quarta-feira, 27 de maio de 2009

A CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE PAISAGENS E REGIÕES NA VISÃO DE MILTON SANTOS

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor Auxiliar I – Geografia Física (UEMA\CESI\DHG)

A proposta metodológica de Milton Santos presente em “O Trabalho do Geógrafo no Terceiro Mundo” (Editora HUCITEC, 1996) indica que cada local pode ser enquadrado em um complexo regional segundo suas orientações, vocações e/ou cenários socioeconômicos. Dessa maneira, necessariamente os espaços podem (e devem) ser classificados em categorias socioambientais e socioeconômicas. Seguindo essa orientação, foram apresentadas as seguintes classificações dos tipos de espaços do Oeste Maranhense, na Área de Influência Direta do Corredor Carajás – Ponta da Madeira:
  • Espaços Derivados, indicando que para “[...] cada necessidade imposta pelo sistema em vigor [corresponde à] criação de uma nova região ou a transformação das regiões já existentes [...]” (SANTOS, 1996, p. 104). Esse argumento implica afirmar que o estímulo real para elaboração deste trabalho se insere dentro deste contexto, ou seja, propor uma “derivação” da abrangência regional da região-programa em destaque;
  • Espaços Periféricos, que não significa necessariamente que o espaço seja marginalizado econômica, social e politicamente, pois a acepção original desse termo indicativo é realmente geométrico, ou seja, distância relativa ou absoluta dos centros regionais de decisão. Podem ser citados vários exemplos, como a situação intersticial de Buriticupu (MA) em comparado a Santa Inês e/ou Imperatriz. A articulação dos centros de decisão, pela lógica presente na Teoria dos Lugares Centrais (Christaller, 1933 apud CLARK, 1991), deve proporcionar a diminuição dos intervalos e falhas existentes nos processos de planejamento e avaliação de planos, programas e projetos, além de promoverem a aproximação efetiva entre os espaços de decisão e as localidades periféricas;
  • Espaços Abertos, caracterizando espaços em vias de planejamento e/ou ações socioeconômicas ativas, formando (ou reativando) novas frentes de expansão de atividades humanas, freqüentemente utilizadas para suprir as necessidades dos sistemas produtivos vigentes em certo tempo e espaço. Assim, podem ser citados como exemplos regionais os espaços devastados por extração de madeiras de forma ilegal em Arame, na Reserva Biológica (REBIO) do Gurupi (Oeste do Maranhão), as frentes de silvicultura de eucaliptos para suprir as necessidades das siderúrgicas no “Corredor dos Eucaliptos”, entre Imperatriz e Santa Luzia, dentre outros exemplos. Os espaços abertos devem ser bem assistidos pelo Estado, uma vez que tendem a ser dotados de atividades (e ativismos) sociais que levam, geralmente, a incrementos nos índices de criminalidade (crimes encomendados, como a “pistolagem”; crimes ambientais; trabalho escravo; aviltamento no preço da matéria-prima por coação de trabalhadores, dentre outros);
  • Espaços Seletivos, os quais caracterizam os espaços (pontuais, como cidades-pólo, centros urbanos mais evidentes regionalmente) dotados de maiores infra-estruturas, bens e serviços básicos orientados a suprir as necessidades cotidianas da população regional. Necessariamente são os centros econômicos e políticos de decisão, como são os casos de São Luís, Santa Inês e Imperatriz;
  • Espaços Descontínuos são os espaços “vazios” sucedidos por outros considerados “ocupados”. Em outros termos, são os locais onde são apresentadas ocupações humanas (aglomerados populacionais de pequeno, médio e/ou grande densidade), acompanhada por grandes áreas não ocupadas e/ou ocupadas de forma espaçada, rarefeita. Exemplos: Campo de Perizes, situado entre dois aglomerados urbanos, São Luís (de grande porte) e Perizes de Baixo (pequeno porte). Na verdade, a maioria dos espaços que serão propostos nos capítulos seguintes deste documento está enquadrada dentro deste conceito/caracterização;
  • Espaços Fracionados, que representam influências decisórias de múltiplos espaços de decisões socioeconômicas e/ou políticas. É o caso de Anajatuba, situado na porção Leste da Baixada Maranhense, que, embora esteja ligada a um grande centro consumidor (São Luís), dotado de infra-estruturas e serviços os mais diversos, sua economia está mais relacionada às necessidades do povoado Entroncamento (Itapecuru Mirim);
  • Espaços Não-integrados, os quais representam os espaços não abrangidos por políticas públicas inter-setoriais, em que pesem apenas o desenvolvimento de esforços governamentais paliativos, assistencialistas. Assim são considerados os povoados rurais no entorno da REBIO do Gurupi, das Terras Indígenas, bem como das concentrações humanas ribeirinhas da Baixada Maranhense (caso específico das populações que vivem às margens do sistema lacustre que envolve os municípios de Penalva, Cajari e Viana).

Mediante todas as informações salientadas, conclui-se que a classificação de Milton Santos orienta para o reconhecimento, dentro de uma região, das diferenciações que a mesma apresenta em virtude de suas heterogeneidades. Isso somente é possível a partir da caracterização dos espaços internos que a compõem, enfatizando os aspectos socioeconômicos, políticos e de infra-estruturas, bens e serviços disponíveis às populações locais/regionais. Entretanto, essa metodologia, embora abrangente, é considerada incompleta, pois não enquadra em seu contexto investigativos elementos geoambientais, o que implica afirmar que deve ser passível de complementos.

AOS MEUS LEITORES E MINHAS LEITORAS...

No intuito de fornecer aos meus leitores e minhas leitoras alguns trabalhos publicados por mim, com algumas co-autorias, que tiveram circulação restrita, apresento Resumo de Pesquisa apresentado na 57ª Reunião Anual da SBPC, em Fortaleza, julho de 2005. Este trabalho foi um esforço conjunto meu e de uma excelente aluna e colega e que demorou em torno de seis meses para a sua conclusão. Espero que gostem desse pequenino trabalho. Abraço a todos.

CONTRIBUIÇÕES À EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO GOLFÃO MARANHENSE DO PLEISTOCENO SUPERIOR AOS DIAS ATUAIS: SETOR ILHA DO MARANHÃO E ADJACÊNCIAS

KILZA FERNANDA SANTIAGO MORAES
Licenciada em Geografia (UFMA)

PROF. MSC. LUIZ JORGE DIAS
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas (UFMA)
Professor Auxiliar I – Geografia Física – UEMA\CESI\DHG


INTRODUÇÃO: Para se falar em Quaternário, convém dizer que o mesmo é o segundo período geológico da Era Cenozóica, tendo início há mais ou menos 1,8 M.A. É subdivido em duas épocas: o Pleistoceno, que varia de mais ou menos 1,8 M.A. a algo em torno de 12.700 A.P., onde se pontua o começo do Holoceno, que se desenvolve até os dias atuais.

As variações climáticas e morfológicas (derivadas das primeiras) quaternárias têm origem, em especial, nos fenômenos glaciais globais (ou glaciações) ocorridos durante este “breve” tempo geológico. Em se tratando de aspectos morfológicos, o que Penteado (1983), Christofoletti (1980, p. 142-146) e Ab’Sáber (2003a, p. 45) afirmam é que ocorreram flutuações significativas do nível do mar, a partir do início do Pleistoceno Superior (± 40.000 A.P.), caracterizando processos eustáticos ora transgressivos, ora regressivos, indicando diferenciações em dinâmicas de intemperismo, erosão e sedimentação (agradação ou progradação) da linha de costa, do litoral (in stricto sensu) e mesmo da própria plataforma continental.

Em vista das citadas dinâmicas ambientais ocorridas durante esse período geológico, verifica-se que há uma grande necessidade de se estudá-lo para que se possa entender as manifestações naturais no globo, em especial no que tange à configuração costeira e em todas as relações existentes neste fragmento do espaço regional. Em síntese, verifica-se que os estudos do Quaternário têm por objetivo a busca da compreensão da gênese e dos processos intrínsecos às dinâmicas ambientais atuais.

METODOLOGIA: O presente trabalho foi desenvolvido através de análise de referencial bibliográfico atinente ao tema de estudo. Ademais, foram procedidas visitas de reconhecimento dos processos geológicos e geomorfológicos atuantes na Ilha do Maranhão, em especial a sua franja costeira: praias de Ponta D’Areia, São Marcos, Calhau, Raposa (Baía de São Marcos), Panaquatira e Juçatuba (Baía de São José). Interpretou-se, ainda, cota DSG (1976) da Ilha do Maranhão.

RESULTADOS: Ab’Sáber (1960) foi um dos primeiros a observar e diagnosticar cientificamente a complexidade da evolução geomorfológica do Norte Maranhense, em especial do setor Golfão Maranhense e adjacências. Durante os ultmios 40.000 anos, o nível do mar, em função da glaciação de Wurm-Winsconsin, sofreu vários efeitos, ora regressivos, ora transgressivos, configurando, por diversas vezes linhas de costa, costas e litorais diversificados, denotando diversos aspectos morfológicos em um geologicamente curto intervalo temporal.

Foi justamente no último significativo episódio transgressivo, iniciado a partir de 12.700 anos A.P. (antes do presente) que as condições climáticas regionais passaram por grandes variações e as florestas perenifólias passaram a se expandir, migrando, inclusive para a porção continental que seria futuramente insulada, configurando a Ilha do Maranhão (este elemento analítico é confirmado pela presença de floresta perenifólia densa na Ilha, em especial em seus testemunhos biogeográficos presentes na Área de Proteção Ambiental do Bacanga (de porte amazônico, com vegetação mista). Ademais, há que se aportar ainda ao contexto de que todas as paisagens litorâneas e costeiras observadas na Ilha do Maranhão datam do Quaternário Superior (Formação Açuí), sendo de idade holocênica, onde se processaram variações consideravelmente abruptas de configuração geomorfológica, já que o nível dos mares no último episódio transgressivo se eleva de –100 metros a + 3,0 metros (isto entre 12.700 e 5.500 anos A.P.).

CONCLUSÕES: Foram diagnosticados outros efeitos geomorfológicos neste setor, como: o surgimento de faixas de restingas e campos de dunas, denotando em processos de agradação da linha de costa pelo acúmulo sedimentar, fato responsável, por exemplo, pela morfogênese da Ilha de Curupu, situada no município de Raposa (ao Norte da Ilha do Maranhão). Ocorreu, ainda, o afogamento dos cursos inferiores de rios e configuração da faixa litorânea da Ilha do Maranhão e do Golfão Maranhense (entre 5.500 anos e 2.500 anos A.P.), com suas principais feições morfológicas: igarapés; estuários; pontais rochosos; depósitos de tálus; acúmulo de rochas em declives abruptos e rochosos; falésias (pontos de grande altitude, em se tratando das médias do Golfão); planícies de marés lamosa e arenosa; praias; dunas; ambientes dominados por mangues, marismas e vegetação de restinga (em paleodunas); bancos e cordões arenosos; restingas; enseadas; baías; tabuleiros sedimentares e colinas dissecadas.

xxxxx
Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Evolução Geomorfológica; Golfão Maranhense; Ilha do Maranhão e Adjacências.

Texto extraído do site: http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/senior/RESUMOS/resumo_531.html.

INICIAÇÃO CIENTÍFICA E CONTEMPORANEIDADE À LUZ DAS GEOCIÊNCIAS


Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I – Geografia Física (UEMA\CESI\DHG)


O ser humano tem, como base de seu raciocínio e modus vivendi, quatro tipos de conhecimentos básicos, que constituem seu aparato lógico de conduta, segundo padrões derivados das relações sociais confrontadas em realidades nas quais as interações humanas estão imersas. Sua classificação se dá da seguinte forma: conhecimento empírico, vulgar; conhecimento científico; conhecimento filosófico; conhecimento teológico ou último.

Dentre estas vertentes de concepção de mundo, este trabalho tende a se ater ao conhecimento científico, que é, por natureza epistemológica, racional, objetivo, analítico. Ademais, tende à exatidão e à clareza, é comunicável, verificável; utiliza constantemente métodos investigativos na tentativa de se confirmar e/ou refutar hipóteses, além de ater-se aos fatos relativos ao seu objeto de estudo, “buscando” (dependendo dos casos de pesquisa) e aplicando leis (que estejam de acordo com o seu caráter explicativo), podendo, por este fato, fazer predições, além de ser aberto a novas contribuições, já que por natureza tende a transcender fatos, mesmo que diretamente venha a depender do pesquisador as suas formas de utilização pragmática (Galleano, 1986, p. 23-30). Portanto, há de se ressaltar que, para se iniciar em ciências, independente de qual ela venha a ser, há de se seguir as diretrizes básicas acima expostas, características científicas, condições sine qua non para a existência das ciências como um todo.

Antes de prosseguir na temática proposta, há de se colocar que todas as ciências necessitam, e isto é imprescindível, possuir objetivos fixos de/para estudo (tendo um certo posicionamento relativista e, ao mesmo passo, transdisciplinar, em função, logicamente, de uma formação – ou informações pretéritas), com metodologias de análise típicas, além de se terem norteadas as metas, ou linhas de pesquisa, a seguir para a realização dos trabalhos em um campo de ciências específico.

Tendo isso em vista disto, Demo (1987, p. 22-28) afirma que “a atividade básica da ciência é a pesquisa”, nada impedindo que se inter-relacione pesquisas com as atividades de docência, já que um é um subconjunto do outro, ainda mais atualmente, onde as relações entre um e outro se tornam cada vez mais factuais, ao mesmo passo que indissociáveis. Entre outras coisas, com suporte na mesma referência, há o diagnóstico de vários tipos de pesquisa, cada uma com suas particularidades, sendo elas: a) pesquisa teórica; b) pesquisa metodológica; c) pesquisa empírica; d) pesquisa prática. São estas linhas de investigação, que constantemente são interagentes entre si, os nortes, tanto para pesquisadores experientes, quanto para iniciantes no, ao mesmo passo árduo e prazeroso, processo de investigação científica da realidade.

O homem, como afirma Dias (2001), em seu trabalho sobre epistemologia do geoprocessamento, é um misto de ciência e técnica, que tem o espaço geográfico como o palco de relações as mais diversas de interferências e atuações diretas e indiretas sobre os diversos meios, sendo estes artificiais e/ou naturais. O mesmo autor, em conjunto com afirmações de Mendonça (1998), propõe a consideração analítica de variados aspectos dentro de uma pesquisa, num verdadeiro aparato teleológico, holístico, que serve de subsídio básico necessário para a boa conduta de uma investigação científica, especificamente no caso da Geografia.

Esta, por seu turno, absorve aspectos distintos, e ao mesmo passo clássicos, onde o meio social e o(s) ambiente(s) se misturam num aparato epistemológico único, singular, fazendo com que a Ciência Geográfica se destaque dentre todas as outras, embora se mostrando dicotômica, mas tendendo à análise integral de um objeto totalmente particularizado, sendo que ela passa a ser uma espécie de engenharia estrutural e funcional daquele (Santos, 1994).

Para se iniciar e mesmo se manter, na atualidade, em pesquisas científicas, o pesquisador necessita ter em mente que, para um melhor alcance qualitativo de análises, há de se levar em consideração o caráter transdisciplinar das pesquisas para a resolução de problemas específicos de um dado objeto, que são de caráter holístico em sua realidade.

A Geografia, como ciência do espaço, tende a buscar explicações as mais diversas para compreender seu objeto, em “processos ativos e reativos que ocorrem entre o indivíduo e o meio que levam a creditar num equilíbrio geo-social” (BOTELHO, 1996, p. 228), tendo, por e com isto, que se estender por outras ciências (como a Biogeografia, a Geologia, a Sociologia, a Antropologia, a Climatologia, a Geomorfologia, a Economia, a Hidrografia, dentre outras) para conceber e proceder analítica e pragmaticamente a concepção espaço-temporal de um determinado lócus, em função de seu planejamento consistente e integral.

Portanto, considerando comentários o de Coelho Netto (2002), por ocasião da abertura do IV Simpósio de Geomorfologia Ambiental, em São Luís (MA), citando Milton Santos, não se deve “bifurcar” a Geografia; já que o espaço é um só, a Geografia também é uma só. O problema da dicotomia na ciência geográfica acaba por ser empecilho para seu melhor e maior desenvolvimento enquanto ciência e enquanto profissão, algo que é condição de inserção de outros profissionais em áreas de atuação inerentes à formação espacial que é intrínseca ao geógrafo.

Em termos contemporâneos, deve-se frisar o aspecto econômico no desenvolvimento científico e tecnológico. Em outros termos, é a predisposição da iniciativa pública e/ou privada (esta principalmente) de subsidiar investimentos para o aprimoramento técnico e científico, pragmatizando mais o meio e, ao mesmo passo, gerando interesses peculiares acerca de necessidades de se obter informações consistentes para se melhor intervir de forma específica sob uma dada realidade. Esse é um processo interessante e cíclico, onde se produz ciência para obter informações para se conseguir avançar tecnicamente e onde se obtém aprimoramentos tecnológicos para subsidiar melhores aparatos metodológicos para se avançar no campo científico.

Isto faz com que se pontue de forma factual a presença do meio técnico-científico-informacional, “marca registrada” da contemporaneidade e das necessidades que esta traz em seu conjunto de idéias, sendo este meio um auto-regulador das produções científicas e econômicas, além de ser regulador de atores sociais e condição sine qua non para um embasamento mais lógico de exploração do ambiente; e este meio, o técnico-científico-informacional, é melhor trabalhado teoricamente por Santos (1994; 1996; 2001).

Quando da organização de seu trabalho, Guerra e Cunha (2001), juntamente com os co-autores do mesmo, propõem uma revisão de conceitos relativos às várias áreas do conhecimento geomorfológico, voltados logicamente para uma melhor compreensão dos fenômenos da ordem científica citada. Qual, neste caso, seria o intuito de tais autores? Analiticamente, pode-se considerar que sua preocupação básica seria a questão de mostrar, a priori, que as ciências precisam constantemente rever conceitos, afim de fazê-los não se transformarem em dogmas, mas em subsídios necessários para uma boa extensão do próprio conhecimento, e isto pode ser muito bem generalizado para outros campos da ciência.

Em segundo plano, pode-se dizer que há uma necessidade de aplicação de variados conhecimentos em campos diversos derivados de uma mesma ciência, e, portanto, complementares entre si, não apenas em seus pressupostos físicos, mas voltados para a (re) produção do espaço e de suas relações. É neste aspecto que novos campos de pesquisa se deveriam basear, inferindo, tanto nos cientistas em si, quanto nos iniciantes em ciências, neste caso em especial a geográfica, a necessidade de se obter padrões seguros conceituais para se poder obter novas formas e metodologias teórico-práticas para os avanços significativos em seu campo de atuação.

Sob tal aspecto, Ross (2001) afirma que há uma interdependência fatorial entre homem e meio, onde o ambiente se transforma e se torna constantemente base para ele mesmo, num verdadeiro mecanismo criado pelo homem sob o meio natural em função dele mesmo. A Geografia planeja em função de realidades espaço-temporais distintas e deve ser, epistemologicamente, atrelada às necessidades que estas mesmas realidades requerem. Eis um trabalho investigativo e intervencionista que cabe tanto a cientistas do espaço como um todo, quanto para iniciantes na “arte da pesquisa”.

É importante salientar neste trabalho a importância metodológica das pesquisas quantitativas e qualitativas. Objetivamente falando, ambas têm suas intrínsecas importâncias em seus campos de atuação. Porém, não se deve conceber, ao menos sob as necessidades que se criaram com o já citado meio técnico-científico-informacional, a tendência ao isolacionismo de uma ou outra metodologia de investigação, já que dados para se transformarem em informações precisam ser tratados, trabalhados de forma interpretativa, onde sempre, atualmente em quaisquer tipos de investigação científica (em busca de explicações sobre a realidade de quaisquer objetos), há de se aliar um tipo de metodologia à outra, já que a separação entre ambas acaba por levar a falácias científicas, tendenciosas em sua concepção ou não. Portanto, hoje é impossível se quantificar sem obter um resultado qualitativo de dados transformados em informações, além de ser incabível a especulação sobre melhorias qualitativas de um dado objeto sem que se atribua dados quantificados do mesmo.

Para finalizar, nada há de mais importante em termos de alguém se propor a enveredar-se pelos caminhos da investigação científica que se destinar a procurar identificar processos, compreendê-los e moldar formas teórico-pragmáticas a ponto de modificar qualitativamente realidades. É tarefa de todo iniciante em ciências se propor ser um agente de mudanças que podem ser as mais diversas, mas sempre se voltando para necessidades que tendem a serem resolvidas, a passos metodológicos a serem seguidos, a realizações que tendem a se fazerem presentes.


Referências

BOTELHO, Caio Lóssio. Reflexões monísticas sobre geografia e outros temas. Casa de José de Alencar / UFC: Fortaleza, 1996. 364 p.

COELHO NETTO, Ana Luíza. Geomorfologia aplicada à gestão de recursos naturais. Conferência de Abertura do IV SINAGEO. São Luís: UFMA, 31/10/2002.

DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2ª. Ed. São Paulo: Atlas, 1987. 118 p.

DIAS, Luiz Jorge Bezerra da Silva. A importância do geoprocessamento hoje: introdução às reflexões acerca das novas tecnologias cartográficas. Revista Nova Atenas de Educação Tecnológica, V. 04, Nº. 01. São Luís: CEFET-MA, jan-jun. Disponível em: http://www.cefet-ma.br/novaatenas/numero06/geoprocessamento.htm. Capturado em: 28/10/2002.

GALLEANO, A. Guilherme. A ciência e suas características. In: O método científico. 2ª. Ed. Haibra: São Paulo, 1986. pp. 23-31.

GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Maria da (org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2001. 472 p.

MENDONÇA, Francisco. Geografia Física: ciência humana?. 6. ed. São Paulo: Contexto, 1998, 72p.

ROSS, Jurandyr L.S. (org.). Geografia do Brasil. 4ª. Ed. São Paulo: EDUSP, 2001. 540 p.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. 4ª. Ed. São Paulo: HUCITEC, 1994. 125 p.

_____________. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

_____________. O Trabalho do geógrafo no terceiro mundo. 4ª. Ed. São Paulo: HUCITEC, 1996. 113 p.

sábado, 16 de maio de 2009

FORMAS DE RELEVO - PEQUENA REFLEXÃO GERAL


Uma das coisas mais notáveis em toda e qualquer paisagem é a presença do relevo como fator determinante e conceitual daquelo que podemos "abarcar com a visão". Somos impelidos a identificarmos a superfíce da Terra pelos seus "altos e baixos", embora nem sempre somos condicionados a identificar como o fator geomorfológico local ou regional pode ajudar na (des)configuração das paisagens culturais, ou seja, daquelas construídas pelo homem.
A identificação das formas de relevo é inerente às atividades humanas, provavelmente desde que este se constitui como espécie. A caracterização dos espaços "mais altos" e "mais baixo" partiu de pontos referenciais a cada observador e que, aos poucos (em alguns casos) ou rapidamente (em outros, foram sendo socializados enquanto informação indispensável à ocupação de espaços pelas diversas culturas/sociedades ao longo do tempo histórico, humano.
Montanhas, planaltos, planícies e depressões são apenas adjetivos clássicos para as paisagens imprimidas pelas marcantes ou suaves formas de relevo. Obviamente, existem várias (inúmeras) formas de concepção e conceituação dos fatos geomorfológicos, atribuídas por processos e materiais constituintes. Entretanto, as denominações servem para ajudar na diferenciação de formas e impressionam por demonstrar não apenas uma capacidade que nos é inerente, que é a de denominar coisas, fatos, fenômenos, mas a capacidade que os agentes naturais (em especial) conseguiram transformar continuamente durante milhares ou milhões de anos, gerando formas diversas, às vezes em espaços bem próximos entre si. Voltaremos a este assunto mais tarde...

PEQUENA CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DE ANAJATUBA (MA)

Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas (UFMA)
Professor Auxiliar I – Geografia Física (UEMA\CESI\DHG)


No Brasil, durante o período conhecido como Colonial, a população de imigrantes europeus, de ascendência luso-açorianos, se distribui pelas zonas costeiras brasileiras, de forma bem orientada, visando a interiorização da ocupação e a “conquista” de novos espaços para a Coroa Portuguesa. Esse encaminhamento de fluxos migratórios foi complementado por direcionamentos pelo interior, contemporâneo ao primeiro, pela necessidade de se buscar ouro e pedras preciosas e, a posteriori, pela procura de vastos espaços dotados de características próprias para a pecuária bovina extensiva, os quais foram estabelecidos tanto nos domínios dos cerrados, quanto nas depressões inter-montanas do Brasil Central e nos campos pastejáveis das paisagens de transição, caso esse da Baixada Maranhense.

O elemento homem é considerado importante por ser o principal agente modificador das paisagens, aquele que causa e potencializa danos aos demais componentes ambientais, que, muitas vezes, dependendo da disponibilidade de capital e tecnologia, tendem a ser irreversíveis. Dentro de uma proposta de Zoneamento Ambiental, a importância desse agente transformador se maximiza, haja vista a necessidade de se reconhecer como a sua população se distribui em uma área (município de Anajatuba, no caso), levando-se em consideração o perfil evolutivo da mesma, num universo temporal de, no mínimo, 30 anos. Mas sobre o seu histórico, será enfocada, sucintamente, uma abordagem que vem do século XVIII à atualidade.

Dessa forma, categoricamente se pode afirmar que a história social (ou humana) “colonizadora” de Anajatuba está vinculada às duas correntes migratórias: uma relacionada à ocupação proveniente do litoral (leia-se: advinda da Ilha do Maranhão – São Luís) e a outra oriunda do Brasil Central, em que pesa a corrente provinda da Minas Gerais e Goiás. Embora a primeira corrente desenvolveu-se ainda no Período Colonial, foi apenas no início do século XX que se manifestou de forma mais aguda a ocupação espacial estabelecida pelo gado, tendo picos entre as décadas de 1930 e 1950 (OLIVEIRA, 2005), embora os “pioneiros” luso-açorianos tenham se dedicado à pecuária, mas sem grande expressividade até a época citada, com atividade econômica principal ficando ao cargo da produção açucareira, com mão-de-obra indígena, substituída aos poucos pela negra (IBGE, 1959).

Entretanto, cabe-se uma breve ressalva: a ocupação de Anajatuba ainda não foi elucidada, pois não se sabe ao certo quando se estabeleceram aos primeiros agrupamentos humanos na região, sendo esses tupis ou não. Ademais, sabe-se que esses índios citados foram os habitantes presentes naquela localidade na chegada dos “pioneiros colonizadores” de ascendência luso-açoriana, isso em meados do século XVIII, em que pesa a chegada de jesuítas. Pela Lei Provincial nº 359, de 22 de julho de 1854, Anajatuba foi elevada à categoria de vila e freguesia (Vila de Santa Maria de Anajatuba), tendo sido desmembrado de Itapecuru – Mirim pela mesma Lei. Somente em 1938 foi elevada à categoria de cidade (IBGE, 1959).

No ano de 1940, portanto, Egler (1951) afirma que Anajatuba é pela primeira vez recenseada como município de fato e de direito, mas o mesmo não revela qual o quantitativo populacional daquele, apenas informa que há dois “distritos censitários”: Anajatuba (ou sede) e Gabarras (zona rural). Esse último, por sua vez, correspondia a um local com potencialidade econômica expressiva dentro do município: o Porto de Gabarras, que ao lado do Porto de Casinha, faziam o embarque de mercadorias para São Luís e de outras cidades costeiras do estado, em que circulavam, sobretudo, o gado bovino, derivados da cana-de-açúcar e o arroz.

Destaca-se, pois, que ambos terminais marítimos hoje não mais existem, como também a atividade açucareira, concorrendo, pois, para a desestabilização e desarticulação da economia local, levando-se mesmo à estagnação e dependência financeira absolutamente externa, algo já previsto por Egler (1951) e Galvão (1955), quando se falava da vinculação de Anajatuba à área de influência socioeconômica direta estabelecida pela capital maranhense.

Voltando ao trajeto da corrente migratória ligada ao gado bovino, lembra-se que o mesmo, durante as décadas de 1930 a 1950, era feita a partir do ato de se “tocar o gado” de Minas Gerais (Uberaba, Uberlândia e Montes Claros) para as “paragens” maranhenses, serviço este que era realizado a cavalo pelos estados de Minas, Goiás, prosseguindo pelo vale do Tocantins, passando aos vales do Mearim e/ou Grajaú até chegar em Anajatuba (OLIVEIRA, 2005). Com a chegada dos búfalos, década de 1960, houve uma relativa paralisação dessa atividade e do fluxo populacional humano a ele ligado.

A economia se centrou (como ainda se centra) na bovinocultura e na bubalinocultura, com o desenvolvimento expressivo da suinocultura, de forma não muito atrelada às duas outras formas de pecuária, mas, da mesma forma, os indivíduos eram (e o são) criados soltos nos campos, sem controle, nem atenção para as mazelas que a pecuária extensiva de subsistência proporcionam, como a disseminação de patologias, a dificuldade de se manter um controle populacional, além de impossibilidade de se estabelecer quais são os insumos alimentares necessários para se maximizar a produção e a produtividade dessas culturas, tendo em vista tanto o mercado local, quanto a inserção de Anajatuba na economia regional e mesmo estadual.

Referências


EGLER, Eugênia Gonçalves. Distribuição da população no estado do Maranhão em 1940. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v. 13, n. 01, jan./mar. 1951. p. 71-84.

GALVÃO, Roberto. Introdução ao conhecimento da área maranhense abrangida pelo Plano de Valorização Econômica da Amazônia. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v. 17, n. 03, jul./set. 1955. p. 03-63.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Vol. XV. Rio de Janeiro: IBGE, 1959.

OLIVEIRA, Francisco. Os tesos de Anajatuba. Comunicação pessoal. Anajatuba: 30/10/2005.