quarta-feira, 10 de abril de 2013

ROTEIRO DE TRABALHO DE CAMPO DE BIOGEOGRAFIA: MÉDIO MUNIM E BAIXO MEARIM (MARANHÃO, NORDESTE DO BRASIL)


Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Substituto de Geografia Física – UFMA\CCH\DEGEO
Prof. Auxiliar I de Geografia Física – UEMA\CESI\DHG (licenciado)

1 INTRODUÇÃO

No desenvolvimento das atividades profissionais de um bacharel ou licenciado em Geografia, a identificação teórico-pragmática dos principais elementos físicos, ecológicos e sociais (em todas as suas vertentes) que compõem um território é imprescindível. Destarte, em seu processo formativo, os futuros profissionais dessas áreas, bem como daquelas correlatas, o alunado deve estar imerso em trabalhos de campo que proporcionem, no final das disciplinas, a associarem os conhecimentos adquiridos em âmbito conceitual com os fatos presentes na realidade espacial em que estiver inserido.
Com base nessa reflexão, a disciplina de Biogeografia oferecida pela Coordenação do Curso de Geografia aos discentes da Universidade Federal do Maranhão busca entender os seguintes elementos conceituais:
a)       distribuição das formações vegetais, bem como de suas faunas associadas, em diversas escalas espaciais;
b)       reconhecer processos físicos e humanos, com suas respostas ecológicas e biogeográficas presentes na paisagem geográfica;
c)       entender as dinâmicas e sistemas de expansão e retração de coberturas vegetais, em diferentes profundidades de tempo, com vistas à integração de conhecimentos sobre as atividades humanas e seus impactos derivados.

Por conseguinte, a supracitada Disciplina Acadêmica, é atualmente considerada como indispensável ao planejamento e ordenamento territoriais. Seu caráter integrador e transdisciplinar tende a proporcional um maior entendimento inter-relacional dos elementos que compõem o trinômio conceitual e prático básico da Geografia: paisagens, espaços e territórios.
Assim, na condução desses créditos, com vistas a uma maior integração entre o alunado e a realidade maranhense no tocante à Biogeografia, foi proposto para os dias 12 e 13 de abril de 2013 trabalho de campo para o reconhecimento dos principais processos e feições biogeográficos presentes no espaço total Centro Norte Maranhense, envolvendo as seguintes áreas:
a)       Baixo-Vale do Rio Itapecuru (Itapecuru-Mirim e Santa Rita);
b)       Médio-Vale do Rio Munim (Nina Rodrigues, Vargem Grande, São Benedito do Rio Preto, Urbano Santos e Chapadinha); e
c)       Margem Esquerda do Baixo-Vale do Rio Mearim (Arari).

Como meta principal, estabeleceu-se o reconhecimento dos padrões de dispersão de paisagens associadas a faixas de transição e contatos (AB’SÁBER, 2003; DIAS, 2012) em território maranhense, especificamente entre os Biomas Costeiros, as Florestas Amazônicas, os Cerrados e as Caatingas, visíveis nos transectos descritos anteriormente, haja vista a presença de matas de cocais extensivos mistos (com babaçuais e com carnaubais predominantes) e de campos em planícies inundáveis.
Parte-se do pressuposto que as alterações naturais nos ambientes passíveis de reconhecimento são condição sine qua non para a sua configuração. Contudo, as perturbações dos sistemas ambientais locais e regionais pelas atividades humanas demonstra-se como importante elemento analítico para a compreensão das dinâmicas biogeográficas e ecológicas atuais nas áreas de reconhecimento técnico-científico já referidas.


2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS EM TRABALHO DE CAMPO

Os trabalhos de campo serão baseados no método estruturalista, com ênfase na Teoria Geral dos Sistemas – TGS (BERTALANFY, 1973) e na Teoria dos Geossistemas (SOCHAVA, 1977; BERTRAND, 2004), com vistas ao entendimento das componentes ambientais integradas do espaço total visitado, sob a perspectiva analítica da Biogeografia como ciência ou disciplina transdisciplinar e indispensável para o planejamento e ordenamento dos territórios.
Ademais, será adotada a concepção ecodinâmica de Tricart (1977), que indica as possibilidades de entendimento dos elementos das paisagens, de maneira única, a partir de sua tipologia conjugada, gerando espaços/paisagens instáveis (sujeitos a perturbações ambientais graves), intergrades (ou seja, que estejam em processos de atuação de danos ambientais moderados) e estáveis (cujos sistemas ambientais estejam em equilíbrio dinâmico). A Teoria dos Redutos e Refúgios (VIADANA 2002; AB’SÁBER, 2003) será enfocada com detalhes, evidenciando as coberturas vegetais de ecótonos (ou seja, de faixas de transição e contatos entre domínios de natureza).
Para auxiliar no desenvolvimento dos trabalhos, serão utilizados os seguintes equipamentos:
a)       GPS Garmim Legend-HCX, com precisão de ± 3,0 metros;
b)       Altímetro barométrico, com precisão de 1,0 metros;
c)       máquina fotográfica digital;
d)       prancheta para auxiliar na redação de informações indispensáveis a serem relatadas durante a jornada de campo.

3 ESCOPO DOS TRABALHOS E ROTEIRO BÁSICO EXPLICATIVO EM CADA PONTO DE PARADA

Serão abordados temas gerais, num primeiro momento de explicações técnicas, acerca do principais conjuntos de formações vegetais presentes em território maranhense, com base em Muniz (2006). O conjunto de atividades de campo seguirá apresentado com a seguinte estrutura conceitual:

a)       12/04/2013 (Trecho 01): visitas a diversas localidades presentes em São Benedito do Rio Preto e Urbano Santos (manhã) e em Chapadinha e Vargem Grande (tarde);
b)       13/04/2013 (Trecho 02): visitas a diversas localidades em Vargem Grande, Nina Rodrigues e Itapecuru-Mirim (manhã) e Arari (tarde).

Nesse contexto, o Trecho 01 (manhã) apresentará intrincados processos biogeográficos de adaptações das floras atuais às configurações de relevo e à base geológica, com extensão de Cerrados em direção a dunas costeiras. Representa uma interessante dinâmica adaptativa dos Cerrados Brasileiros em ambientes pré-costeiros, bem como congrega rica biodiversidade, manifestada pela diversidade de paisagens. Observam-se, ainda, relictos de vegetação de tempos anteriores ao presente. Avaliam-se, ainda, impactos das atividades de plantios de florestas homogêneas (eucaliptais) em locais de criticidades socioambientais patentes (SANTOS et. al., 2012).
No Trecho 01 (tarde), os processos de uso e ocupação de terras pressionados pelas atividades socioeconômicas de mercados interno e externo serão analisados, em que pese em seu potencial de conversão dos sistemas ambientais naturais, com seus diversos ecossistemas, em unidades biogeográficas e ecológicas denominadas de agroecossistemas (AB’SÁBER, 2006), ou seja, conjuntos bióticos e abióticos originais que foram transformados extensivamente por atividades agropecuárias ou silvícolas, em função das demandas das sociedades humanas, em diversas escalas. As mudanças climáticas regionais podem ser sentidas, considerando ser essa área um conjunto de faixas de transição e contato Cerrados – Caatingas, cuja biodiversidade é cada vez menor.
No Trecho 02 (manhã) o principal elemento analítico será a compreensão das Matas de Cocais no Norte do Estado do Maranhão. As Matas de Cocais com Babaçuais Extensivos e as Matas de Cocais Mistas com Presença de Carnaubais são visíveis como importantes elementos da paisagem biogeográfica regional, com fortes impactos positivos para as atividades humanas de subsistência (DIAS, 2008). As formas de utilização dessas coberturas vegetais, bem como sua distribuição espacial, são conhecimentos razoáveis para elencar possíveis atividades de desenvolvimento social, aliados à proteção da biodiversidade.
Por fim, no Trecho 02 (tarde) serão tratadas as principais problemáticas relativas à Baixada Maranhense, região natural úmida de relevante importância para o Estado e para o Brasil (DIAS, 2006), em que pesem: a) usos inadequados dos espaços disponíveis para atividades agropecuárias, urbanas e turísticas/veraneio; b) pressões sistemáticas das atividades econômicas regionais no intuito de conversão de ecossistemas naturais em ambientes antropogênicos; c) diminuição das coberturas vegetais nativas; d) ampliação do estresse hídrico regional, em função da ausência dos componentes bióticos pré-existentes. Na localidade Curral da Igreja, onde começa geograficamente a Baía de São Marcos (alto estuário do Rio Mearim), serão analisados empiricamente os elementos paisagísticos que atualmente condicionam à diminuição da intensidade e força de um fenômeno natural típico da Zona Costeira Amazônica, a pororoca.
Ao final da jornada de campo, serão levantadas discussões acerca da importância dos estudos dos espaços geográficos à luz da Biogeografia, enfocando os seguintes contextos:
a)       planejamento e ordenamento das atividades humanas locais e regionais;
b)       dinâmicas ambientais em áreas de susceptibilidade naturais à baixa resiliência frente aos impactos antropogênicos em curso;
c)       recomposição de elementos paisagísticos indispensáveis à proteção da biodiversidade, bem como das relações socioeconômicas locais e regionais.


4 DISCUSSÕES PÓS-TRABALHOS DE CAMPO

A partir dos conhecimentos adquiridos em sala de aula e em jornada de campo, sugere-se ao corpo discente que proceda às seguintes reflexões temáticas acerca dos elementos apresentados e discutidos:
a)       como a pesquisa científica nas áreas visitadas pode contribuir para a manutenção da integridade dos mosaicos de ecossistemas regionais, dispostos em duas regiões naturais tão distintas?
b)       as Educação para o Ambiente não é a única, nem a última, saída para a recuperação de espaços perturbados local e regionalmente pelas ações humanas. Contudo, como se poderá propor, com uma perspectiva pragmática, mudanças nas práticas socioeducativas para as questões ambientais regionais, enfocando as próprias características e problemas conjunturais dessas áreas visitadas? Como a Universidade pode se aliar a esse processo crítico, reflexivo e prático?
c)       existem políticas públicas em vigor que possam garantir a manutenção das condições ambientais das áreas visitadas? Caso positivo, quais são e por que não têm surtido os efeitos desejados?

REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, Aziz Nacib. Domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 4. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159 p.

_______. Ecossistemas do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2006. 300 p.
BERTALANFY, Ludwig von. Teoria geral dos sistemas. Petropólis: Vozes, 1973. 351 p.

BERTRAND, Georges. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Revista RA’E GA. Curitiba: Editora da UFPR, n. 8, 2004. p. 141-152.

DIAS, Luiz Jorge B. Reflexões sobre geomorfologia, distribuição de ecossistemas costeiros e uso e ocupação do solo. SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA (SINAGEO), 6, 2006. Goiânia. Anais... v. 02 (CD-ROM). Goiânia: UFG/Departamento de Geografia, 2006. 11 p. Disponível em: http://www.labogef.iesa.ufg.br/links/sinageo/aut/articles/290.pdf. Acesso em: 06.abr.2013.

_______. Necessidades de articulações de políticas públicas orientadas à Região das Matas de Cocais no Estado do Maranhão (Brasil). São Luís: SEMA-MA, 2008. 13 p. (inédito).

_______. Contexto biogeográfico regional das matas de cocais no Estado do Maranhão (Nordeste do Brasil). Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), 64, 2012. Anais... São Luís: UFMA, 2012. 02 p. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/64ra/resumos/resumos/8665.htm. Acesso em: 09.abr.2013.

MUNIZ, Francisca Helena. Estudos da estrutura e distribuição da vegetação no Maranhão. In: SILVA, Alessandro Costa da; BRINGEL, José Magno Martins. Projeto e ações em Biologia e Química. São Luís: UEMA, 2006. p. 99 – 117.

SANTOS, Antonio Carlos Gomes; CORRÊA, Maria Cláudia C.; DIAS, Luiz Jorge B. Impactos da silvicultura nos recursos naturais e nas comunidades rurais do município de Urbano Santos (MA). Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), 64, 2012. Anais... São Luís: UFMA, 2012. 02 p. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/64ra/resumos/resumos/8296.htm. Acesso em: 09.abr.2013.

SOCHAVA, Viktor B.. O estudo de geossistemas. Métodos em Questão, São Paulo: IGEO/USP, n. 16, 1977. 52 p.

TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977. 97 p.

VIADANA, Adler Guilherme. A teoria dos refúgios florestais aplicada ao Estado de São Paulo. Rio Claro: Edição do Autor, 2002. 71 p.

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