas ou pertences pessoais), podem indicar perdas imateriais, com a configuração de calamidades sociais, como perdas de vidas humanas. Exemplos desses danos/perturbações ocorrem em cidades pequenas, médias e grandes em todo o território nacional, em cada período chuvoso.
Geomorfologicamente, os conceitos de jusante e montante são tão indispensáveis à compreensão das morfogêneses associadas às antropogêneses. Dessa maneira, é importante que se entenda que as áreas de montante (acima do nível de base local/regional dentro de um contexto de uma bacia hidrográfica, preferencialmente em zona urbana) como áreas mais propensas a processos intempéricos e erosivos e as de jusante (próximas ao nível de base local/regional de uma bacia hidrográfica urbana) são mais sujeitas a passar por enchentes. Em outras palavras, as áreas de montante são morfogeneticamente mais intensas, ao passo que as áreas de jusante são mais propensas à pedogênese, por serem, respectivamente, espaços geológico-geomorfológicos mais instáveis pela rugosidade do relevo e/ou pela planura das formas.
Por fim, à guisa de discussões futuras sobre o tema, pensar na Geomorfologia como subsídio técnico-científico para repensar o fato urbano (ou a cidade) é mais que um paradigma e, sobretudo, uma necessidade premente que vise a melhoria dos planejamentos integrados dos ambientes e espaços intra-urbanos. Caso a Geomorfologia Urbana continue a ser preterida nas interpretações e políticas públicas no contexto de espaços intra-municipais, por exemplo, as próprias intervenções sociais e econômicas podem indicar perda de sustentabilidade dos assentamentos humanos, bem como indicam sinistros que porventura podem ocorrer e que podem indicar perdas materiais e imateriais indeléveis à sociedade. Voltaremos em breve ao assunto.

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