terça-feira, 27 de dezembro de 2011

REFLETINDO SOBRE CLIMATOLOGIA NUMA PERSPECTIVA ESPACIAL

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
luizjorgedias@ig.com.br

Drew (2002) afirma que os fenômenos naturais, tais como os ecológicos e humanos, são dinâmicos por natureza e definição. Os estudos sobre o clima devem obrigatoriamente desenvolver a prática da compreensão sistêmica dos fatos geocientíficos, que devem ser compreendidos tanto ao nível estatístico-preditivo, quanto dinâmicos (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).

Monteiro (2003, p. 12) reforça a idéia de que é necessário que sejam desenvolvidos estudos sobre a “[...] concepção dinâmica conduzida pelo paradigma do ritmo de sucessão habitual dos estados atmosféricos sobre os lugares [...]”. Dessa forma, o ritmo ao qual se refere o autor é uma condicionante para a explicação das causas do que se convencionou denominar de “imprevisibilidades”. É a sua análise quem irá definir como se processam as flutuações dos estados atmosféricos, bem como proporcionará a previsão mais adequada das condições de mudanças dos índices de precipitação, aumento ou diminuição da temperatura e umidade, bem como avanço ou retração de ecossistemas, regiões naturais e/ou domínios de natureza.

A análise rítmica em Climatologia é um condicionante indispensável para a compreensão dos espaços passíveis de planejamento, uma vez que a compreensão dos padrões climáticos e de suas variações são condições sine qua non do ordenamento territorial. Em outros termos, sem a compreensão dos ritmos climatológicos (ou climáticos) não há possibilidades reais concretas de se planejar adequadamente os diversos tipos de uso e ocupações humanas em áreas as mais heterogêneas possíveis.

Oliveira (2008) afirma que a compreensão e análise dos sistemas climáticos dependem, categoricamente, do entendimento da atmosfera, da hidrosfera, da criosfera, da superfície terrestre e das coberturas vegetais. Em conjunto, esses macro-elementos devem ser analisados em conjunto e, obviamente, tal sistema evolui ao longo do tempo, o que significa dizer que ele obtém ritmos (processos) homogêneos e heterogêneos, indicados por padrões de precipitação, de mudanças no albedo (ou reflectância da radiação solar dos diversos ambientes e formas), de aumento do calor ou da dissipação de energia calorífero, aumento ou diminuição de gases-estufa.

Para tal, obrigatoriamente necessitamos nos embasar em conceitos sólidos o suficiente para nos sustentar em termos de argumentações possíveis e viáveis. E os principais conceitos em Climatologia Geográfica devem ser pautados nas concepções clássicas acerca de “tempo” e “clima”, conforme seguem:
  • Tempo: “[...] estado médio da atmosfera numa dada porção de tempo e em determinado lugar [...]” (AYOADE, 2001, p. 02);
  • Clima: “[...] síntese do tempo em um dado lugar durante um período de aproximadamente 30 – 35 anos. O clima, portanto, refere-se às características da atmosfera inferidas de observações contínuas durante um longo período [...]” (AYOADE, 2001, p. 02);
Entretanto, novas concepções se inserem nas discussões atuais, as quais são bastante evidentes as análises dos componentes ambientais, em que o homem aparece como um “indutor” de mudanças. Para Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p. 15),

[...] a Climatologia constitui o estudo científico do clima. Ela trata dos padrões de comportamento da atmosfera em suas interações com as atividades humanas e com a superfície do Planeta durante um longo período de tempo. Esse conceito revela a ligação da Climatologia com a abordagem geográfica do espaço terrestre, pois ela se caracteriza em um campo do conhecimento no qual as relações entre a sociedade e a natureza configuram-se como pressupostos básicos para a compreensão das diferentes paisagens do Planeta e contribui para uma intervenção mais consciente na organização do espaço [...]

Segundo essa reflexão, podem ser caracterizados três pressupostos indispensáveis à compreensão geográfica dos climas:

  • Clima e atividades humanas: frente a tantas discussões disseminadas nos meios científicos e informacionais acerca da participação das atividades humanas nas mudanças ambientais (em que pesem as climáticas), é indispensável que nas reflexões teóricas e pragmáticas da Climatologia Contemporânea os tipos de climas e suas características sejam abordados em consonância com a compreensão das atividades humanas historicamente desenvolvidas, sustentando modos de produção diversos e como elas são ou podem ser consideradas climatogenéticas;
  • Clima, paisagens e espaços: é evidente que uma das principais funções das Geociências é a identificação de características físicas, ecológicas e humanas, que, em conjunto, apresentam a possibilidade de enquadramento de parcelas da Terra em áreas mais ou menos homogêneas, o que permite a classificação das tipologias de espaços geográficos. Quando se discute o problema das classificações das tipologias climáticas ou da cobertura vegetal de um espaço ou região, é aconselhável que se insiram dados/informações sobre os climas locais e regionais, para uma melhor identificação dos padrões de paisagens observados. Assim, as paisagens (ou seja, aquilo que é passível de se abarcar com a visão) e os espaços (as paisagens em movimento contínuo) dependem da Climatologia para serem reconhecidos e estudados em sua totalidade geocientífica;
  • Clima e organização do espaço: um dos principais trabalhos do profissional das Geociências é o de entender a organização atual e pretérita dos espaços e paisagens para poder elaborar cenários de uso e ocupação, por exemplo. Nesse sentido, existem (ou coexistem) em um mesmo local ou em uma mesma região organizações heterogêneas dos espaços geográficos, onde são superpostos os espaços humanos (sistemas urbanos, agroecossistemas) sobre os ecológicos (remanescentes de florestas ou de cerrados, por exemplo, na forma de enclaves vegetacionais) e sobre os naturais (em que são evidenciados as diferenças das formas de relevo, os tipos de rochas, as variações dos solos, dentre outros, os quais são – ou podem ser – respostas às atuações climáticas atuais ou anteriores ao presente). Assim, entender a organização dos espaços geográficos (e das paisagens) é analisar a integralidade dos componentes ambientais, com finalidade de proposição de alternativas aos usos e ocupações que não sejam coerentes com as suas características e potencialidades.

A Geografia, por ter campos bem discernidos de atuação (Geografia da Natureza, Geoecologia e Geografia Social), apresenta uma grande aceitabilidade da Climatologia enquanto disciplina correlata aos estudos espaciais, ao passo que fornece a ela um conjunto de análises particularizadas sobre a compreensão dos fatos espaciais integrados em um mesmo contexto. Ademais, a Climatologia permite à Geografia (uma Ciência Humana) um “diálogo” científico claro com as Ciências Exatas e Naturais.

REFERÊNCIAS

AYOADE, J.O.. Introdução à Climatologia para os trópicos. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 332 p.

DREW, David. Processos interativos homem – meio ambiente. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 206 p.

MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Teoria e clima urbano: um projeto e seus caminhos. In: MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo; MENDONÇA, Francisco. Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003. p. 09 – 67.

MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Inês Moresco. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. 206 p.

OLIVEIRA, Sonia Maria Barros de. Base científica para a compreensão do aquecimento global. In: VEIGA, José Eli da (org.). São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2008. p. 17 – 54.

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