terça-feira, 6 de outubro de 2009

Algumas especulações sobre as mortandades de peixes na Ilha do Maranhão

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I - Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Evidentemente, essas mortandades de peixes nos últimos 30 dias ao longo da orla e dos microssistemas estuarinos (zonas de misturas entre águas doces e salgados, correspondentes à desembocadura dos rios) são, no mínimo, intrigantes. Em primeiro lugar, não há uma causa em especial para isso, mas várias. Vamos a algumas delas:
1) Alta DBO X Baixo OD: quando um ambiente hídrico apresenta grande concentração de organismos (independente de serem uni ou pluricelulares), a Demanda Bioquímica por Oxigênio (DBO) tende a aumentar. Em contraposição, se não houver renovação de gases dissolvidos na água, as concentrações de compostos nitrogenosos (nitritos, nitratos, amônia e metano) podem aumentar, juntamente com a concentração de dióxido de carbono, diminuindo as taxas de Oxigênio Dissolvido (OD). A consequência pode ser a mortandade generalizada de cardumes de peixes, conjuntos de moluscos, crustáceos e outros organismos aquáticos.
2) Práticas pesqueiras inadequadas: geralmente associadas a hábitos pesqueiros "preguiçosos", como a "tapagem" (ato de serem barradas saídas de igarapés, em áreas de manguezais, para captura facilitada de pescados), ou mesmo a utilização de redes de zangaria (que tenta aprisionar cardumes inteiros de certos tipos de peixes). O uso de "timbó" (composto com alto potencial alucinógeno para peixes e mariscos e que é retirado de raízes tóxicas de uma leguminosa, a Piscidia erythrina), de uso comum no Maranhão e na Zona Costeira Norte Brasileira, é outra prática que pode concorrer para tipos similares de danos ambientais.
3) Esgotamento Sanitário: a concentração de compostos orgânicos em decomposição e em supensão em corpos hídricos que servem de receptáculo de esgotos domésticos, comerciais, industriais e de outros tipos, in natura, leva a uma explosão nas comunidades planctônicas decompositoras, aumentando a DBO e dimunuindo o OD, gerando um processo chamado eutrofização, ou seja, morte pelo excesso de vida. Isso causa uma forte odorização do ambiente hídrico que chega a passar os sulfetos e compostos nitrogenosos ao estágio de volatilização, tendo odor similar ao de "ovo podre". A isso são adicionados elementos inorgânicos, como cádmio e cobre (metais pesados), que ao entrarem nos organismos aquáticos, participam de seu metabolismo e causam danos cumulativos e muitas vezes irreversíveis a espécies, concorrendo para diminuição das concentrações de indivíduos.
Bom, ante o exposto, vamos aos fatos. É praticamente certeza que os peixes morreram por uma inserção de componentes diversos aos ambientes hídricos estuarinos. Se pararmos para pensar, todos os pontos "de mortandades de peixes", principalmente as sardinhas, estão próximos a estuários. Estes, por seu turno, são ambientes próprios para a reprodução de peixes costeiros, como as sardinhas, e servem para a sua proteção, em especial de predadores naturais. P.ex.: Em São José de Ribamar, o lócus de mortandade está situado na saída de um igarapé (ou canal de maré), correspondente a um pequeno estuário.
As praias do Meio/Olho D'Água e Araçagi estão situadas entre os microestuários do Uricutiua (situado próximo ao ponto final do ônibus Araçagi) e do Jaguarema (nas barreiras do Olho D'Água). Esses peixes vivem, ainda, em ambientes de pequena profundidade, o que concorre para que a hipótese de que a alta DBO associada à baixa quantidade de OD seja uma das mais plausíveis para explicar o caso. Isso deve ser somado à grande quantidade de esgotos sendo lançados nas bacias hidrográficas da Ilha, o que aumenta as chances de mortandade.
Ademais, a turbidez das águas pelos esgostos e partículas em suspensão diminui a zona fótica (ou seja, até onde a luz solar consegue penetrar) do ambiente hídrico, o que diminui o processo de fotossíntese e de consequente renovação dos gases, em especial o oxigênio, indispensável à vida. Tal tipo de conjunto de fatores ocorre constantemente em outros pontos da Ilha, como na Laguna da Jansen e no Lago do Bacanga. Este último terá essa predisposição diminuída em função da recuperação da Barragem do Bacanga, do monitoramento do cádmio das águas do Lago do Bacanga, com a melhoria dos sistemas de coleta de esgotos, bem como com a reurbanização de suas margens. Condições indispensáveis para o bom ordenamento das atividades humanas e para a manutenção do equilíbrio ecossistêmico.

Lula diz que Brasil não pode assumir meta de desmatamento zero

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que o Brasil não pode assumir uma meta de desmatamento zero, em declaração feita durante a cúpula entre Brasil e União Europeia, em Estocolmo, na Suécia. Durante a reunião, o plano brasileiro de reduzir o desmatamento em 80% até 2020 foi defendido como modelo para outros países com florestas tropicais.

Reuters
06/10 - 11:00, atualizada às 11:14 06/10 - BBC Brasil

Lula durante discurso na Suécia"Nem que fosse careca o Brasil pode assumir uma meta de desmatamento zero, porque sempre vai haver alguém que vai cortar alguma coisa. O que o Brasil está fazendo é algo muito revolucionário e muito forte", disse Lula, em resposta a uma reivindicação feita pela ONG Greenpeace, que realizou um protesto em frente ao local da cúpula.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e o primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, defenderam que o plano brasileiro de desmatamento seja adotado como modelo por outros países."O Brasil adotou um plano muito ambicioso em termos de desmatamento, que pode ser exemplo para outros países do mundo que também têm florestas tropicais", disse Barroso.Reinfeldt, por sua vez, recordou que o desmatamento é responsável por mais de 20% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Isso justifica a importância da iniciativa brasileira, que a União Europeia quer discutir durante a conferência sobre a mudança climática que as Nações Unidas (ONU) realizam em dezembro, em Copenhague, segundo o premiê sueco, cujo país exerce a presidência rotativa do bloco.Ao mesmo tempo, do lado de fora do Palácio Rosenbad, onde os líderes brasileiros e europeus se reuniam, manifestantes da organização ambientalista Greenpeace pediam a Lula que "salve o clima" assumindo um compromisso de acabar com todo o desmatamento no país até 2015.Responsabilidades
Na declaração dessa cúpula, Brasil e União Europeia defendem ainda que o acordo de Copenhague inclua metas de redução de emissões também para os países em desenvolvimento e ressaltam que os países mais ricos devem ajudar a financiar as medidas necessárias para atingir esses objetivos.Lula insistiu que, para combater de maneira eficiente a mudança climática, cada país deverá assumir em Copenhague compromissos correspondentes a suas responsabilidades nos níveis de emissões globais."Temos que chegar em Copenhague sabendo exatamente quanto cada país emite de gases de efeito estufa. Desde Guiné Bissau, que não deve emitir nada, até os Estados Unidos, para que cada um assuma a responsabilidade pelo mal que está causando", defendeu."O bom senso e a maturidade devem prevalecer na cabeça dos dirigentes. É preciso levar em conta que a China não pode pagar o mesmo preço que a Inglaterra, que começou a industrialização 200 anos atrás."

Lula também voltou a defender o papel dos biocombustíveis no combate à mudança climática. "Eu, se pudesse, levaria um carro a etanol lá para Copenhague e ficaria medindo quanto ele emite", disse.A declaração da cúpula reafirma o compromisso do Brasil e da União Europeia em "promover o uso de fontes de energia alternativas, incluindo a produção e uso de biocombustíveis sustentáveis".
Texto extraído do site:
Acesso em: 06/10/2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Baía de Guanabara através dos tempos

Muito já se escreveu sobre a baía de Guanabara, cada qual com sua óptica pessoal. A razão disso são seus cenários magníficos, com uma beleza inusitada, de ordem planetária.

por Aziz Nacib Ab`Sáber

Texto publicado na Revista Scientific American Brasil, edição 56 - Janeiro 2007.

Olhando pela janela de seu apartamento, um amigo dizia que nem a rainha da Inglaterra podia desfrutar da paisagem que ele via. Outro companheiro de luta e resistência, olhando para a retroterra das praias, onde se desdobram morros ocupados por favelas, comentava que era certamente "lá que morava a felicidade", sem poder avaliar, à época, a conseqüência e impactos que as imensas desigualdades sociais viriam a ter.Passados anos - meio século exato - quero contribuir para a recuperação do conhecimento acumulado, escrevendo uma pequena síntese sobre a história fisiográfica e vegetacional da Guanabara, em homenagem a amigos e companheiros que já se foram (José Veríssimo da Costa Pereira, Orlando Valverde, Jean Dresch e Jean Tricart).

Em primeiro lugar, é indispensável dizer que a região da Guanabara apresenta um quadro único para o conhecimento da fachada atlântica sudeste do Brasil. Sua origem remonta à separação do Brasil oriental em face da África ocidental. Uma distensão tectônica foi responsável pela criação de montanhas de blocos falhados, entre as escarpas da serra do Mar e os complexos maciços costeiros de feições majestosas, tais como o Corcovado, a serra da Carioca, o maciço de Niterói e os pontões rochosos que ladeiam a entrada da barra, culminando com o símbolo máximo representado pelo Pão de Açúcar.

Há também uma baixada colinosa entre a serra do Mar e os maciços serranos mais próximos da atual linha de costas. E, por fim, a própria baía de Guanabara, que adentra as áreas dos morros e colinas, desembocando por uma barra estreita, entre os paredões rochosos do Rio de Janeiro vis-à-vis os morros de Niterói. E, para complicar ainda mais, a existência de uma pequena bacia paleoceânica em Itaboraí, embutida nas terras baixas onduladas regionais. Afora depósitos de cascalho nos altos das colinas aplainadas do Plioceno.

Os conhecimentos disponíveis sobre as bacias tectônicas, existentes na plataforma continental do Brasil de sudeste, permitem-nos avaliar a amplitude e a complexidade da tectônica de blocos falhados ocorridos no Brasil de Sudeste, durante o período Cretáceo. Tudo leva a crer que antes da separação dos continentes, o setor afro-brasileiro de Gondwana era uma espécie de mega-abóbada rebaixada por longos processos erosivos, a qual foi fragmentada pela tectônica de placas, possibilitando a formação do oceano Atlântico.

Na atual área continental do Brasil de sudeste existem indicadores concretos da tectônica quebrável, reconhecida como montanhas de blocos falhados (block-mountains).Identicamente, no território fluminense - entorno da Guanabara - percebe-se todo um arranjo de blocos montanhosos e compartimentos tectônicos. Num entorno mais amplo, percebe-se a mudança de eixos das escarpas da Serra do Mar, desde os escarpamentos do litoral norte de São Paulo e sul do Rio de Janeiro, a borda norte do maciço da Bocaina, e o retorno da orientação SSW-NNE na chamada serra do Mar fluminense (Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo).

Um conjunto de escarpas com um maciço traçado em baioneta entre o litoral norte de São Paulo e sul fluminense, a borda transversal do maciço da Bocaina e o retorno direcional para a serra fluminense (de novo SSW-NNE). No ângulo norte da baioneta escarpada, a fragmentação tectônica bem marcada que deu origem à larga e colinosa Baixada Fluminense, tendo na frente oceânica a serra da Carioca, o Pão de Açúcar e os pontões serranos de Niterói.

Infelizmente, é impossível reconhecer os detalhes dos blocos falhados onde jazem os sedimentos da bacia de Campos e, separadamente, da bacia de Santos. A maior parte desses fatos foram reconhecidos e registrados cartograficamente no importante Mapa geomorfológico da Guanabara, do grande mestre Francis Ruellan (1944). Um trabalho extremamente detalhado, elaborado em cima de cartas topográficas convencionais, numa época em que ainda inexistiam imagens de radar ou de satélites. Transformar um mapa singelo em um verdadeiro mapa geomorfológico exigiu observações de campo ao longo de múltiplos itinerários, o que pode ser considerado uma verdadeira façanha técnico-científica.

Entrementes, Ruellan inseriu um acréscimo importantíssimo em seu estudo sobre a paleodrenagem subatual da Guanabara, ao noticiar para nós brasileiros, no início da década de 40, que, levando em conta os processos glacio-eustáticos, poderia se saber que o nível do mar esteve dezenas de metros abaixo de seu nível médio atual, no período do Pleistoceno Terminal. Daí se poder afirmar que existia toda uma bacia hidrográfica instalada na base da atual Guanabara, sendo que o antigo rio da Guanabara passava apertado entre o Pão de Açúcar e os pontões rochosos de Niterói. De onde se deduz que o nome Rio de Janeiro, cunhado pelos portugueses, tinha o vezo da intuição.

As flutuações radicais ocorridas entre o Pleistoceno Superior e o Recente são fundamentais para entender fatos relacionados à história fisiográfica da região costeira e à própria história vegetacional do território brasileiro. Convém lembrar sempre que no período Würm-IV Wisconsin Superior, o nível geral dos mares e oceanos estava 95 metros abaixo do atual. Para explicar esse fantástico rebaixamento é necessário saber que a partir de 22 mil anos A.P. (Antes do Presente), ocorreu um período glacial que se estendeu, com algumas irregularidades, até aproximadamente 12 mil anos atrás.

Alguns pesquisadores especializados afirmam que o máximo da dinâmica glacial aconteceu sobretudo entre 15 mil e 12.700 anos A.P. E de 12 mil até 6.000-5.500 anos aconteceu uma dissolução das grandiosas geleiras que estavam estocadas nas regiões polares, subpolares e altas montanhas. Denominamos retropicalização esse período fantástico de derretimento das antigas geleiras.

Não podendo meditar sobre o zoneamento paleoclimático que teria acontecido dos pólos ao equador, Louis de Agassiz, estudando os depósitos de piemonte nos Alpes, concluiu que esses depósitos documentaram um período de glaciação generalizada na superfície do planeta Terra: uma teoria dita panglacial. Estimulado a realizar viagens ao Brasil, acompanhado de excelentes discípulos (1864), Agassiz muito apressadamente identificou linhas de pedras abaixo dos solos vermelhos existentes nos barrancos dos morros da Guanabara e imediatamente as interpretou como fragmentos produzidos por geleiras cavalgantes. Imaginou que elas, ao escoarem pelas vertentes de morros e morretes, teriam fragmentado cabeças de diques de quartzo e arestas de rochas.

O fato básico é que o grande glaciologista, respeitado em todo o mundo cultural de sua época, observou bem e pioneiramente o ocorrer das linhas de pedras (stonelines), porém errou totalmente na interpretação geológica e geomorfogênica. Costuma-se dizer que um pesquisador tem de saber observar bem, ainda que se possam perdoar interpretações aproximadas ou incompletas. No caso de Agassiz, a conclusão apressada e errônea teve implicações científicas muito graves. Decorreu quase um século para substituí-la por concepções mais exatas e consistentes. Fato que aconteceu durante o importante Congresso Internacional de Geografia realizado no Rio de Janeiro em 1956, quando cientistas de diversas partes do mundo puderam realizar pesquisas de campo em várias regiões do território brasileiro.

Temos salientado a importância das interpretações de Jean Tricart e André de Cailleux a respeito da gênese dos chãos pedregosos representados pelas stonelines encontradas em diversas áreas do Brasil. O grande mestre Tricart dizia para seus eventuais alunos brasileiros que, na região semi-árida do Nordeste, ocorriam manchas de chão pedregoso ocupadas por caatingas arbustivas. E que as linhas de pedras encontradas no Brasil Atlântico seriam o resultado da expansão de climas semi-áridos em certos momentos do período Quaternário.

Depois de muitas pesquisas de campo nas mais diversas regiões do país, voltamos a pesquisar os morros do Rio de Janeiro e colinas da Baixada Fluminense, tendo a sorte de constatar relictos de cactos na base dos paredões rochosos nos arredores da Guanabara, além de mandacarus e xiquexiques em diversos pontos do Pão de Açúcar. Identicamente, em excelentes fotos tomadas por Marc Ferrez nos arredores do Rio de Janeiro, pode-se perceber que existiam relictos de cactos sob a forma de minirredutos em diversos patamares rochosos dos morros regionais. Do que decorre que hoje podemos melhor interpretar o cenário paleoecológico e fisiográfico da região vista em seu todo. E lembrando que entre Macaé e Cabo Frio existe o único setor de caatinga fora da região distante da core area do domínio semi-árido nordestino.

Por último, convém lembrar que o conjunto da Guanabara quando o mar se achava muito distante era um cenário típico das paisagens do Nordeste seco, cruzava colinas através de uma drenagem semi-embutida, passando por um boqueirão dos notáveis pontões rochosos do Pão de Açúcar e os do além-Rio, em Niterói. Se existissem povos pré-históricos provindos do sertão nordestino na época, eles estariam reconhecendo e vivendo numa região costeira dominada pela secura em um ambiente mais frio, com manchas de chão pedregoso e caatingas de diferentes tipos.

Texto disponível no site:
Acesso em: 01/10/2009.

Amazônia pode ficar 10ºC mais quente até 2060, diz estudo

Um aquecimento global de 4ºC deve ter consequências dramáticas para a América Latina e pode subir as temperaturas na região amazônica Estado de Minas

De O Estado de Minas

Um aquecimento global de 4ºC deve ter consequências dramáticas para a América Latina e pode subir as temperaturas na região amazônica entre 8ºC e 10ºC, o que levaria à destruição de grande parte da floresta, de acordo com um novo estudo do Departamento de Meteorologia britânico (Met Office). O cenário catastrófico pode se tornar realidade já em 2060 – quatro décadas antes do previsto pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

“Nas nossas melhores estimativas, um aquecimento global de 4ºC aconteceria na década de 2070. Mas em uma situação extrema plausível isso poderia acontecer em 2060”, disse à BBC Brasil o pesquisador Richard Betts, do Hadley Centre, a unidade do Met Office que estuda mudanças climáticas.

Os novos modelos climáticos computadorizados do Hadley Centre foram divulgados durante uma conferência na Universidade de Oxford e simulam situações em que altas emissões de dióxido de carbono são amplificadas pelo efeito de retroalimentação (feedback) dos ciclos de carbono.

Este é o nome dado por cientistas aos ciclos de absorção e liberação de carbono por florestas e oceanos. As simulações apresentadas em Oxford indicam que a Amazônia é uma das regiões que mais vai sofrer com o aquecimento global. No entanto, para o cientista José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um aquecimento global de 4ºC elevaria a temperatura na região amazônica em cerca de 5ºC. “Este tipo de acréscimo na temperatura já seria pior do que os cenários mais extremos do IPCC”, disse Marengo à BBC Brasil.

Nordeste

Segundo ele, outros modelos indicam que “a probabilidade de um aquecimento de 3,3ºC até 2100 é maior que 50% em um cenário de altas emissões”. José Marengo já aplicou uma versão do modelo climático desenvolvido pelo Hadley Centre sobre um cenário de altas emissões para investigar as conseqüências desse aquecimento global de 3,3ºC no Nordeste. O cientista do Inpe descobriu que o acréscimo seria ainda mais dramático na “região mais vulnerável às mudanças climáticas no Brasil, uma das mais vulneráveis da América do Sul”. O estudo de Marengo indica que até 2100 as chuvas no Nordeste seriam reduzidas entre 40% e 60% em comparação com os níveis atuais. Além disso, a duração média da temporada seca saltaria de 12 dias para 30 dias por ano, aumentando o risco de estiagens, e a área utilizável para plantações de grãos como arroz, feijão e soja também cairia significativamente.

Hidrelétricas

Marengo afirma estar particularmente preocupado com os impactos sobre a geração de energia hidrelétrica. Ele cita como exemplo disso a Bacia do Rio São Francisco, que deve registrar uma redução de cerca de 25% no volume d’água, o que afetaria severamente a produção de eletricidade da região. Além disso, o pesquisador do Inpe lembra que a densidade demográfica no Nordeste é muito maior do que na Amazônia. Os impactos das mudanças climáticas sobre pequenos produtores rurais levariam a movimentos migratórios.

O novo estudo do Hadley Centre mostra fortes variações na subida de temperatura e no regime de chuvas nas várias regiões do planeta. Na América Central, as consequências do aquecimento global são menos disputadas. “Deve ser registrada uma queda de pelo menos 20% no volume de chuvas lá, na hipótese de 4ºC”, afirmou Betts. Mais ao sul do continente, na região da Argentina, por exemplo, a previsão é de um aumento nas chuvas.

Caribe

Na conferência de Oxford, outros cientistas apresentaram estudos que indicam consequências graves para as regiões mais baixas da América Latina e do Caribe, na hipótese de um aquecimento de 4ºC. O cientista Stefan Rahmstorf, do Instituto de Potsdam, na Alemanha, afirmou que um aquecimento neste nível elevaria o nível do mar entre um metro e 1,3 metro até 2100 em relação aos níveis de 1990.

Os países mais ameaçados pela subida dos oceanos são Guiana, Suriname, Belize, Jamaica, Equador e o território da Guiana Francesa, além da Península de Yucatán, no México. O Met Office também apresentou mapas na conferência que mostram que grande parte dessas áreas já estão enfrentando a elevação do nível do mar. A comunidade científica concorda ser possível se preparar para enfrentar o problema porque a elevação acontece vagarosamente. No entanto, a combinação de ressacas, furacões de maior intensidade e a elevação do nível oceânico pode provocar problemas mais imediatos.

Desde o fim da década de 90, as emissões de gases do efeito estufa vêm ficando próximas às previsões mais extremadas do IPCC. No seu relatório de 2007, o IPCC afirma que, na pior das hipóteses, a temperatura global subiria 4ºC até o fim do século, caso a emissão de gases do efeito estufa continuasse a crescer, embora um aquecimento maior não tenha sido descartado. No mesmo relatório, o painel de cientistas convocado pelas Nações Unidas recomenda limitar o aquecimento global a 2ºC para evitar conseqüências “potencialmente dramáticas” das mudanças climáticas.
Extraído do endereço: http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=20919. Acesso em: 01/10/2009.