terça-feira, 29 de setembro de 2009

Universitário não encontra o mesmo apoio que há na escola

LUISA ALCANTARA E SILVA
da Folha de S.Paulo
Uniforme, pais sendo chamados para conversar, sala da direção, vigilantes, sinal, boletim... Até o fim do ensino médio, os estudantes estão acostumados a ser controlados na escola e nos arredores dela. Mas, no próprio colegial --os últimos anos antes do ensino superior--, o clima já começa a mudar. As escolas tentam preparar seus alunos não só para o vestibular como também para a vida universitária. "Queremos que nossos alunos saiam do ensino médio sem medo do que virá", diz Lilio Alonso Paoliello, diretor de conteúdo do colégio Pueri Domus. Cada escola tem a sua metodologia. No Pueri Domus, por exemplo, os alunos do ensino médio devem ler textos mais complexos, de autores que não caem nos processos seletivos, mas de quem provavelmente o jovem vai ao menos ouvir falar dali para a frente.

Outra técnica são os seminários. "Eles ajudam os alunos a desenvolver a comunicação e são muito pedidos no ensino superior", afirma Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do ensino médio do Sion, onde o uso de uniforme é obrigatório até a viagem de formatura --nos últimos meses de aula, os alunos são liberados para ir com a roupa que quiserem, como acontece na graduação. "Mas um engano dos alunos que estão terminando o ensino médio é achar que quando estiverem na universidade tudo vai ser fantástico porque não terá ninguém cobrando nada", diz ela. "Depois que eles entram, voltam aqui [à escola] para dizer que sentem falta dos cuidados que tinham."

Independência
"Na universidade, os estudantes dependem mais deles mesmos", afirma Sueli Trevisan, coordenadora dos cursos de pedagogia e letras da universidade Anhembi Morumbi. "No ensino médio, há uma ponte enorme com os pais, que ficam sabendo dos problemas de seus filhos", diz ela. Não haverá mais esse controle, mas Sueli pondera: "Quem está para entrar na faculdade deve entender que lá o professor é um facilitador da aprendizagem, não é o único detentor do conhecimento, como é na escola."
Jurandyr Luciano Sanches Ross, chefe do departamento de geografia da USP, completa: "Na escola, o professor decide e o aluno faz. Na universidade, não é uma relação personalizada, paternalista". É pensando na sonhada liberdade com responsabilidade que a estudante Victoria Malta, 16, já se matriculou no cursinho. Começando o terceiro ano do ensino médio no Dante Alighieri, ela também fará Anglo a partir de maio, à tarde. Além disso, já suspendeu as aulas de inglês e de francês. "Não vejo a hora de entrar na faculdade", diz ela, que vai prestar direito. "A minha escola é muito rígida", diz. "Tem que usar uniforme e, se você for com um moletom com uma letra colorida, você não entra na aula." Victoria, que já visitou a faculdade de direito da USP, disse que adorou o clima de lá. "Acho que na faculdade vai ser tudo muito mais sossegado. Se você não quiser ir à aula, o problema é seu. Ninguém vai ligar para a sua casa para falar com os seus pais", diz ela. "Claro, tem que ter responsabilidade, mas não fica essa cobrança."
A caloura de Letras Letícia Santiago, 19, tem opinião parecida com a de Victoria. "Agora não é estudar só para passar de ano, é para a vida", diz ela. "Entrei no que eu sempre quis e agora vou fazer tudo pensando no meu futuro." Sueli Trevisan, da universidade Anhembi Morumbi, concorda. "A escola tem que ter dado condições para os alunos enfrentarem as novidades. A família também. Mas agora o voo é deles", afirma.
Texto publicado em 17/02/09 no endereço: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u505164.shtml. Acesso em: 29/09/09

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